Marilyn Manson em San Luis Potosí: uma batalha cultural no coração do México
- Marcello Almeida

- 12 de ago.
- 2 min de leitura
Foram 205 mil pessoas no evento gratuito, segundo os organizadores

Quando Marilyn Manson subiu ao palco na Feira Nacional Potosina (FENAPO), no último domingo (10), algo maior do que o show estava acontecendo ali. Era uma provocação — e também uma declaração.
O músico, conhecido pelo lado mais sombrio do rock, foi contratado pelo governador Ricardo Gallardo Cardona. Curioso: o próprio Cardona é artista amador de música regional mexicana. Um político que decidiu colocar no mesmo palco o clássico e o controverso, o tradicional e o contestador.
Foram 205 mil pessoas no evento gratuito, segundo os organizadores. A mistura perfeita de público — jovens vestidos de preto, com maquiagem que lembrava o cantor, e famílias esperando um festival para todos. Mas a presença do roqueiro não passou sem ruídos. Grupos religiosos e conservadores protestaram, chamando o show de “inadequado” para um evento familiar.
Cardona, porém, não recuou. Ele falou com firmeza, em entrevista à Billboard Español, sobre sua decisão:
“Sempre haverá vozes opostas, e Marilyn Manson as enfrentou não apenas no México, mas também em outras partes do mundo. Mas se ele já se apresentou em Roma, o berço do catolicismo, por que não poderia se apresentar em San Luis Potosí? Não se trata de religião; trata-se de justiça cultural, de criar unidade, e devemos fazer isso por meio da música.”
A comparação de Gallardo não é pouca coisa. Em 1989, o Black Sabbath teve seu show em San Luis Potosí cancelado sob a acusação de “promover satanismo e antivalores”. O tempo passou, e Manson, com toda sua polêmica, pôde tocar livremente.
Vídeos do show viralizaram nas redes: filas imensas, o Teatro del Pueblo lotado, enquanto o público cantava sucessos como “The Beautiful People”, “Sweet Dreams (Are Made of This)”, “Disposable Teens” e “Tourniquet”. Era mais do que um show, era um movimento.
Mas a resistência apareceu, sim. Horas antes, uma cabeça de vaca foi deixada em frente à Catedral Metropolitana — um protesto emblemático. E uma associação conservadora juntou quase 6 mil assinaturas pedindo o cancelamento do evento.
Ainda assim, Cardona segue com sua visão plural para a FENAPO:
“Acho que precisamos ser um pouco mais plurais hoje; não se trata apenas de música regional mexicana. No ano passado, conversamos com os empresários do Metallica e do Scorpions. Foi difícil finalizar por causa das turnês deles, mas conseguimos iniciar um diálogo com os empresários do Marilyn Manson e fizemos acontecer.”
O governador aposta no choque cultural para quebrar velhas amarras. E o festival, que vai até 31 de agosto, também conta com nomes como Enrique Iglesias, Don Omar, DJ Tiësto, Banda MS e Belinda.
Mas Manson não chega só com sua fama artística. O roqueiro carrega sobre os ombros acusações graves de abuso sexual e violência doméstica, ainda em julgamento. Depois de quase seis anos afastado dos palcos, voltou em agosto do ano passado e agora segue na estrada com a turnê One Assassination Under God.
Em dezembro, a Cidade do México o recebe como atração principal do Knotfest — e a polêmica, certamente, continuará.















Comentários