Os Vourdalak reúne o sombrio, o gótico e o estranhamente divertido em torno da mitologia vampírica
- Eduardo Salvalaio
- há 21 horas
- 3 min de leitura
Os Vourdalak é um filme interessante e mais um que mostra como o universo dos vampiros ainda pode ser bastante explorado

A mitologia dos vampiros está longe de ficar ausente dos cinemas. Mesmo na contemporaneidade, a célebre e antiga figura sugadora de sangue não sai de cena e continua rendendo produções, embora muitas vezes o personagem traga certos exageros e características distintas de suas origens.
Muito antes de Drácula de Bram Stoker que foi escrito em 1897, o russo Aleksei Tolstói havia escrito A Família dos Vourdalak (La Famille du Vourdalak). O conto gótico de Tolstói, embora escrito originalmente na língua francesa em 1839, só foi publicado para a língua russa em 1884.
O diretor francês Adrien Beau em sua estreia nos longas-metragens traz para as telas a obra literária de Tolstói. Em Os Vourdalak (Le Vourdalak, 2023), ele reproduz uma atmosfera que captura bem a essência do folclore eslavo e de uma novela gótica bem estrutura para os dias atuais, apesar de seu toque rudimentar e de ser uma produção com baixo orçamento.
No filme, acompanhamos o Marquês Jacques Antoine Saturnin d'Urfé (Kacey Mottet Klein) que, além de ter sua escolta morta e dizimada pelos turcos, também está perdido numa floresta e acaba encontrando refúgio numa casa de uma família estranha.
A paisagem sombria da floresta assusta nosso personagem. Barulhos estranhos, cruzes espalhadas pelo terreno, uma mulher dançando entre as árvores. Entretanto, mal sabe o querido Marquês que as coisas começarão a se complicar quando Gorcha, o patriarca da família, retorna após muito tempo fora de casa.
Numa cena que mistura tanto perplexidade como comicidade, vemos agora Gorcha praticamente numa forma cadavérica trazendo a cabeça decepada do líder dos turcos. A família reunida numa mesa sem entender o que aconteceu com o patriarca.
O homem age naturalmente e até brinca com seu neto, mas agora ele é um vourdalak e sua família pode ser sua própria vítima. Detalhe é a voz de Gorcha que consegue amedrontar tanto quanto a imagem do patriarca (cortesia de Adrien Beau que fez a voz do personagem).

Não poderia faltar, claro, as várias críticas embutidas pelo filme. Piotr (Vassili Schneider) com seu jeito de travesti não se dá bem com seu arrogante irmão Jegor (Grégoire Colin). A filha Sdenka (Ariane Labed) é recriminada por ter ficado com o primeiro forasteiro que apareceu. Anja (Claire Duburcq), a esposa de Jegor, é a mulher que permanece calada mesmo quando a situação está desconfortável.
Logo, fácil observar retratos de uma sociedade que rumina sentimentos como sexismo, machismo, homofobia e o próprio patriarcalismo. Os horrores da guerra, claro, não poderiam ficar de fora. A família de Gorcha resulta como um retrato dos horrores que a guerra é capaz de criar ao seu redor. Um cenário que não poupa nem mesmo crianças (num dos momentos mais cruéis do filme).
O Marquês d'Urfé tenta impor sua nobreza em meio a um território que aos poucos vai perdendo a civilidade. Resta a d'Urfé aconselhar Sdenka a sair dali e conhecer a corte da França. Mas será que ele vai conseguir convencê-la em meio a um cenário cada vez mais consumido pela brutalidade e pela crueza?
Os Vourdalak é um filme interessante e mais um que mostra como o universo dos vampiros ainda pode ser bastante explorado. Apesar de sua simplicidade e de alguns furos que nem comprometem tanto a narrativa, é um filme estranhamente divertido e diferente do que estamos acostumados a ver na mitologia vampírica. Só por conta disso, ele merece alguns méritos.
Mas o que é um Vourdalak?
Segundo a lenda, um Vourdalak é o cadáver reanimado de uma pessoa falecida que retorna para atacar seus próprios familiares e entes queridos. Diferentemente dos vampiros tradicionais, que podem atacar estranhos ou qualquer pessoa ao seu alcance, o Vourdalak assombra e aterroriza especificamente aqueles a quem um dia foi querido em vida.












