7 Prisioneiros levanta reflexão sobre trabalho escravo e tráfico de pessoas no Brasil do século XXI
top of page

7 Prisioneiros levanta reflexão sobre trabalho escravo e tráfico de pessoas no Brasil do século XXI



O diretor Alexandre Moratto entrega um filme potente e urgente em seu contexto ao abordar temáticas polêmicas e ainda bem pertinentes no Brasil (e no mundo) do século XXI. Estamos diante de uma narrativa sobre trabalho escravo e tráfico de pessoas. A obra ainda conta no seu elenco com (o grande) Rodrigo Santoro e (ótimo) Christian Malheiros, a vida de ambos vão se cruzar nessa história que deveria ser improvável existir, mas infelizmente não é bem assim.


A narrativa acompanha a história de Mateus (Christian Malheiros) e outros amigos que saem do interior de São Paulo em busca de uma vida melhor e garantia de emprego. Ao chegar na capital eles vão trabalhar em um ferro-velho comandando por Luca (Rodrigo Santoro), logo eles vão perceber que, na verdade, estão sob um regime escravista contemporâneo com dimensões bem mais complexas do que eles podem imaginar. Onde são forçados a continuar nisso ou arriscar o futuro de suas famílias?


Moratto conseguiu imprimir muito bem aquele olhar purista e ingênuo de abandonar a vida no interior com o choque da realidade brutal e cruel. Uma situação revoltante, triste e deve fazer parte da vida de muitas pessoas. Essa introdução do filme é ótima, porque ela aborda dramas familiares, com aquela perspectiva de sonhos, dinheiro, a possibilidade de dar uma vida melhor para a família, tudo isso centrado em uma grande cidade que oferece inúmeras oportunidades 24 horas.


A tentativa do diretor em criar uma dramatização intercalando narrativas paralelas, é válida, porém, pouco explorada, algo que por momentos pode desviar a sua atenção da chamativa principal e da temática importante e relevante aqui envolvida. O filme se passa maioria do seu tempo no ferro-velho criando situações de suspense entre opressor e vítimas, tentativas de fugas e conflitos internos, o que contribui para aumentar a tensão e adrenalina, garantindo boas cenas e atuações.


O roteiro muito bem trabalhado por Alexandre Moratto e Thayná Mantesso faz um retrato fidedigno do trabalho abusivo e explorador, casado com a eminente corrupção política e a opressão sistêmica instaurada em nosso país, se torna muito mais fácil você ser tragado e devorado pelo sistema do que modificá-lo. Algo que se tornar perturbador. 7 Prisioneiros disseca da maneira mais cruel e crua seus personagens, colocando todos eles em situações extremas e decisivas, revelando o mundo sombrio em que ambos se encontram. Possui suas falhas, algumas situações mal resolvidas, lacunas ficando em abertas, mas é relevante e necessário para nossa atualidade.

Interessante ressaltar do ponto de vista cinematográfico como esses regimes escravistas abusam e exploram suas vítimas para movimentar uma engrenagem expansiva, sempre favorecendo aqueles que estão no topo da pirâmide. Filmes como 'Tropa de Elite' de 2007 e 'Tropa de Elite 2: O inimigo Agora é outro' de 2010, já denunciavam esse movimento fraudulento e corrupto.

As atuações são estupendas. Rodrigo Santoro se reafirma como um grande ator. Conseguiu de maneira convincente dar vida a um personagem cruel e, ao mesmo tempo, humanizado. Luca sabe muito bem das atrocidades que comete, e simultaneamente possui uma história de vida um tanto drástica, mas isso não o isenta de seus atos bárbaros. Esse equilíbrio do personagem de Santoro é um ponto positivo e um tanto difícil de se praticar. A intensidade e a facilidade de como ele incorpora o personagem pode ser um tanto brilhante para o telespectador, mas viver na pele um sujeito mau-caráter é preciso saber diferenciar a realidade da ficção. Santoro disse em entrevistas que muitas cenas ele achava 'aquilo pesado demais, mas precisava ser daquele jeito, aquilo era a realidade'. Christian Malheiros se mostra um grande ator em Ascensão, o rapaz possui carisma, consegue expressar emoções e sentimentos de forma simplista e autêntica. Já trabalhou com o diretor no emocionante ‘Sócrates’ de 2018.


As cenas onde envolvem Luca e Mateus foram muito bem feitas e é possível notar a química entre ambos. Santoro muito experiente conduz muito bem as situações. Não é exagero algum em dizer que ele interpreta muito mais do que os outros. Sua aparência robusta, desleixada, cabelo comprido e desgrenhado pode muito bem te fazer lembrar de filmes como 'Bicho de Sete Cabeças' de 2000.


Com isso 7 Prisioneiros vai ganhando proporções sinistras e revoltantes porque a jornada de Mateus não é tão simples e moralmente pura como nós gostaríamos que fosse. É um tanto reflexiva e perigosa, vai deixando aquela sensação desconfortável de uma porrada na boca do estômago. Pode muito bem ser uma história de terror realista de partir o coração que impulsiona o drama de muitas pessoas no Brasil e no mundo.


O filme tem a distribuição internacional pela Netflix e pode ser um forte candidato a representar o Brasil no Oscar 2022. O filme obteve sua estreia imensamente elogiada no Festival de Cinema de Veneza. Conquistando a crítica especializada internacional, chegando expressivamente a marca de 98% de aprovação no Rotten Tomatoes.

 

Ficha Técnica:

7 Prisioneiros

Ano: 2021

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 96 min

Direção: Alexandre Moratto

Roteiro: Alexandre Moratto e Thayná Mantesso

Elenco: Rodrigo Santoro, Christian Malheiros, Josias Duarte e André Abujamra

Onde ver: Netflix


 

Veja o trailer do filme abaixo:


 

Sobre Marcello

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com

 









70 visualizações0 comentário
bottom of page