top of page

Quando o sangue pulsa, o sexo vibra e a magia entorpece: Blood Sugar Sex Magik é um feitiço sujo, funkado e divino

Mais que um disco, Blood Sugar Sex Magik é um feitiço suado de groove, dor, luxúria e redenção — o Red Hot Chili Peppers incendiando o mundo a partir de suas próprias cinzas

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Tem discos que escorrem. Blood Sugar Sex Magik não é só ouvido — é sentido na pele, no quadril, nos ossos que estalam quando o corpo pede mais. É suor grudando no vinil, saliva no microfone, cheiro de espírito animal trancado num estúdio encantado por Rick Rubin. Aqui, o Red Hot Chili Peppers finalmente encontra a encruzilhada entre a fúria e a flor, entre o instinto e o sublime.



É 1991. Ano sagrado do rock. Um campo minado de clássicos, mas ninguém soava como isso. Nenhum outro disco dava tesão e tristeza na mesma mordida. Porque Blood Sugar é isso: uma explosão hormonal que se masturba com groove e chora no canto do quarto depois do orgasmo.


Anthony Kiedis geme, sussurra, cospe. Não canta — ele ejacula palavras. Um poeta de rua, malandro da alma, que traduz desejo em língua quente. “Give It Away” é mantra e provocação. “Suck my kiss” é reza pagã. “Under the Bridge” é lágrima que escorre entre os dentes, confissão de um exílio urbano onde nem o amor consegue entrar. Aquela ponte de concreto virou catedral emocional. Uma das baladas mais doloridas dos anos 90 — porque ali, pela primeira vez, o Chili sangrava sem esconder.



Flea é o motor do caos. Seu baixo é víscera viva, mastigando funk, punk, dub, jazz, tribalismo carnal. Frusciante, no auge do delírio criativo, dedilha como quem abre portais: riffs que dançam, choram e riem ao mesmo tempo. Há algo de místico em sua entrega. Ele não toca, ele se oferece.



E Chad Smith segura a bronca como um xamã com baquetas: preciso, suado, hipnótico. Quatro forças da natureza, trancadas numa mansão mal-assombrada, gravando com velas acesas, sem camisa e sem freio — como se cada take fosse um ritual de invocação.


Blood Sugar Sex Magik é um disco que fede a humanidade. Queima as mãos, morde os ouvidos. Mas, no meio da selvageria, tem ternura. Tem uma espécie de amor errante, cambaleante, suado. Um amor que dança com o pecado. Um amor que entende que somos carne, mas buscamos céu.



O disco é uma ferida aberta, mas não infecciona. Ele cicatriza com batida. Cura com groove. É sexo tântrico com distorção. É espiritualidade na sarjeta. É funkadelic envenenado com pimenta californiana. É arte que goza.


Trinta e quatro anos depois, ainda soa vivo, molhado, quente. Um corpo que nunca esfriou. Uma explosão que ecoa. Um feitiço eterno, tatuado na pele da música.

Comments


bottom of page