
Machuca é a representatividade do cinema em sua forma mais pura e brilhante. É sobre todas as histórias que precisam ser contadas. Aquelas responsáveis por acender inúmeros sentimentos que te moldam como pessoa, e abrem os olhos para a realidade que bate forte diariamente em centenas de pessoas desassistidas por um governo corrupto e fascista. Simplesmente uma obra necessária, daqueles filmes raros que une o lado pessoal com o político sem sacrificar a honestidade intelectual impregnada em seu contexto.
Traçando um contexto histórico no ano de 1970, o Brasil já vivia a ditadura Militar, enquanto isso, o Chile passava por mudanças políticas e sociais, a escolha de Salvador Allende como presidente começou a ser vista como um açoite pela burguesia que dominava o país. Seu governo de políticas sociais para tentar diminuir as diferenças entre ricos e pobres não foi muito aceita pelo lado burguês da sociedade que viu aquilo como um absurdo comunista.
Assim é o filme do chileno Andrés Wood, que retrata uma história de amizade verdadeira e bonita em um Chile dividido pelo golpe militar de 1973. Gonzalo Infante (Matias Quer) e Pedro Machuca (Ariel Mateluna) são dois garotos de onze anos que vivem em Santiago, mas divididos por uma barreira invisível que separa a classe social. Gonzalo é de uma família de classe média alta, vive em um bairro bom e com conforto, já Pedro Machuca, é de uma família pobre e vive em uma casa de um cômodo apenas, construída com madeira e papelão. O contraste de vida ensaiado no longa-metragem é um tanto realístico e fará você refletir sobre muitas coisas que vem acontecendo por aqui em nosso país. A amizade entre os dois nasce na instituição, Saint Patrick, um colégio católico inglês, frequentado pela elite chilena. Machuca ingressa no colégio quando reitor o padre McEnroe, oferta, bolsas de estudos para comunidade carente, visando uma inteiração e igualdade social entre essas crianças.
'Machuca' consegue ser doce, comovente e evocativo. Uma combinação perspicaz e implacável de paixões pessoais e traições políticas.

Um filme que retrata o golpe militar promovido por Pinochet, observado sobre os olhares de três crianças e seus mundos diferentes. Uma amizade que cresce e aflora em sua mais pura inocência, repleta de descobertas e surpresas. Um trabalho conciso e delicado que expõe uma época do Chile onde as diferenças de classes sociais eram ignoradas e enfatizadas, dependendo de sua perspectiva e ponto de vista. Através desses olhares inocentes 'Machuca' retrata um Chile vulnerável para os chilenos quando o nome Augusto Pinochet se tornou sinônimo de repressão. O cenário do filme poderia muito bem ser outro lugar do mundo, ou até mesmo o Brasil de 2021.
Atuações fortes e impactantes que chegam a dispensar palavras. Isso fica nítido nos olhares de aversão de Gonzalo e Machuca quando percebem a diferença de realidade entre eles, ou nos olhares onde ambos percebem o laço de amizade que nasce verdadeiramente. Um filme forte, impactante, bonito e comovente. Merece ser visto e revisto, pois se trata de cinema com C maiúsculo. É daquelas obras para refletir em meio a um turbilhão de emoções. É a magia do cinema que comove e impacta. Um filme notável e atraente que você não esquecera tão cedo.
Ficha Técnica:

Machuca
ANO: 2004
PAÍS: Chile/Espanha
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
DURAÇÃO: 120 min
DIREÇÃO: Andrés Wood
ELENCO: Matías Quer, Ariel Mateluna, Aline Kuppenheim, Ernesto Malbran e Federico Luppi
ONDE VER: Netflix
Veja o trailer abaixo:
Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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