É uma explosão sonora diversificada e cheia de energia.
Lê Almeida visita inúmeros universos sonoros e paisagens psicodélicas em seu mais recente álbum, 'I Feel In The Sky'. Essa obra quebra todas as barreiras e expande fronteiras na música brasileira. O trabalho demonstra com maestria a sensação de liberdade criativa. As canções do disco foram gravadas em São Paulo, Seattle e Nova York, e essa pluralidade se reflete nas músicas, que ampliam a jornada musical do artista com primor. O resultado simplesmente pode ser mais um registro para a lista dos melhores discos nacionais do ano.
Conhecido como o mentor de uma cena indie inquietante e ao mesmo tempo instigante que surgiu nos subúrbios do Rio de Janeiro em meados dos anos 2000, Lê Almeida veio ganhando cada vez mais notoriedade pela mistura sonora que passeia entre Lo-fi, Kraut, Free Jazz, Afrobeat, Hip-Hop e música brasileira. Essas camadas vieram se intensificando em trabalhos como 'Amenidades' de 2018 e 'Aulas' de 2020.
'I Feel In The Sky' também reflete muito da jornada do músico, que percorreu mais de 10 países com sua banda Oruã e acompanhou o Built to Spill. O novo álbum solo do cantor surgiu dessas experiências, muitas das quais ocorreram nos intervalos e momentos de descanso. Muitas das canções nasceram de sessões improvisadas, enquanto outras foram inspiradas por situações inesperadas. O álbum em si destaca uma atmosfera serena e tranquila, repleta de melodias adequadas para uma viagem psicodélica, à medida que transita de uma faixa para outra (ouça atentamente a faixa-título e "Missão de Ouvir").
Ao ouvir o álbum, você perceberá nuances e detalhes que podem muito bem explicar o título do disco como uma representação das experiências em lugares urbanos e diversas culturas. Parece que o cantor absorveu essas camadas e as trouxe para sua própria realidade, agora com uma visão mais ampla do que nunca. 'I Feel In The Sky' vai além de ser simplesmente uma coleção de músicas; ele é a expressão de um artista que encontrou liberdade e inspiração em meio a diversos contextos culturais e geográficos. Talvez essa seja a definição que melhor explique a experiência sonora proporcionada por esse disco.
Difícil não se envolver e se encantar com os timbres e as melodias profundas e psicodélicas de "Baile de Cinema", uma jornada imersiva muito agradável, repleta de detalhes que foram minuciosamente trabalhados para proporcionar esse sentimento de conexão entre obra e ouvinte. Aproveite a viagem espacial. "Tafetá" é outra música que destaca o poder criativo de Lê Almeida, onde o músico transita por gêneros e ritmos; os vocais parecem surgir de dentro da melodia, como se fossem uma coisa só.
"Artes Cênicas" é puro psicodelia. A faixa bebe muito do free-jazz e Krautrock, convidando o ouvinte a entrar nesse mundo rico de elementos, detalhes e acordes experimentais. É uma explosão sonora diversificada e cheia de energia, sendo uma ótima canção para te tirar do seu mundo pequeno dentro de sua cabeça, abrindo as portas para você se tornar um "Bicho Solto".
'I Feel In The Sky' é um belo e audacioso projeto de Lê Almeida, um músico que ainda tem muito a dizer com sua criatividade e sonoridade. O disco se torna uma baita surpresa na música brasileira e uma ótima pedida para aqueles que ainda possuem o velho e enraizado pensamento de que não tem nada de bom sendo feito no Brasil em termos de cultura pop. Lê Almeida, juntamente com muitos outros, estão prontos para provar que isso não passa de pura conversa de botas batidas.
'I Feel In The Sky'
Lê Almeida
Ano: 2023
Gênero: Lo-Fi, Krautrock, Free-Jazz
Ouça: "Missão de Ouvir", "Baile de Cinema", "Artes Cênicas"
Humor: Experimental, Criativo, Viajante
Pra quem curte: Boogarins, Baleia, Carne Doce
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