Ozzy Osbourne: o homem que transformou o caos em eternidade
- Marcello Almeida

- 6 de ago.
- 2 min de leitura
“Preciso me despedir do palco que amei por toda a minha vida. O rock and roll nunca morrerá.”

Poucas figuras carregaram o peso e a glória do rock como Ozzy Osbourne. Não apenas viveu a música – ele a devorou, com todas as consequências que isso trouxe. Seu último suspiro artístico foi também seu último ato: um show histórico em Birmingham, a cidade onde tudo começou. Chamaram de Back To The Beginning. Não poderia haver título mais certeiro para quem encerrou a vida no mesmo chão onde ergueu um império de riffs, gritos e sombras.
Sem Ozzy, talvez o metal nunca tivesse nascido. Foi ele quem abriu a porta para a escuridão, com aquele vocal de agonia quase profética em Black Sabbath, no início dos anos 70. A partir dali, tudo mudou. O mundo ouviu algo que não existia antes – e nunca seria o mesmo depois. A avalanche que começou com o Sabbath moldou o DNA de bandas como Metallica, Slayer, Pantera, Ghost. Todos beberam daquela fonte. Todos, de alguma forma, tentaram decifrar a fúria e a estranha ternura escondida no caos de Ozzy.
Mas o que fazia dele tão único não era apenas a música. Era o homem. Era a mistura improvável entre o garoto disléxico de Aston, que cresceu em meio à ferrugem e ao concreto, e o astro colossal que mordeu a cabeça de um morcego diante do mundo. Ozzy sempre oscilou entre esses extremos: vulnerável e indomável, cômico e trágico, humano e mito.

Quando o Sabbath implodiu em 1979 e todos apostaram no seu fim, Ozzy devolveu com um grito mais alto: Blizzard of Ozz (1980). Um renascimento brutal que provou que ele não precisava de salvação – ele era a própria tempestade. Vieram clássicos, vieram excessos, vieram quedas. E, ainda assim, ele nunca desapareceu. Criou um festival que virou casa para gerações – o Ozzfest. Ajudou a abrir portas para nomes que hoje são gigantes, de Slipknot a System of a Down. Reinventou-se na TV, virou ícone pop, meme, caricatura de si mesmo. Mas no fundo, era sempre Ozzy: um homem que nunca deixou de amar o palco.
Esse amor custou caro. Décadas de drogas, cirurgias, Parkinson. Um corpo frágil que insistia em carregar uma alma elétrica. Ele não parou enquanto pôde. Nem quando doía. E quando finalmente parou, foi com dignidade: doando cada centavo do show derradeiro para pesquisa da doença que o consumia. Naquele dia, escreveu sua última nota: “Preciso me despedir do palco que amei por toda a minha vida. O rock and roll nunca morrerá.”
Ozzy morreu, mas não partiu. Porque lendas não partem. Elas permanecem, como o sino no início de Black Sabbath. Um som que atravessa gerações, anunciando que a escuridão também pode ser arte – e que, no centro dela, havia um homem sorrindo com dentes afiados, dizendo que o impossível é só uma palavra sem guitarra.















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