Forever Howlong: superação e reinvenção no novo disco do Black Country, New Road

alexandre.tiago209
há 4 dias
3 min de leitura

Prepare os fones de ouvido e mergulhe nesse disco, que merece ser ouvido, revivido e compartilhado

Com uma trajetória marcada pela ousadia sonora e pela profundidade emocional, o Black Country, New Road se consolidou como uma das bandas mais criativas da cena britânica contemporânea. Atualmente formada por Tyler Hyde, Lewis Evans, Georgia Ellery, May Kershaw, Charlie Wayne e Luke Mark, a banda sempre navegou por um oceano de referências que vai do pós-punk ao chamber pop, do art rock ao baroque pop — criando uma identidade única que já encantou público e crítica em álbuns como For the First Time (2021) e Ants From Up There (2022).

No entanto, uma reviravolta desafiadora abalou o grupo: a saída de Isaac Wood, vocalista e principal compositor, que deixou a banda por questões de saúde mental. Com a perda de uma figura central, muitos imaginaram o fim do projeto. Mas o que se viu foi o contrário — uma banda resiliente, disposta a reconstruir sua própria história.

Depois do intimista Live at Bush Hall (2023), que já sinalizava uma nova fase, o Black Country, New Road retorna em 2025 com Forever Howlong — um álbum que representa não só a continuidade, mas a reinvenção completa do grupo.

Com 11 faixas e pouco mais de 52 minutos de duração, Forever Howlong mergulha em atmosferas mais acessíveis e envolventes, com uma sonoridade que funde pop progressivo e rock alternativo com toques de folk, música clássica e barroca. É um disco que impressiona pela coesão, pela emoção e pelo equilíbrio entre os integrantes — tanto vocal quanto instrumentalmente.

Logo na abertura, com “Besties”, o ouvinte percebe que a banda encontrou um novo centro gravitacional. Georgia Ellery brilha nos vocais com uma interpretação delicada e sincera, enquanto arranjos sofisticados embalam uma letra sobre amizade e amor. A faixa funciona como uma carta de intenções: há vida após Isaac Wood, e ela é vibrante.

O folk-pop também está presente nesse novo trabalho e faixas como “Two Horses”, “The Big Spin” e “Socks”, onde os timbres acústicos e as harmonias vocais evocam artistas como The Corrs, Joan Baez e até The Tragically Hip. Aqui, o trio vocal composto por Tyler Hyde, Ellery e May Kershaw entrega um trabalho afinado, sensível e artisticamente refinado.

O ponto alto emocional do disco vem com a trinca formada por “Happy Birthday”, “For the Cold Country” e “Nancy Tries to Take the Night” — três músicas distintas que funcionam como pequenos épicos sonoros. Os arranjos densos e as letras introspectivas lembram a grandeza poética das três faixas inicias do fantástico disco "The Joshua Tree" do U2, com vocais potentes e atmosferas que arrepiam.

Encerrando com a pungente “Goodbye (Don’t Tell Me)”, o álbum se despede com classe, refletindo tudo o que a banda viveu e superou. A faixa é carregada de emoção e simbolismo, como se o Black Country, New Road estivesse encerrando um ciclo para dar início a outro ainda mais criativo.

Forever Howlong talvez não tenha o impacto inicial avassalador dos dois primeiros discos do grupo, mas sua beleza está em outro lugar: na maturidade, na reinvenção e na superação. O disco prova que o coletivo é mais forte do que qualquer ausência, e que a banda soube transformar a dor em arte, a dúvida em reinício.

O respeito à diversidade vocal lembra o que os Titãs fizeram no Brasil: dividir os microfones e multiplicar as vozes. Mas o BCNR vai além, com um domínio técnico impecável e coragem para explorar novos caminhos sem abandonar suas raízes. Em tempos de incertezas, Forever Howlong é um lembrete de que a música ainda pode curar, transformar e surpreender.

Prepare os fones de ouvido e mergulhe nesse disco que merece ser ouvido, revivido e compartilhado.