The War On Drugs Afirma Relevância Com o Exímio 'I Don't Live Here Anymore'
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The War On Drugs Afirma Relevância Com o Exímio 'I Don't Live Here Anymore'

Atualizado: 29 de ago. de 2022



Pode-se dizer, sem qualquer vestígio de erro, que, pelo menos nos últimos sete anos, qualquer menção referente ao The War on Drugs não é passível de ser recebida com a mínima indiferença. Isso porque, desde 'Lost In The Dream', álbum soberbo de 2014, Adam Granduciel e banda têm despertado cada vez mais o interesse e cada lançamento do sexteto da Filadélfia aguça as mais diversas expectativas relacionadas à sua trajetória desde então.


É oportuno lembrar aqui do mestre Kid Vinil, alguns anos antes de seu falecimento, chamando a atenção para o trabalho destes caras. Daquelas sacadas notáveis que acentuam a lacuna enorme deixada com a ausência de um verdadeiro guia dos sons mais instigantes.


A chegada de ‘I Don’t Live Here Anymore, quinto álbum de estúdio, vem para corroborar a sensação do aguardo proporcionada pelo que já foi demonstrado até aqui e as possibilidades trazidas com as novas faixas. O primeiro single e vídeo, “Living Proof”, já prenunciou a confirmação do atesto da grandeza de sempre e, não por acaso, é a faixa que dá as boas-vindas ao ouvinte para embarcar rumo às longas estradas de Granduciel, com direito às paragens particulares propiciadas pelos efeitos de sua minuciosa arquitetura sonora. E ele é tão firme, preciso, hábil em nos convencer disso e sabe que é tão especial ao fazê-lo.


Já se percebe, de cara, uma sutil diferença na apresentação gráfica do trabalho, com uma capa - talvez - mais clean, iluminada, onde se destaca uma certa leveza através da foto, do enorme fundo branco de neve. Imagem de inspiração springsteeniana? Pode ser. E Granduciel pode, sem qualquer restrição criativa, se deleitar com a herança tida com o cinza e o gelo de 'Nebraska' ou com as cores e o clima mais quente de 'Born in the USA'.


Num determinado instante, ele te convida para adentrar os domínios da solidão em um quarto escuro. Em outro, já te puxa, a seu modo, para dançar no meio da sala. A notável habilidade carimba o seu diferencial nesse mar de referências e estilos em profusão nesses tempos confusos, ligeiros, indefiníveis.

Uma série de hits em potencial vem à tona, sendo que alguns deles poderiam perfeitamente integrar uma playlist de rádio especializada em classic rock ou pertencer a um set indie descoladão de balada alternativa. Parece que eles têm certa manha em dialogar com o feito de figuras como Mark Knopfler e Don Henley, usufruindo da contribuição dessas relações e podendo trazer tal resultado, com um certo verniz cool moderno, para a “bolha” indie, evidenciando o valor histórico desses caras, senhores respeitáveis que contribuíram tanto para a tradição da cultura musical americana.


'I Don’t Live Here Anymore' não deixa a melancolia de vez para trás, mas ao mesmo tempo flerta com o almejo daquela pontinha de bonança. A faixa que dá nome ao disco, e é o segundo single, é conduzida numa levada magnética, modo on the road e permeada de certo charme, com a participação das garotas do Lucius, duo nova-iorquino. Outro momento marcante que ganha um bonito videoclipe, bem na linha que caracteriza o grupo na tela. Eles parecem tão espontâneos e se divertem tanto naquelas imagens.

E não tem como fugir da impressão de que seu líder é mesmo aquele sujeito simples, amante da natureza, que adora curtir os bichos, apreciar a vida no campo, compor, pegar sua guitarra e tocar com os amigos.

Difícil destacar algo em especial aqui, devido à regularidade absurda construída no decorrer do trabalho. A beleza introspectiva de "Rings Round My father’s Eye" se aproxima da magistral "Strangest Thing" do poderoso A Deeper Understanding, outro grande registro da discografia, que colocou mais peso na bagagem da banda, com um Grammy para carregar na mala. A faixa transporta o ouvinte para uma dimensão onírica, que parece se materializar através das camadas que vão construindo a atmosfera propícia para Granduciel manifestar suas reflexões, num entorno intimista, no qual ele trafega com tamanha desenvoltura.


Adam Granduciel soa como um meio irmão perdido de Jakob Dylan, vai deixando a voz nortear o esplendor instrumental com aquela serenidade característica de quem não precisa se esforçar tanto, ao conduzir o ouvinte na beleza particular de cada canção aqui, dividindo com ele suas introspecções e contemplações. Melodias como as de "Change", ‘'Old Skin" ou "Wasted'’ pegam pela mão e levam, com toda maestria, a graus de regozijo só alcançáveis naquelas audições que se configuram verdadeiros ritos e marcam de vez a vida de quem se entrega à abundante experiência.


Aos poucos, ele vai se firmando cada vez mais naquele panteão já habitado por figuras icônicas, consolidadas e de peso como Jeff Tweedy, por exemplo. O que, convenhamos, não é pouco e toda a atenção que o The War on Drugs recebeu de uns tempos para cá se torna absolutamente justificável e plenamente compreensível. Trata-se de um grupo com a pegada consistente para atingir os horizontes projetados em sua arte, calcados por suas mais nobres aspirações. E, claro, tudo caminha de acordo com as ambições genuínas e coerentes do seu homem de frente.


Impensável ao fim da audição não visualizar as grandes arenas, os festivais mais notórios, as turnês com ares de celebrações intermináveis. A música do The War on Drugs nos dá permissão para acreditarmos na materialização dessas possibilidades num mundo ainda tomado pelas incertezas oriundas da avassaladora desgraça global recente. E, ao contrário do que diz Adam em ‘I Don’t Wanna Wait’, a gente quer esperar, sim, até porque ele e sua banda, como poucos dotados de singular destreza artística, fomentam os nossos anseios mais imensuráveis.


Artista: The War On Drugs

Álbum: I Don't Live Here Anymore

Lançamento: 29 de outubro de 2021

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Ouça: "Living Proof", "Harmonia's Dream" e "Old Skin"










 

Veja o vídeo de "Living Proof" abaixo



 

Ouça 'I Don't Live Here Anymore' aqui























 

Marlons Silva

Redator

Sempre que pode ocupa seu tempo com o som de Jorge Ben Jor, Carole King e David Bowie, os livros do Irvine Welsh, os filmes do Ingmar Bergman e umas brincadeiras com a gatinha Lilly. Gosta muito também de pedalar. Acha que sem a música e a arte em geral, a vida seria um erro e também uma piada ruim muito sem graça. Enquanto aguarda ansiosamente uma temporada nova de Black Mirror, está sempre sendo apresentado a algo do universo dos animes pela filha Stella.










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