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Oasis: 31 anos de 'Definitely Maybe', o disco que incendiou a juventude britânica

Oasis reinventou os Beatles para uma geração sem rumo, e agora volta aos palcos como se o tempo nunca tivesse passado

Oasis - capa de Definitely Maybe
Imagem: Reprodução

Em 29 de agosto de 1994, o Oasis lançou Definitely Maybe e deu ao rock britânico uma nova identidade, um sopro de arrogância e esperança que há muito faltava na música do Reino Unido. O disco, que ontem completou 31 anos, não foi apenas o início da carreira da banda dos irmãos Gallagher — foi o marco zero do britpop, a fagulha que incendiou uma cena cultural inteira.



O começo dos anos 90 foi um período de transição. O grunge havia transformado Seattle em epicentro da música mundial, e bandas como Nirvana e Pearl Jam dominavam rádios e corações com sua melancolia existencial. No Reino Unido, o rock parecia órfão, sem vozes que representassem a nova geração. Foi nesse vazio que surgiu o Oasis, com um álbum que, mais do que canções, oferecia uma postura: autoconfiança desmedida, guitarras ensolaradas e uma herança beatlemaníaca reconfigurada para a juventude britânica.


Logo nos primeiros segundos, Liam Gallagher anuncia em Rock ’n’ Roll Star que “hoje à noite sou um astro do rock and roll” — não como quem já chegou lá, mas como quem decide acreditar antes mesmo de acontecer. Era a declaração de um sonhador de quitinete, gritando contra as quatro paredes, disposto a se jogar no abismo para ver até onde podia chegar. Esse anseio por algo maior do que a realidade imediata atravessa todo o disco, que leva tão a sério os sonhos de seus criadores quanto os de seus ouvintes.


Em faixas como Live Forever, o Oasis transformou clichês em eternidade. Noel Gallagher nunca teve pudor de usar rimas simples ou imagens óbvias — pelo contrário, acreditava que a força estava justamente naquilo que todo mundo entendia. Ele sabia que as canções precisavam ser grandes, diretas, universais. E Liam, por sua vez, deu a elas um corpo único: insolente, debochado, uma força da natureza que cantava sempre no presente, sem se preocupar com ontem ou amanhã.


Mas Definitely Maybe não era só arrogância. Em Slide Away, talvez a canção mais visceral do álbum, surge uma rara vulnerabilidade: uma entrega apaixonada, quase desesperada, que mostra que o Oasis também sabia ser íntimo. É a prova de que, por trás da muralha de guitarras e da postura de quem não teme nada, havia também o desejo de amar e ser amado.



A sonoridade do disco não buscava reinventar o rock, mas habitá-lo. Noel e Liam pegaram ecos dos Rolling Stones, o deboche dos Sex Pistols, a sujeira dançante dos Happy Mondays e costuraram tudo isso com um melodismo tão natural quanto o de Paul McCartney. O resultado foi um rock britânico clássico, mas incendiado pela energia de uma banda que vivia como se não houvesse futuro — só o agora, só aquele momento.


O impacto foi imediato. Definitely Maybe tornou-se o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido até então, ultrapassando 100 mil cópias na primeira semana. Mais do que números, ele ofereceu identidade. Era um grito de guerra para os jovens da classe trabalhadora, uma convocação para levantar a cabeça e acreditar que também poderiam ser estrelas.


O britpop, que nos anos seguintes veria Blur, Pulp e Suede conquistarem espaço, encontrou no Oasis sua face mais direta e carismática. Se o Blur refletia a Inglaterra suburbana com ironia, o Oasis era puro desejo, sem filtros: acreditar primeiro, conquistar depois. Foi essa fé no próprio mito que tornou real a profecia de Noel e Liam.


Hoje, três décadas depois, Definitely Maybe continua soando fresco, como se fosse impossível domesticá-lo pelo tempo. E a celebração ganha um contorno ainda mais simbólico: em 2025, o Oasis voltou aos palcos após anos de rumores e afastamentos, reacendendo uma chama que parecia impossível. Ver Liam e Noel novamente juntos é testemunhar a própria história do rock britânico se movendo diante de nossos olhos — como se a promessa de Live Forever tivesse se cumprido.



Porque, afinal, esse sempre foi o pacto do Oasis: transformar arrogância em fé, barulho em eternidade, juventude em mito. E 31 anos depois, Definitely Maybe não é apenas um disco — é um estado de espírito.

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⭐⭐⭐⭐⭐

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