Psychonauts 2: quando uma sequência precisa chegar até nós, não importa o tempo que leve
- Eduardo Salvalaio

- 6 de out.
- 4 min de leitura
Psychonauts 2 é uma jornada humorada e surreal que traz boa influência de jogos do passado

Tim Schaffer é um designer de jogos com muitas ideias inusitadas na cabeça. Daqueles profissionais que não tem medo de ousar e de sair do comum. Capaz de criar um tipo de arte que não será aceita por muitas pessoas, mas que certamente ficará intocável no tempo.
Ele fundou a Double Fine Productions que trouxe jogos memoráveis e até hoje comentados pelo público gamer como Grim Fandango, Brutal Legend e Broken Age. Psychonauts veio em 2005 para PS2 e Xbox trazendo irreverência e certa originalidade, apesar de o jogo não ter sido bem compreendido e ter vendido pouco para a Majesco (empresa que o publicou).
No jogo, controlamos Razputin, um jovem que deseja integrar o grupo dos Psiconautas. Os integrantes desse grupo conseguem entrar na mente das pessoas e investigar suas memórias para decifrar casos e mistérios intrincados. Por conta disso, o jogo explora visuais bem únicos e imaginativos com muita psicodelia, humor e cenas atípicas.
O desejo de lançar uma sequência veio logo, apesar de algumas dificuldades que surgiram e de vários problemas em relação aos direitos do jogo entre empresas. Uma longa e complicada história que fica bem explicada aqui.
Mesmo assim, a Double Fine (que depois seria comprada pela Microsoft) voltou a se envolver com o jogo e a sequência então é anunciada para 2019 no The Game Awards 2015. Em contrapartida, mais dois anos foram necessários para a conclusão do jogo.

Novamente controlamos Razputin que agora precisa investigar e obter pistas a respeito do sequestro do líder dos Psiconautas. Entraremos nas mentes bem insanas de diversos personagens usando habilidades já conhecidas de antes, assim como novas adições como a Conexão Mental que funciona como uma espécie de gancho. Essa invasão mental continua sendo o charme em Psychonauts 2.
Os produtores extrapolaram numa inventiva, rica e até bizarra criação de fases. Vamos conduzir uma bola de boliche por lugares altos e apertados, livros de uma biblioteca servirão de escada para nossa jornada, escalaremos dentes gigantes e instrumentos odontológicos, até mesmo passaremos por piolhos que podem atrapalhar nosso percurso.
Uma das fases mais interessantes envolve um cubo. Precisamos adquirir um montante em dinheiro, mas para isso, é preciso entrar em cada face do cubo enfrentando desafios divertidos e inusitados. Cada face representa um setor de hospital como maternidade, radiologia e farmácia. Algo que dificilmente o jogador fã do gênero esquecerá.
Entretanto, o jogo também oferece missões secundárias e quatro cenários com mundo aberto. Podemos explorar a vontade cada canto, sobretudo porque encontrar cartas e itens que aumentam nosso nível é essencial para os chefes que virão até o final do jogo. Ganhando habilidades também nos ajuda a alcançar cantos e lugares que até então pareciam escondidos.
O jogo permite revisitar as fases para coletar itens que deixamos passar ou não podíamos. Figments (as tais figurinhas coloridas típicas do primeiro jogo), bolsas que precisam de suas respectivas fases, itens que aumentam nosso nível e cofres garantem uma exploração maior sobretudo para quem é ávido por 100% no jogo ou almeja platinar. Psychonauts 2 é o tipo de jogo que tem muito para coletar e que esconde até mesmo uma passagem ou porta escondida ao redor de seus cenários.
Espere por alguns combates frenéticos. Um dos poderes que temos, o Psi-Blast, age como uma pistola que liquida muitos inimigos pelo caminho. Entretanto, alguns inimigos exigem uma estratégia maior. Para alguns, é preciso usar o poder da telecinese para que possamos retirar a arma dele e golpeá-lo contra ele mesmo. Outros só podem ser eliminados com o poder da pirocinese.
Os comandos são bem simples, fáceis de aprender e seguem a rotina de quem joga Aventura/Plataforma 3D desde os áureos tempos de PS1/PS2/Xbox (jogos como Gex Enter The Gecko e Spyro The Dragon, por exemplo). As habilidades podem ser mapeadas conforme nossa preferência.

Também podemos comprar alfinetes (pins) que oferecem bônus como mais descontos nas máquinas de vendas, aumentar o poder de algumas habilidades, adquirir mais psitaniuns (a moeda do jogo) e muito mais. Podemos equipar até 3 alfinetes ao mesmo tempo, então cabe ao jogador decidir quais seus preferidos.
O jogo continua afiado em seu humor, nas referências e paródias aos aspectos culturais da sociedade. Também não perdeu seu contorno psicodélico e algumas fases são bem delineadas sob esse aspecto. Entretanto, os diretores ainda conseguem tratar de temas tão relevantes em nossos tempos como depressão, solidão, alcoolismo, traumas e a própria saúde mental.
A versão testada foi a de PS4. O jogo não apresentou crashes e nem travamentos. Os loadings podem irritar um pouco, por sorte nem precisamos fazer muitas viagens rápidas durante a jogatina. Os coletáveis também não são complicados de obter e depois de terminar o jogo, podemos comprar uma câmera que nos possibilita enxergar tudo que deixamos para trás.
Psychonauts 2 é uma jornada humorada e surreal que traz boa influência de jogos do passado. Uma sequência que faz jus ao primeiro jogo e que demonstra que Psychonauts é um nome que precisa ir muito mais além, precisa abraçar com vontade a nova geração de consoles. Sem brigas de empresas e apenas oferecendo ao jogador o que ele precisa: bons jogos como esse.
















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