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Ian Ramil quebra hiato e volta com o belo e harmonioso 'Tetein', um misto de frescor e paternidade

Ian Ramil embarca em uma atmosfera repleta de vigor e suavidade, buscando a simplicidade de momentos ternos e revigorantes.

Foto: Tuane Eggers / Divulgação


O que mais chama atenção e cativa na música feita pelo gaúcho Ian Ramil é a sua capacidade e criatividade para criar mundos imaginários, dosados ​​por uma paisagem lúdica repleta de sensibilidade e paixão. Essa é uma característica presente nos três álbuns do compositor: desde 'Ian' de 2014 e 'Derivacivilização' de 2015, o músico adotou em sua roupagem musical uma fórmula autêntica e única. Após um longo hiato, chega o mais recente trabalho intitulado 'Tetein', um disco intimista, que navega entre canções que mais parecem uma meiga e doce cantiga, trazendo temas relevantes e bem inspirados para essa era modernista dominada pelas redes sociais e pelos avanços da I A.


O novo álbum é uma obra de arte que ganhou asas com a chegada de Nina, sua filha. Com 12 faixas inovadoras e versáteis, o trabalho cativa com sua poesia aventureira e arranjos que exploram diversas texturas e dinâmicas. O disco mergulhou de forma intensa na esfera íntima e na realidade urbana, abraçando os fatos do dia a dia. Ian conseguiu entrelaçar toda a sua vivência nesses anos todos. Apesar do minimalismo e meiguice que vai de uma canção pra outra, cada faixa parece ter sido projetada para fazer os jovens adultos refletirem sobre suas vidas e o valor do tempo.



Essa é uma abordagem que já é entregue na bonita e singela faixa-título ("Tetein"), uma canção que evidencia as coisas importantes da vida, como afeto e intimidade, coisas que o mundo das redes sociais nunca irá te proporcionar. Ian lança versos reflexivos que conversam abertamente com a nossa realidade, enquanto a faixa segue com sua melodia aconchegante, que lembra um disco dos Beach Boys. "Nada de fake, foda-se o like, intimidade é bem maior", canta o músico. Logo em seguida, surge um dos momentos fofos do álbum: o interlúdio de "Canção de Chapeuzinho Vermelho", que traz a meiga voz de Nina. Aqueles breves 15 segundos que ressaltam a simplicidade de momentos ternos que renovam a esperança em nossos corações, aquela motivação que te faz seguir em frente.


Mas isso soa como um intervalo, para o ouvinte suspirar e se preparar para um dos momentos mais potentes e lúgubres do álbum com a presença de "Macho- Rey", uma música que trata das relações machistas toxicas, assunto bem presente em nosso cotidiano, ao mesmo tempo que traça um paralelo com as perturbações e inquietações do nosso meio urbano. Essa dinâmica e mudanças que vem e vão em 'Tetein', exploram toda a capacidade criativa de Ian, como se ele tivesse aprimorado todas aquelas camadas testadas nos dois álbuns anteriores.


Ian Ramil embarca em uma atmosfera repleta de vigor e suavidade, buscando a simplicidade de momentos ternos e revigorantes.

O tempo, a vida, a maturidade e a paternidade se unem para criar um disco de canções confessionais, honestas e sentimentais. Prova disso fica por conta da linda e serena "Cantiga de Nina", uma canção que mais parece uma cantiga de ninar, resgatando aquela gostosa sonoridade dos chorinhos dos anos 50 e 60. Mais uma vez, os laços de paternidade afloram no peito de Ian, e ele deixa saltar as emoções que percorrem o nosso corpo e alma depois que nos tornamos pais. A música funciona como uma breve fuga do contexto abordado no trabalho, é como ir a lua e voltar para a realidade e questionamentos sobre existencialismo e humanidade na poética e atmosférica "O Mundo é Meu País", que traz a colaboração com Luiz Gabriel Lopes.


Após esse momento de questionamentos e seriedade, mais uma vez Ian nos leva para uma viagem delicada e amorosa na leve e encantadora "O Bichinho", aquela canção para se sentar à beira-mar com a família, contemplar o pôr do sol e curtir esse gostoso bolero que resgatou a essência da música brasileira. Enquanto Ramil canta uma prosa para sua filha sobre o mundo que a espera lá fora, ao mesmo tempo que enxerga nela uma incansável esperança de dias melhores. Um momento que traz uma beleza inegável para obra.



Após oito anos sem lançar material inédito, Ian Ramil nos entrega um disco lírico, meigo, bonito e honesto. Um trabalho que consegue materializar os mais profundos sentimentos e manter um agridoce equilíbrio entre o popular e o contemporâneo. Os arranjos, melodias e a delicadeza e cuidado do músico com cada faixa desencadeia inúmeras paisagens sonoras que soam potentes, ao mesmo tempo que trazem leveza e suavidade. Um misto de frescor ousado cheio de ótimas ideias que despertam aquela doce sensação de surpresa a cada música. Um trabalho muito bem produzido, tocado e cantado. Com certeza, um dos melhores do ano. Tire um tempinho do seu dia para ouvir isso aqui, você não irá se arrepender.

 

Tetein

Ian Ramil


Lançamento: 23 de junho de 2023

Gênero: Experimental, Art Rock

Ouça: "O Bichinho", "Macho-Rey", "Tetein"

Humor: Meigo, Aconchegante, Ousado

Pra quem curte: Los Hermanos, Vanguart, Poty


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Veja o clipe de "O Bichinho":









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