O Horla é mais um filme que dialoga com a nossa rotina diante do conturbado mundo moderno
- Eduardo Salvalaio

- 30 de jul.
- 3 min de leitura
Longe de haver uma desumanização ou ridicularização dos personagens, o segredo aqui foi trazer aspectos tanto sobrenaturais como rais (físicos e psicológicos)

O Horla** (Le Horle) é um dos contos mais famosos do escritor francês Guy De Maupassant. Escrito em 1887, até hoje é uma referência não apenas para a Literatura, como também para o Cinema. Ganhou diversas adaptações cinematográficas, entre elas um curta-metragem de 1966 do diretor Jean-Daniel Pollet e um filme americano de 1962 intitulado O Diário de Um Louco que foi dirigido por Reginald Le Borg.
Marion Desseigne-Ravel dirige o longa metragem O Horla (Le Horle, 2023). O filme é inspirado na clássica obra de Maupassant, mas claro, ganha contornos modernos num mundo ditado por controle da tecnologia, celulares, solidão, trabalho home-office e de encontrar um cantinho de paz para viver que todos nós almejamos.
Damien (Bastien Bouillon), sua esposa Nadia (Mouna Soualem) e a filha Chloé (Milla Harbouche) de 8 anos saem da badalada Paris para morar numa cidade mais afastada e tranquila. Um grande e aconchegante apartamento com uma vista maravilhosa, que vai servir muito bem para Nadia por ser próximo de seu trabalho.
Até então uma família alegre e unida, mas Damien, que está trabalhando remotamente, começa a perceber coisas estranhas dentro do apartamento. O homem ouve barulhos pela casa, percebe sombras pelas paredes como estivesse sendo observado e até mesmo alguém bebe o copo de água que ele deixa do lado da cama enquanto dorme.
Mesmo que elementos típicos do Terror estejam presentes como a porta encontrada aberta no meio da noite e o pesadelo bizarro que assusta o personagem, o filme escolhe o Drama e o Thriller Psicológico para segurar sua trama. Difícil não compactuar da situação de Damien, um homem que tenta compreender esses eventos e ao mesmo tempo manter a lucidez e sua humanidade diante da família e dos amigos.
As desconfianças de Damien passam a aumentar e com isso faz crescer gradualmente a tensão do filme, mesmo por meio de um ritmo lento. Conforme ele vai passando por essas transformações, seu mundo e sua personalidade começam a ser impactadas influenciando até nas mais simples relações harmônicas entre sua família.

A atmosfera sombria do filme, sem apelar para exageros gráficos, violência extrema ou mesmo sangue, consegue adicionar detalhes coerentes para a trama. Interessante notar algumas contradições que refletem bem a ambiguidade do filme, exemplo é ver Damien na varanda de seu apartamento contemplando um lindo cenário para em seguida voltar a sofrer com suas desconfianças no interior de sua moradia.
Em outra cena bem construída, Damien sobe no terraço do prédio e olha espantado para o céu observando um tempo nublado. Uma analogia certeira com as mudanças e o rumo que começaram a ocorrer em sua vida.
Longe de haver uma desumanização ou ridicularização dos personagens, o segredo aqui foi trazer aspectos tanto sobrenaturais como rais (físicos e psicológicos). Damien está diante de alguma presença maléfica ou espírito? Sofre de sonambulismo? Paranoia? Algo criado por sua mente por conta de sua difícil adaptação com o lugar? Assista construindo outras interpretações além do conto de Maupassant. Pense como um homem moderno diante de várias temáticas de nossa rotina. Melhor assim.
**"Horla", no contexto do conto de Guy de Maupassant, é um termo inventado que pode ser interpretado como uma entidade sobrenatural, uma presença invisível e perturbadora que assombra o protagonista. O termo é uma combinação das palavras francesas "hors" (fora) e "là" (lá), sugerindo algo que está fora, além, um estranho ou forasteiro. No conto, o Horla é uma manifestação do medo e da loucura do narrador, uma representação do seu próprio lado sombrio e da fragilidade da mente humana.
Fonte da informação: study
















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