'Heroes' de David Bowie uma obra soberba além do seu tempo.
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'Heroes' de David Bowie uma obra soberba além do seu tempo.

Atualizado: 29 de ago. de 2022



Heroes”, lançado em 1977, é um dos discos mais airosos e icônicos dentro da categórica discografia do saudoso "camaleão" do Rock-David Bowie. Para falar dessa obra portentosa, vamos voltar um pouco no ano de 1976, mais precisamente no final de 76, quando Bowie e seu amigo Iggy Pop, resolveram mudar-se para o Oeste de Berlim, com intuito de dar no pé dos holofotes e fugir do vício das drogas. A história do disco começa a ganhar forma a partir desse ponto. Nesse período Bowie, ficou extremamente maravilhado com o estilo Country Rock e, pela música clássica e mergulhou de vez no som de bandas como: Neu e Kraftwerk. Entre essas andanças por novas descobertas ele conhece o trabalho minimalista de Brian Eno, peça chave para produção e gravação de “Heroes”, que juntamente com Tony Visconti, construíram uma atmosfera experimental ambient sensacional. Uma obra-prima da Cultura Pop.


A gravação do disco foi marcada por dualidades; uma, Berlim dividida pelos reflexos da Segunda Guerra Mundial e no auge da Guerra Fria. Bowie e Eno conseguiram perfeitamente capturar essa atmosfera fria e árida e uniram essas características a música pop e a arte clássica. Gravado no Hansas Studio, ao lado do muro que dividia a cidade, detalhe que pode muito bem explicar o contexto e atmosfera introspectiva, densa e melancólica do disco. Bowie não esconde essa angustia, ele faz uso dela para transbordar por vocais que ressaltam seu poder vocálico e refletem na harmonia do disco. Algo bem interessante em relação à gravação de 'Heroes' foi que a única música pronta era "Sons of the Silent Age" que por sinal quase se tornou o nome do disco.


As influências do Krautrock ganham ainda mais forças com "V-2 Schneider" que pode muito bem ser uma baita homenagem ao Kraftwerk, a começar pelo nome da canção e seu clima cósmico e viajante. O que Bowie criou aqui foi extremamente hipnótico e visceral, o lado B do disco é totalmente enigmático e psicodélico, com sons espaciais, ruídos, sons do mar, ou melhor dizendo "Sense of Doubt" me lembra muito o som produzido pelo casco do caramujo.

A faixa título é uma das mais conhecidas de Bowie e teve a colaboração de Brian Eno na letra. A canção carrega um verso imortalizado e intemporal “Nós podemos ser heróis, apenas por um dia/Nós podemos ser nós mesmo, apenas por um dia”. Praticamente um hino de esperança, um voto em um futuro melhor, evidenciando que todos nós podemos se tornar heróis e mudar o curso da história.

Sempre que ouço essa música, se torna impossível não lembrar da emblemática cena do carro em 'As Vantagens de Ser Invisível' de 2012. Aquele momento caracteriza muito bem o que essa canção quer dizer.

Além disso, “Heroes” contou com um time fabuloso de músicos como: Carlos Alomar (guitarra), Dennis Davis (bateria), George Murray (baixo) e o incrível guitarrista Robert Fripp (King Krimson), que trouxe guitarras psicodélicas e experimentais para o álbum. E isso fica bem claro na faixa de abertura “Beauty and the Beast” com sons de metais e guitarras empíricas e uma letra bem complexa que abre inúmeras interpretações. Vale observar os tons vocálicos de Bowie que ajudam a criar esse clima atmosférico. Falando ainda de Robert Fripp, “Joe the Lion” abre com riffs de guitarras gritantes e fenomenais.


Heroes” é o segundo disco da icônica e fértil fase de Berlim de Bowie, um disco maravilhoso e emblemático. Estamos diante de um David Bowie dominado pelo ápice criativo, imerso em uma jornada de amadurecimento, buscando por respostas que talvez nunca teremos. São vivências, aprendizagens e emoções, diluídas em uma única dose. Um trabalho marcado pela frieza da cidade de Berlim.

 

Artista: David Bowie

Álbum: Heroes

Lançamento: 14 de outubro de 1977

Gênero: Art Rock, Glam Rock e Art Pop

Ouça: "Heroes", "Joe the Lion" e "V-2 Schneider"






 

Veja o vídeo de "Heroes" abaixo:


 

Ouça o disco no Spotify:

















 

Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror, adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com

















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