Ten, do Pearl Jam:34 anos depois a estreia que definiu o grunge para o mainstream
- Marcello Almeida

- 27 de ago.
- 3 min de leitura
34 anos depois, um grito que não perdeu força

O ano de 91 é um manto sagrado para o rock, dono de lançamentos icônicos, o período ficou marcado por sua leva de grandes e bons sons. Enquanto o Nirvana levava o grunge às paradas e agitava a cultura pop, o Pearl Jam surgia com Ten, disco que não apenas consolidava o movimento, mas também ampliava seu alcance.
Se o Nirvana era intenso, cru e, muitas vezes, confrontador demais para certas rádios e fãs de hard rock, Ten oferecia uma ponte: melodias acessíveis, guitarras intricadas e uma aura épica que lembrava os grandes do rock clássico — de Jimi Hendrix a Led Zeppelin —, sem jamais soar antiquado ou imitativo.
O álbum em si pode ser lido como uma construção meticulosa. Cada guitarra, cada arranjo, parece pensado para gerar impacto, percepções e emoções, sem se perder em excesso técnico. Mike McCready, com solos que evocam Hendrix; Stone Gossard e Jeff Ament, com linhas densas e fundamentadas; e Dave Krusen (que, logo depois do lançamento, deixou a banda) na bateria, criam uma base poderosa, enquanto Eddie Vedder entrega letras que exploram temas pesados — trauma, violência, abandono, introspecção — com uma sinceridade que transcende a música. Sua voz não apenas canta, mas carrega cada palavra, dando corpo a sentimentos universais que atravessam gerações.
O disco ganha ainda mais força com faixas icônicas que mostram a variedade e riqueza de Ten: “Alive”, terceira faixa, chega com seus riffs épicos, quase um cenário cinematográfico, transformando dor e conflito pessoal em uma canção sobre autoconhecimento; “Even Flow” pulsa com uma energia surreal, os vocais de Vedder soam nostálgicos e, hoje, acabam capturando a espiritualidade daquele período sem soar datado — são versos introspectivos e refrões cheios de força; “Jeremy”, talvez, seja uma das canções mais impactantes já compostas e segue tão atual.
A música é profundamente densa, toca em temas como solidão, alienação e bullying, mas de uma forma muito humana e poderosa. É sobre você crescer sem voz, isolado, sem encontrar espaços para expressar seus sentimentos ou frustrações, e como isso pode culminar em tragédias extremas.
“Black” é sobre tudo aquilo que fica quando o amor termina. É sobre ausência, a perda, o luto, aquela mistura de saudade, arrependimento e aquele ácido sentimento de vazio. A faixa ganha ainda mais peso com a entrega de Eddie, que canta com toda intensidade, sem precisar ser dramático demais. Talvez Black seja sobre a memória de tudo aquilo que foi vivido e o que poderia ser, aquela sensação de que algo dentro da gente nunca mais será exatamente o mesmo. E, quem sabe, amar assim seja mergulhar inteiro, e o preço seja nunca mais se encontrar da mesma forma, porque o coração aprende com a ausência do que foi verdadeiro.
O que torna Ten atemporal não é apenas seu som, mas a maneira como o álbum combina a intensidade do rock com a honestidade dos sentimentos que conectam multidões. As faixas conseguem ser catárticas e acessíveis ao mesmo tempo: pesadas, sem serem opressivas; dramáticas, sem se tornarem caricatas. É um equilíbrio delicado, alcançado depois de um longo período de maturação e refinamento, que transforma cada música em um pequeno épico.
Hoje, 34 anos depois, o disco de estreia do Pearl Jam continua relevante. Suas músicas ainda nos falam sobre sobrevivência, frustração, perda e esperança — sentimentos que permanecem universais. Em uma época marcada por ansiedade, isolamento e desafios pessoais constantes, o álbum funciona como um espelho de nossas próprias inquietações, lembrando que confrontar dores, reconhecer vulnerabilidades e celebrar pequenos triunfos faz parte da experiência humana. Ten nos mostra que a música pode ser um guia silencioso, oferecendo conexão e força mesmo décadas após seu lançamento.
E ele ainda mexe com a gente, porque o Pearl Jam não apenas conseguiu capturar a alma de uma geração; eles construíram uma ponte para o presente, mostrando que o rock pode ser grandioso sem perder a humanidade. Mais do que o início da história de uma banda, é um lembrete de que, às vezes, a música mais poderosa nasce da combinação de vulnerabilidade, de expor os sentimentos e angústias da alma.















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