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Luísa Sonza divide opiniões sobre Bossa Nova em novo disco, que mescla sensualidade e melancolia

Atualizado: 16 de set. de 2023

O disco totaliza um total de 24 faixas, sendo que seis delas ainda estão bloqueadas para serem lançadas em uma edição deluxe.

Foto: Divulgação / Twitter Luísa Sonza

Luísa Sonza vem chamando a atenção nas últimas semanas com o lançamento do seu terceiro álbum, intitulado 'Escândalo Íntimo', lançado no dia 29 de agosto. O disco gerou debates entre críticos sobre a nova geração da música brasileira e também recebeu ataques de ódio nas redes sociais, principalmente pelo fato de ter sido classificado como Bossa Nova e MPB. Para muitos, essa classificação foi considerada uma ofensa aos gêneros e aos nomes consagrados como Elis Regina, Nara Leão, Gilberto Gil, Elizete Cardoso, Gal Costa e muitos outros.


Em termos puramente musicais, a bossa nova se resume à inovadora técnica de violão desenvolvida por João Gilberto (1931 – 2019) durante a década de 1950. Essa técnica foi oficialmente introduzida pelo cantor e músico baiano em 1958.



Com isso, o gênero vai além de ser apenas um estilo musical; ela representa um ambiente sonoro único, uma atmosfera de suavidade que se estabeleceu de forma sólida na cena da música brasileira. Nesse contexto, a bossa nova atraiu talentosos cantores, compositores e músicos, como Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Carlos Lyra, Roberto Menescal e até mesmo Ronaldo Bôscoli, um letrista habilidoso que conseguiu capturar essa atmosfera em versos simples e desprovidos de exageros. Todos esses artistas deixaram uma marca significativa na bossa nova e contribuíram para a ampliação desse gênero musical.


Então, voltamos à discussão sobre se Luísa é bossa, uma questão que foi abordada por "especialistas altamente qualificados" não apenas na música, mas também em seu aspecto técnico. A faixa do álbum que mais chamou a atenção para esse debate, às vezes desrespeitoso com o artista e seus fãs, foi "Chico". Esta é uma canção romântica dedicada ao novo namorado de Luísa, Chico Veiga, que incorpora elementos da MPB e Bossa Nova. A música recebeu elogios, inclusive de Caetano Veloso. O fato é que Sonza deu voz a uma faixa que captura o espírito da bossa nova, com versos como: “Chico, se tu me quiseres / Sou dessas mulheres de se apaixonar / Pode fazer a sua fumaça / O bar da cachaça / Vai ser nosso lar / E, Chico, se tu me quiseres / Debato política, tomo o teu partido / E se for pra repartir o amor / Que reparta comigo”.


Por trás da canção, temos nomes como Bruno Caliman, Carolzinha, Douglas Moda, Jeni Mosello e Luísa Sonza. Se você conhece o belo bolero "Folhetim", lançado por Chico Buarque em 1978, vai perceber algumas referências e alusões ao poeta Chico. No entanto, 'Escândalo Íntimo' não se limita a tentar ser bossa nova; é um álbum que navega pelos gêneros Pop, Funk, Samba-Rock e até Blues, como na faixa "Surreal". Esta se destaca no álbum devido ao seu processo criativo e à participação especial de Baco Exu do Blues. A música transmite uma atmosfera sensual, com elementos de R&B e um dueto bem-sucedido entre Luísa e o rapper, que se encaixa perfeitamente no clima da canção.



O disco deixa transparecer que a artista está buscando uma evolução em seu repertório, apresentando um relato íntimo sobre sentimentos, emoções e experiências vividas pela cantora nos últimos anos. Isso divide 'Escândalo íntimo' em blocos: sexo, coração partido, novos amores, decepções e superações. O sexo ganha maior ênfase nas letras, como na sensual balada "Romance Em Cena", com a participação de Marina Senna, que traz versos como: "Acordei suada, sonhei com você, até dormi pelada, vem pra cá me ver". Ou na explícita "Campo de Morango", uma canção que pode ter chocado o público mais conservador, que ainda considera um escândalo e profano uma mulher cantar sobre os prazeres do corpo.


