Quando o Nirvana quase não sobreviveu ao próprio show
- Marcello Almeida

- 16 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de ago.
Um show que não era pra acontecer. Mas aconteceu. E mudou tudo

Era pra dar errado. Quase deu. O Nirvana no Reading Festival de 92 foi mais sobrevivência do que celebração. Meses antes, a banda tinha implodido — ou quase. Kurt perdido entre drogas, reabilitação, o nascimento de Frances Bean, manchetes cruéis, Courtney Love na linha de tiro. Dave Grohl confessou depois: tinham ensaiado só uma vez, na véspera, e foi ruim. Tão ruim que ele achou que seria o fim. O fim do Nirvana.
E aí vem o palco. A cadeira de rodas. A peruca, o avental cirúrgico. A ironia como resposta. Kurt zombando da própria desgraça, da imprensa, de si mesmo. O público sem saber se ria, se chorava, se acreditava no que via. Ele começa com um pedaço de The Rose, de Bette Midler, e simula um desmaio. Silêncio. Suspense. A dúvida se ele aguentaria. Até que explode em Breed. Aquele som sujo, urgente, um soco na boca do estômago.
Foram 25 músicas. Vinte e cinco. Passando por Nevermind, Bleach, antecipando até faixas que viriam em In Utero. Cada nota parecia uma declaração: caos, dor, ironia e sinceridade. Kurt se debatia no palco, Krist Novoselic quase desaparecia atrás do baixo, Dave Grohl batia na bateria como se fosse derrubar tudo. O público? Uma massa que pulava, gritava, sentia cada estalo da guitarra, cada raspada da bateria, cada palavra de Kurt, mesmo sem entender direito se aquilo era fúria ou desespero.
No meio da apresentação, as piadas. Cobain fala que é o último show. Krist e Grohl corrigem, lembram turnê, gravação. Brincadeira ou aviso? Quem sabe. O que ficou foi a sensação de que aquela noite curou a banda por um tempo, como o próprio Grohl disse. Kurt ainda tinha seu humor ácido, sua voz que podia ser suave e depois rasgar como vidro. Ele era vulnerável, mas parecia invencível.
E o legado? Ainda hoje, mais de três décadas depois, o Reading de 92 continua sendo o retrato cru do Nirvana no auge. Não só do sucesso, mas do caos, da ironia, da energia que só eles conseguiam gerar. Um show que não era pra acontecer. Mas aconteceu. E mudou tudo.















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