Os 5 melhores discos da Band of Horses — trilhas sonoras para quando a saudade vira paisagem
- Marcello Almeida
- há 2 dias
- 3 min de leitura
Algumas bandas te atravessam. Outras te cicatrizam

Tem bandas que soam como o eco de um passado que você nunca viveu, mas que mesmo assim te dói. É como se as músicas fossem feitas com madeira gasta, cordas enferrujadas, vento nas janelas e uma solidão que não pesa — embala. A Band of Horses é isso. Um lugar onde os sentimentos passam a cavalo, onde o tempo é feito de paisagens abertas, luz dourada e silêncios compridos. Não é só música.
É cheiro de café frio num domingo de luto. É a lembrança de algo que você nunca chegou a perder. E por isso mesmo nunca deixou de procurar.
Abaixo, os cinco discos que carregam esse som como quem carrega uma casa dentro do peito.
1. Everything All the Time (2006)

O começo já nasce clássico. Um disco feito pra doer bonito, com reverb nas guitarras e uma melancolia que parece crescer dentro da garganta. “The Funeral” não é só uma música — é um hino de fim de tarde, com a alma desabando devagar até explodir em cavalaria. Tudo nesse disco soa como se o mundo fosse grande demais pra gente caber dentro. O céu tá sempre nublado, mas ainda assim a gente segue. A beleza aqui não é polida. É suja, crua, com o barro da emoção nos dedos.
Esse álbum te acerta de um jeito silencioso. Quando você vê, já tá chorando por alguém que nem sabe quem é. O som é amplo, etéreo, mas a dor é íntima, quase doméstica. Um disco que transforma desespero em paisagem sonora — e memória em abrigo.
2. Cease to Begin (2007)

Menos tempestade, mais estrada. Esse segundo disco troca a agonia do debut por uma calma desbotada. A tristeza agora vem em tons pastéis. “Is There a Ghost” abre o caminho como quem pergunta algo que já sabe a resposta. Há menos peso nas guitarras, mais céu aberto, mais poeira no horizonte. É como atravessar o deserto sozinho e descobrir que a solidão também pode ser uma companhia boa.
O disco tem cheiro de madeira molhada, cheiro de casa antiga. Tem algo aqui que abraça, mesmo nos momentos de ruptura. É um álbum pra quem já se acostumou com a ausência. E aprendeu a amar mesmo assim.
3. Infinite Arms (2010)

Aqui a banda mira o sublime. Tudo é maior, mais limpo, mais colorido. É o disco onde o som cresce em harmonia, com vozes em coro e paisagens sonoras quase cinematográficas. “Factory” e “Laredo” são baladas de estrada, pra ouvir com a cabeça encostada no vidro enquanto o mundo passa lá fora. Há uma esperança nova aqui. Uma luz que não existia antes.
Mas essa beleza também custa. É menos visceral, mais trabalhado. Menos grito, mais canto. Ainda assim, o disco pulsa com verdade. Cada faixa parece uma carta aberta ao mundo, escrita com um pouco de fé e muita saudade. É o Band of Horses no auge da forma — e do sentimento.
4. Things Are Great (2022)

O título é ironia. Porque nada tá bem. E esse disco sabe disso. É o retorno às origens, com arranjos mais crus, letras mais diretas, sentimentos à flor da pele. É como se a banda tivesse cansado de maquiar a dor. Agora ela vem como vem: feia, suada, urgente. “Crutch” e “Lights” são retratos daquilo que não conseguimos dizer em voz alta — mas a música diz por nós.
Há uma honestidade brutal aqui. Um reencontro com a própria sombra. Band of Horses, depois de tanto tempo, ainda sabe como arrebentar o peito sem perder a ternura. Um disco que mostra que maturidade também pode ser feita de cicatriz aberta.
5. Why Are You OK (2016)

O disco mais estranho da lista. E talvez o mais necessário. Tem um quê de fuga, como se a banda quisesse ir pra longe de si mesma. Os arranjos flertam com o pop, mas a alma segue indie, confusa, fraturada. “Casual Party” é um hit torto, dançante e deslocado, como alguém tentando sorrir num velório. Nada aqui é simples. Tudo soa deslocado — e é aí que mora sua beleza.
É um disco de transição, de dúvida, de tentativa. E isso tem valor. Às vezes, a gente precisa errar bonito pra poder voltar melhor depois. E foi exatamente o que eles fizeram.
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