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Kid A, 25 anos depois: o disco que virou o século de cabeça para baixo

Kid A ainda soa como algo fora do tempo. Um organismo vivo, em mutação

Capa do disco kID A do Radiohead
Imagem: Reprodução

Tudo o que parecia sólido se dissolvia em 2000. O bug do milênio se apresentava como um fantasma, o Napster desafiava gravadoras, a internet escancarava incertezas. E o Radiohead, em vez de se agarrar ao sucesso de OK Computer, escolheu o abismo. Kid A nasceu desse mergulho: um disco que não oferecia refrões fáceis, que não queria rádio, que não clamava por aceitação e nem pedia desculpas.



Lançado em outubro de 2000, o quarto álbum da banda soava como um sinal de alerta — ou uma confissão: não havia mais volta. A abertura com Everything In Its Right Place já deixava claro: guitarras exiladas, sintetizadores repetidos até a vertigem, Thom Yorke cantando como se fosse a última transmissão humana antes do colapso.


Na sequência, Kid A surge com vocais deformados em vocoder, robôs em transe, uma atmosfera suspensa no ar. E quando The National Anthem explode em metais caóticos sobre um baixo hipnótico, parece que Ornette Coleman invadiu o rock para anunciar que o milênio seria desordem, ruído, improviso.


Mas o golpe mais profundo vem em How to Disappear Completely. Thom Yorke sussurra: “I’m not here, this isn’t happening”. O desejo de evaporar diante da fama, do peso do mundo, de tudo aquilo que sufocava. Um mantra de fuga que ainda arrepia.


A partir dali, o disco mergulha de vez no apocalipse eletrônico de Idioteque, batida urgente, letras paranoicas sobre o fim do mundo. Entre ruídos, samples e texturas produzidas com Nigel Godrich, o Radiohead já mostrava como seria a música nos 20 anos seguintes.


Kid A vazou na internet antes do lançamento oficial, e a banda não combateu a pirataria. Abraçou. Deixou correr. Resultado: o hype explodiu, e o álbum estreou no topo da Billboard — um feito histórico para um disco experimental, sem singles, sem clipes pop.



Até a capa de Stanley Donwood, com montanhas distópicas em gelo e fogo, parecia um presságio: mudanças climáticas, instabilidade política, a paisagem de um século em ruínas.



Vinte e cinco anos depois, Kid A ainda soa como algo fora do tempo. Um organismo vivo, em mutação. A cada escuta, um ruído escondido, uma batida feito fantasma, um detalhe esquecido. Não é exagero dizer que o Radiohead abriu um portal: depois de Kid A, nunca mais ouvimos música do mesmo jeito.



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