Quando Paul McCartney Encarou a Lei no Japão
- Marcello Almeida

- 16 de ago.
- 2 min de leitura
O episódio japonês é mais que uma anedota de turnê

O mundo da música, em 1980, parou por um instante. Paul McCartney, ex-Beatle, compositor de hinos que marcaram gerações, foi preso no Japão. Motivo? Maconha. Uma quantidade que, na bagagem de qualquer outro, poderia parecer trivial, mas que no país da tolerância zero virou notícia e tensão.
A carreira solo de McCartney já tinha sua própria trajetória, distinta dos Beatles, mas sempre marcada por ousadia e curiosidade. Durante uma turnê com os Wings, ao desembarcar em Tóquio, ele foi parado na alfândega: cerca de 226 gramas de maconha foram encontradas em sua bagagem. No Japão, o peso disso poderia significar até sete anos de prisão. McCartney passou nove dias atrás das grades, em uma prisão que, segundo relatos, mais parecia uma cápsula de silêncio e burocracia do que um palco para rebeldia.
Ele alegou uso pessoal. Sem comércio, sem tráfico. Ainda assim, a gravidade do episódio marcou sua carreira solo e acrescentou um capítulo controverso à sua imagem pública. Ao final, foi deportado, liberado do pior que poderia acontecer.
Anos depois, McCartney lembraria do episódio com ironia. Em 2004, contou que levara a maconha consigo porque sabia que seria impossível encontrar algo para fumar no Japão — e que a qualidade da droga era boa demais para ser descartada. Disse ainda que o policial que o deteve parecia mais constrangido do que ele. A vida, às vezes, se equilibra entre o absurdo e a normalidade.
A relação de McCartney com a maconha vem dos anos 60, quando os Beatles, apresentados à substância por Bob Dylan, encontraram nela um impulso criativo. Músicas como Got To Get You Into My Life ou Lucy in the Sky with Diamonds carregam, discretamente, essas influências. E a história não termina em 1980: encontros com a lei pela mesma razão se repetiram, na Suécia em 1972 e em Barbados, 1984. Mas o tempo muda o hábito. Hoje, McCartney prefere vinho ou uma margarita, preocupado em não dar mau exemplo aos netos, mantendo a rebeldia no passado, mas a memória intacta.
O episódio japonês é mais que uma anedota de turnê. É a prova de que, mesmo alguém que já tocou o céu com os Beatles, poderia tropeçar em regras terrenas, enfrentar o absurdo da lei e voltar ao mundo, intacto — e ainda assim, com histórias para contar.















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