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Morre Jimmy Cliff, lenda jamaicana e arquiteto do reggae, aos 81 anos

Alguns nomes não saem da história, e Jimmy Cliff é um deles

Morre Jimmy Cliff
Imagem: Reprodução

O mundo da música acorda cinzento nesta segunda-feira (24). Um de seus maiores embaixadores culturais, Jimmy Cliff — cantor, compositor e multi-instrumentista jamaicano — morreu aos 81 anos. A informação foi confirmada por sua esposa, Latifa, em comunicado oficial. Segundo a nota, o artista sofreu uma convulsão seguida de um quadro de pneumonia. A família pediu privacidade e agradeceu à equipe médica pelo suporte.



Um dos pilares da música jamaicana


Pioneiro do reggae e figura essencial na evolução do ska e do rocksteady, Cliff ajudou a erguer a base sonora que mais tarde levaria a Jamaica ao centro do mapa cultural global. Antes mesmo de Bob Marley conquistar o planeta, Jimmy Cliff já abria caminhos, apresentando ao mundo uma voz potente que combinava crítica social, espiritualidade e esperança — um trio que sempre foi a espinha dorsal da música jamaicana.


Seu nome explodiu definitivamente para além da ilha em 1972, com The Harder They Come (“Balada Sangrenta”). No papel de Ivanhoe Martin, o músico fora da lei, Cliff marcou o cinema e assinou uma das trilhas sonoras mais importantes de todos os tempos. A faixa-título e a dolorosa-beleza de “Many Rivers to Cross” introduziram o reggae a públicos que jamais tinham ouvido aquele ritmo.


Décadas de hits que nunca envelheceram


Ao longo da carreira, Cliff acumulou sucessos que atravessaram gerações. Sua interpretação de “I Can See Clearly Now”, para o filme Jamaica Abaixo de Zero, reaproximou-o do público jovem nos anos 90. Canções como “You Can Get It If You Really Want”, “Reggae Night” e “Wonderful World, Beautiful People” consolidaram sua habilidade singular: unir melodias acessíveis a camadas rítmicas carregadas de história.


Um laço profundo com o Brasil


Poucos artistas internacionais criaram vínculos tão sinceros com o Brasil quanto Jimmy Cliff. Ele sempre declarou seu amor pelo país — onde morou, onde fez amigos, onde encontrou uma energia espiritual que, segundo ele, lembrava sua própria Jamaica. Em 1969, venceu o IV Festival Internacional da Canção com “Waterfall”, episódio que ele classificava como um divisor de águas na carreira.


Essa ligação virou música. Cliff gravou com o Cidade Negra, tocou com o Olodum, viveu em Salvador e absorveu o pulso da Bahia, influência que aparece em trabalhos dos anos 90, especialmente no álbum Samba Reggae.


Reconhecimentos e um legado imensurável


Em 2010, Cliff entrou para o Rock and Roll Hall of Fame — um reconhecimento que ultrapassa fronteiras de gênero. Também recebeu a Ordem de Mérito da Jamaica, uma das maiores honrarias do país. Mesmo aos 70 e tantos anos, ele não parou: Rebirth (2012), produzido por Tim Armstrong, rendeu um Grammy e foi saudado como um retorno vigoroso às raízes.



Jimmy Cliff deixa a esposa, Latifa, e os filhos Lilty e Aken. Deixa também uma obra que atravessou oceanos e derrubou fronteiras. Muito mais do que um artista, parte alguém que ensinou o mundo a olhar para dentro, e “ver claramente”, através da música.


Algumas vozes não se apagam; elas viram bússola. Jimmy Cliff foi uma delas.



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