Do melhor ao menos necessário — porque até o pior do Radiohead é melhor que muita discografia por aí
- Marcello Almeida
- há 16 horas
- 3 min de leitura
Radiohead não é só uma banda. É uma ausência

Uma ausência que dói desde 2016, quando o último suspiro veio em forma de disco — A Moon Shaped Pool, uma despedida sussurrada, mas nunca oficialmente dita. Desde então, vivemos órfãos. Sem discos, sem promessas. Só com o eco.
O Radiohead não lançou álbuns. Lançou alertas. Crises. Estalos. Transformou a angústia moderna em arte. Inventou linguagem. Desaprendeu fórmulas. Derrubou o palco da indústria e reconstruiu um templo sobre os próprios escombros. Em cada disco, um novo código. Uma nova pele. Uma nova ferida.
E mesmo o que parece menor ainda é mais relevante, mais desafiador e mais honesto do que a média que se vende como “revolução” por aí.
Por isso, esta lista não é sobre sucessos, vendas ou nostalgia. É sobre legado. Sobre impacto. Sobre o que ainda nos move — ou paralisa.
Esse é o nosso ranking: do melhor ao menos necessário. Porque sim — até o pior disco do Radiohead é melhor que muita discografia inteira.
1. OK Computer (1997)

O mundo acabou em 1997 e ninguém percebeu.
É mais do que o ápice do Radiohead. É o fim de uma era, gravado em tempo real. Um grito no escuro contra a mecanização da vida, a alienação, o tédio moderno. Paranoid Android é o novo Bohemian Rhapsody, só que com pânico e ansiedade social no lugar de egotrip. Revolucionário.
2. Kid A (2000)

Desconstruir-se para renascer — glitch, medo e transcendência.
Thom Yorke não queria mais ser humano. Queria ser um ruído bonito. E conseguiu. Kid A é uma epifania feita de silêncio e colagem digital. Um disco que parecia incompreensível no lançamento, mas que hoje soa como o manual emocional da era pós-tudo.
3. In Rainbows (2007)

O amor em HDR. O caos em tons quentes.
Não é só a distribuição que fez história. O som também. In Rainbows é onde o Radiohead se reconcilia com a beleza, com a sensualidade, com o corpo. É o disco mais tátil, mais quente. Guitarras embaçadas, batidas que respiram, letras que tocam como pele.
4. The Bends (1995)

A dor é jovem, mas já é real.
Antes de virar conceito, o Radiohead era pura intensidade. The Bends é o melhor disco de guitarras dos anos 90 que não foi feito pelo Nirvana. Uma tempestade emocional guiada por um vocalista que já enxergava além da angústia da geração.
5. A Moon Shaped Pool (2016)

O Radiohead do fim do mundo. E do fim do amor.
Uma elegia. Um lamento. Um sopro delicado antes do silêncio final. A Moon Shaped Pool é devastador sem levantar a voz. Orquestrado com dor e classe, ele encerra ciclos — tanto pessoais quanto existenciais.
6. Hail to the Thief (2003)

Político, paranoico e um pouco perdido.
Talvez o mais subestimado da discografia. Um disco denso, híbrido, com momentos de ouro (There There, 2+2=5) e outros de sobrecarga criativa. Ainda assim, mesmo nos excessos, o Radiohead soa mais relevante que qualquer “protesto” indie atual.
7. Amnesiac (2001)

Irmão gêmeo estranho do Kid A.
Soturno, introspectivo, fragmentado. Amnesiac parece um sonho desorganizado depois de uma febre. Mas é um daqueles discos que cresce com o tempo. Ouvir é como vagar por uma biblioteca em ruínas — livros queimados, histórias sussurradas.
8. Pablo Honey (1993)

O início de tudo — verde, sim. Mas com raízes profundas.
Muito se fala do Creep, pouco se fala do impacto. Pablo Honey é o primeiro sopro de uma banda que ainda não sabia o que seria — mas já sabia o que não queria ser. É cru, é direto, é emocional sem filtros. E foi com ele que o Radiohead começou a incomodar, a perturbar o conforto. Sem esse começo, nada do que viria depois existiria.
9. The King of Limbs (2011)

O disco que parece respirar sozinho. Mas quase não fala com ninguém.
É o mais curto, mais fragmentado e talvez o menos urgente da discografia. The King of Limbs é um disco de texturas, não de histórias. Um mergulho no loop, no eco, no som que se dobra sobre si. Tem sua beleza, sim. Mas falta aquele fio visceral que conecta. Um Radiohead de dentro pra dentro.
Nota final:
Mesmo o “menos necessário” do Radiohead é uma peça de arte que muita banda sonharia em lançar. Porque quando se trata deles, o “erro” ainda é vanguarda.
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