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Os 5 discos essenciais do The Walkmen — uma banda feita de adeus

Cada faixa é uma cicatriz. E cada cicatriz, uma lembrança que você jurava ter esquecido

The Walkmen
Imagem: Reprodução

Eles soavam como se tivessem vivido coisas demais. Como se tivessem envelhecido rápido, bebido demais, perdido gente demais — e mesmo assim continuassem cantando, como se cantar fosse a única saída. O The Walkmen nunca quis ser moderno. Nunca quis ser hype. Eles eram outra coisa. Um fantasma elegante, num mundo que grita demais. Um piano desafinado, tocando num salão vazio. Uma carta escrita à mão, que chegou tarde demais. E, sim, eles ainda estão na ativa.



No meio do caos nova-iorquino dos anos 2000, cercados de bandas dançando no revival pós-punk com calças apertadas e refrões prontos pro iPod, o Walkmen parecia vir de outro tempo. De um lugar mais frio. Mais honesto. Eles cantavam sobre o que doía. Sobre o que passou. Sobre o que não volta. Mas com classe. Com estilo. Com melodia.


Essa lista não é só um ranking. É uma despedida. Um mergulho. Um brinde. É pra quem já amou e perdeu. Pra quem já correu de madrugada sem saber pra onde. Pra quem ainda acredita que a música pode salvar alguma coisa — mesmo que seja só por três minutos e vinte e quatro segundos.


Aqui estão os cinco discos que fazem do The Walkmen uma das bandas mais bonitas, mais doloridas e mais esquecidas da nossa geração. Mas a gente não esqueceu. E nunca vai esquecer.



5. Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone (2002)

Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone
Imagem: Reprodução

O começo de tudo. Um disco que parece gravado dentro de uma estação de trem vazia, no último inverno antes do fim do mundo. Não é um álbum de estreia comum — é um ritual de exorcismo. As músicas soam como esboços inacabados de sonhos ruins, e ainda assim há beleza em cada falha, em cada arranhão. Aqui, o Walkmen não quer agradar ninguém. Eles tocam como quem tem pressa, como quem não vai voltar. E não voltam mesmo. A faixa “We’ve Been Had” é quase uma epifania bêbada — dissonante, debochada, genial. É arte antes de virar produto.




4. Lisbon (2010)

Lisbon (2010) - The Walkmen
Imagem: Reprodução

Esse disco é como um álbum de fotos queimado que você encontra no sótão — imagens borradas de um verão que você não viveu, mas sente saudade mesmo assim. Lisbon é o mais espaçoso, o mais silencioso, e por isso talvez o mais corajoso. A banda abandona a urgência dos primeiros anos e mergulha num romantismo dolorido, com canções que sussurram mais do que gritam.


“Stranded” e “Angela Surf City” são como cartas não enviadas — há desejo, arrependimento, distância. A beleza aqui não vem da fúria, mas do vazio. E isso machuca de outro jeito.



3. Heaven (2012)

Heaven (2012) - The Walkmen
Imagem: Reprodução

"Nao podemos ser vencidos.” O disco já começa com essa frase — e o resto é só descer a colina com o coração nas mãos. Heaven é o mais maduro, o mais limpo, o mais redentor. Mas não confunde maturidade com fraqueza: ele é intenso, grandioso, devastador. Parece o fim de um filme sobre uma amizade que não sobreviveu à vida adulta.


“Song for Leigh” é um presente para a filha, “Heaven” é uma oração para os irmãos de estrada, e “The Love You Love” é aquele grito sufocado de quem precisa ir embora mas ainda não sabe como. Cada faixa soa como uma despedida digna. É sobre envelhecer sem se tornar amargo. Sobre ser um homem e ainda assim lembrar que já foi garoto.



2. You & Me (2008)

You & Me - The Walkmen
Imagem: Reprodução

Se esse disco fosse um lugar, seria um hotel antigo com tapetes vermelhos desbotados, janelas trancadas e cheiro de vinho derramado. You & Me não tenta impressionar — ele te atrai pela sombra. É o disco mais denso, mais noturno, mais cinematográfico da banda.


As guitarras choram em câmera lenta, os metais aparecem como fantasmas e a voz do Leithauser parece querer rasgar o próprio peito. “On the Water” e “In the New Year” são facadas suaves. Não há euforia aqui — só resignação e beleza. Você não escuta esse álbum. Você se afunda nele.



1. Bows + Arrows (2004)

Bows + Arrows - The Walkmen
Imagem: Reprodução

Não existe nada parecido com Bows + Arrows. É um disco que sangra, grita, quebra a cara e continua em pé. “The Rat” sozinha já justifica o primeiro lugar: é raiva embotada, frustração acumulada, um ataque de nervos com bateria gritante e guitarra nervosa.


Mas o disco vai além — ele narra o colapso emocional com classe, como um poeta de paletó rasgado e gravata frouxa. “New Year's Eve”, “138th Street”, “Little House of Savages” — tudo aqui soa urgente, vital, como se o tempo estivesse acabando. E talvez estivesse.


É o som de um grupo no limite, registrando o caos antes que a chama apagasse. E por isso, talvez, seja eterno.




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