O disco totaliza um total de 24 faixas, sendo que seis delas ainda estão bloqueadas para serem lançadas em uma edição deluxe. Entre as músicas bloqueadas, chama a atenção a última faixa "You Don't Know Me", lançada por Caetano Veloso no emblemático 'Transa' de 1972.


De volta às faixas disponíveis, "Lança Menina" traz uma abordagem pop voltado para festa com um ritmo mais dançante. A canção se apropria do verso da clássica canção de Rita Lee, "Lança Perfume" de 1980, e sim, tanto Rita como Roberto de Carvalho foram creditados como coautores da faixa.


"Luísa Manequim" emula um samba-rock e faz samples com a faixa original de 1972, cantada por Abílio Manoel (1947 – 2010), artista português que residia no Brasil. Já "Onde é Que Deu Errado" traz elementos sertanejos que remetem à saudosa Marília Mendonça.


Em entrevistas recentes, antes do lançamento do disco, Luísa afirmou que as canções se tratavam de uma autoanálise, relacionamentos abusivos e amores que deram errado. Um pouco dessa atmosfera é absorvida pela bonita capa do disco, nos tons das cores e na imagem de Luísa distorcida.


Se Luísa é pop, bossa ou MPB, não vem ao caso. Ela endossa sua música em sentimentos reais, trafega por ritmos, pela moda do momento, mas não segue uma fórmula padrão em suas canções, e sobretudo nas letras, e isso envolve também as participações especiais no disco, até mesmo Demi Lovato, que canta em português os versos de "Penhasco 2", uma balada que expressa um clima mais denso.


O disco também traz beats acelerados, como na faixa "A Dona Aranha", outra canção que explora o campo da atração sexual e prazeres da carne. Entre momentos mais agitados e acelerados, e outros mais calmos e suaves, Luísa tenta decifrar os ritmos da paixão, que sobem e descem feito uma montanha-russa.


As 18 faixas que estão liberadas de 'Escândalo íntimo' totalizam cerca de 45 minutos que alternam entre ritmos, sensualidade e uma certa melancolia muito bem calculada por Douglas Moda, que trabalhou com Sonza no disco anterior 'Doce 22', além das colaborações de Roy Lenzo e Tommy Brown. O álbum sintetiza a nova geração musical do Brasil, e toda geração, seja ela a z, tem o seu ídolo, porque a música também pode ser um estado de espírito.



Você não precisa gostar de Luísa Sonza, mas respeitá-la como artista e, principalmente, respeitar seu público. Ninguém é melhor que ninguém por gostar ou deixar de gostar de determinado artista. Muitos dos comentários que surgiram criticando Luísa eram também direcionados para aquelas pessoas que seguem a cantora, pessoas essas que, aos olhos dos críticos, não possuem formação para entender a fundo de música e, nisso, acabam indo pela moda e pelo lado visual da coisa. Mas desde quando é preciso entender de música para gostar de ouvir música? Música envolve reações, sentimentos, são emoções que afloram no nosso eu. Música é movimento e batidas.


E como já cantava o maravilhoso e saudoso Belchior: "Mas é você que ama o passado, e que não vê, é você que ama o passado, e que não vê que o novo, o novo sempre vem."

 

Escândalo íntimo

Luísa Sonza


Lançamento: 29 de agosto de 2023

Gênero: Pop

Ouça: "Chico", "Surreal", "Lança Menina"

Humor: Sensual, Melancólico, Provocativo

Pra quem curte: Annita, Jão, Pabllo Vittar


 

NOTA DO CRÍTICO: 6,5

 

Veja o clipe de "Chico":





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