O Exorcista: O Devoto deveria se chamar apenas Devoto, pois não se iguala em nada ao original
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O Exorcista: O Devoto deveria se chamar apenas Devoto, pois não se iguala em nada ao original

O filme de David Gordon Green é preguiçoso e medonho; se perde em seu roteiro confuso e não agrega absolutamente nada ao gênero.

Imagem: Reprodução.


O impacto de "O Exorcista" continua a influenciar os cineastas de terror contemporâneos. A história de possessão demoníaca dirigida pelo saudoso William Friedkin não chegou aos cinemas em 1973 apenas para chocar um público que, até então, tinha associado filmes de terror a produções B de qualidade duvidosa. Juntamente com "O Bebê de Rosemary" e "Não Olhe Agora", ele foi um dos primeiros exemplos do que hoje é chamado de "horror elevado" - ou seja, filmes de terror feitos com uma certa seriedade artística que impressionava e chocava ao mesmo tempo.


No entanto, o que realmente fez de "O Exorcista" uma obra singular foi o quão genuinamente aterrorizante era. Com os melhores recursos investidos em maquiagem e efeitos especiais disponíveis na época, Friedkin apresentou ao público e amantes do terror cenas anteriormente impensáveis - cabeças girando, vômito verde, camas vibrantes - criando a sensação realística, que de fato a jovem Regan (Linda Blair) estava possuída pelo demônio. Suas imagens de pesadelo levaram os espectadores ao limite, com relatos de desmaios que apenas reforçaram a aura de horror do filme que moldou todo o gênero. O mal parecia emergir diretamente das telas, como se Friedkin tivesse escavado e exposto nossos mais profundos e obscuros medos, sem nenhum disfarce, revelando-os em toda a sua crueza e agonia.



Praticamente 50 anos depois, somos apresentados à sequência comandada pelo cineasta David Gordon Green, responsável pela nova trilogia de Halloween. "O Exorcista: O Devoto" é um longa que tenta resgatar o terror do original, mas que, no final das contas, acaba se perdendo em um emaranhado de roteiro confuso e preguiçoso. Na trama acompanhamos Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), um pai solteiro que cria sua filha Ângela (Lidya Jewett) desde a trágica morte de sua esposa em um terremoto no Haiti. A vida de Victor muda quando Ângela e sua amiga Katherine (Olivia Marcum) desaparecem na floresta e são encontradas três dias depois sem lembrarem do ocorrido.


Essa é a premissa de "O Devoto" de Green. A ideia é boa, mas muito mal aproveitada. O filme se perde em sua própria confusão, tentando resolver os problemas de ceticismo de Victor, o que poderia ser um ótimo fio condutor para amarrar a história. No entanto, acaba virando uma tremenda bagunça, e com isso, o terror da possessão das meninas é jogado de lado. Inclusive, ambas mereciam mais tempo de tela, a fim de que suas personagens fossem mais profundamente desenvolvidas.



A transformação das meninas na forma demoníaca é feita rápido demais, e nem somos apresentados a esses desfechos. Coisa que no filme original, podíamos ver cada detalhe da degradação de Regan. O filme de Green não assusta e não empolga; parece que ele está mais preocupado em passar a mensagem de que, para vencer o mal, é preciso apenas ter fé, independentemente de qual religião você segue. O filme até traz outras religiões para ajudar no duplo exorcismo, reforçando que realmente o Devoto não está interessado em causar sustos ou algo do tipo; ele apenas quer te convencer ou te converter.


Como disse anteriormente, a trama explora dilemas morais que acabam colocando os personagens diante das consequências de suas escolhas. A batalha interna de Victor, marcada pela culpa e pela responsabilidade, em particular, até tenta criar camadas mais profundas mas falha habilmente. Esses deslocamentos apenas levam a trama para um território que não está nem um pouco interessado em seguir os mandamentos de Friedkin, O Devoto está mais para um filme de autoanálise e reflexão.



O filme de Green até tenta apelar para o lado nostálgico e afetivo da coisa, trazendo Chris MacNeil (Ellen Burstyn), a mãe de Regan, de volta para a história. No entanto, não se empolgue tanto; a participação dela está mais para algo simbólico do que memorável.



Parece que teremos uma nova franquia do filme comandada por Green, e só Deus ou próprio capiroto irão saber o que eles irão aprontar com isso. O diretor também afirmou que os eventos mostrados no filme seriam uma sequência direta dos fatos relatados no livro de William Peter Blatty.


Lamentavelmente, o resultado final ficou aquém das expectativas. "O Exorcista: O Devoto" não chega a ser um "filme lixo," como disseram por aí, mas ficou muito abaixo das expectativas. Ele contém boas concepções e uma narrativa que poderia ter se tornado uma digna sucessora do filme original. No entanto, a presença de diversos problemas e escolhas questionáveis ao longo da trama faz com que ela perca qualidade a partir da metade do filme. O grande problema de "O Exorcista: O Devoto" está no simples fato de fazer parte da franquia "O Exorcista." Se fosse um outro filme qualquer sobre possessão, talvez não estivesse sujeito a uma enxurrada de críticas negativas.

 

O Exorcista: O Devoto

The Exorcist: Believer

Ano: 2023

Gênero: Terror

País: EUA

Direção: David Gordon Green

Roteiro: David Gordon Green

Elenco: Leslie Odom Jr, Ellen Burstyn, Lidya Jewett, Olivia Marcum

Duração: 111 min.



 

NOTA DO CRÍTICO: 5,0

 

Trailer:


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