Especial safra brasileira/ 1973, parte 4: O romantismo e o senso crítico de Gal Costa em "Índia"
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Especial safra brasileira/ 1973, parte 4: O romantismo e o senso crítico de Gal Costa em "Índia"

Um especial que explora o Brasil e a música brasileira em 1973. O quarto texto é sobre o famoso disco "Índia" , da ilustre Gal Costa.

Gal Costa – Foto: Reginaldo Teixeira



A cada ano que passa, há uma reflexão sobre os anos anteriores em termos de arte e cultura, que podem servir de inspiração ou até de nostalgia. Isso acontece tanto para quem nasceu naquele período quanto para quem não nasceu. A pesquisa é um recurso que permite conhecer e apreciar coisas marcantes daquele tempo, com sentimentos que vão da curiosidade ao prazer de admirar algo considerado maravilhoso.


O ano que será discutido aqui e nas futuras postagens desse especial é 1973, considerado por muitos como um ano extremamente produtivo, impactante, emocionante e criativo que pode ser analisado em várias camadas culturais e sociais. O que será avaliado será o Brasil e a música brasileira que, anos antes, vivia uma época de grande qualidade, diversidade e produtividade, como em 1972.


O quarto álbum a ser falado nesse especial é o icônico 'Índia' de Gal Costa.




A tropicália foi ao lado da Bossa Nova e da Jovem Guarda um movimento/gênero musical que revolucionou a música brasileira, mais precisamente, a MPB, que trouxe elementos e instrumentos que fizeram ela ficar ainda mais rica e poética com letras sejam românticas ou politizadas.


Isso fez com que militares, durante a ditadura militar no Brasil, perseguisse ou censurasse artistas. Entre os censurados temos nomes como Gonzaguinha (na época era chamado de Luiz Gonzaga Júnior), Raul Seixas e Taiguara. Já os que tiveram que se exilar por um período temos: Geraldo Vandré, Chico Buarque, Gilberto Gil, Nara Leão e Caetano Veloso. E também teve artistas que ficaram para mostrar sua arte mesmo sabendo que podia ser censurado, como foi o caso de Jorge Ben (que mais tarde se chamaria Jorge Ben Jor) e Gal Costa.


Gal Costa nasceu em 26 de setembro de 1945 e faleceu em novembro de 2022, a cantora baiana foi, desde o fim dos anos 1960, uma das maiores vozes femininas da música brasileira. Isso se deve ao fato de que ela nunca se calou diante do autoritarismo promovido por militares a ponto de fazer um show marcante que resultou no fabuloso álbum ao vivo “Fa-Tal - Gal a todo vapor” de 1971. Após esse lançamento, ela resolveu entrar em uma fase que viria a ser mais romântica e leve ao mostrar que a Tropicália era uma aliada musical da Bossa Nova, podendo trazer repertórios incríveis nessa mistura musical que enriqueceu ainda mais a Música Popular Brasileira. E é nesse período em que é lançado o disco “Índia” de 1973.



“Índia” é considerado um dos melhores discos de estúdio da Gal por ter um ótimo set list, músicos ótimos como Dominguinhos (que era reconhecido como um autêntico sucessor musical de Luiz Gonzaga por causa de seu ótimo repertório) e Toninho Horta (um esplêndido guitarrista e também membro do Clube da Esquina), produção fina de Gilberto Gil (recém-saído do exílio em Londres) e um impacto cultural atemporal seja pelo seu som ou pelas letras.

Apesar disso tudo, ele também é conhecido por uma polêmica. Sua capa censurada pelo regime militar na época. No original ele estampa uma foto de Gal com uma tanga vermelha e uma saia indígena. E na contracapa temos seios da intérprete coberto por colares. Apenas em 2015, a capa foi liberada. A censura ocorreu, pois Roberto Menescal, que na época era diretor artístico da Polygram (atual Universal Music), foi pressionado por censores a barrarem a capa. Isso fez com que a edição física do álbum naquele período tivesse a embalagem lacrada.


Apesar de tudo, esse trabalho de Gal não foi ofuscado. Ele traz 9 faixas espetaculares, que começa muito bem com a faixa-título, a qual é uma regravação de um clássico da MPB gravado e cantado pela dupla caipira Cascatinha & Inhana nos anos 1950. A canção tem um som romântico e intenso, com direito a um bonito som de flauta. “Desafinado” é mais uma regravação do trabalho e essa é um da compilação de sucessos de Tom Jobim e Bossa Nova que aqui ganhou uma roupagem cheia de poesia e Baião.


“Presente Cotidiano” é mais uma contribuição de Luiz Melodia no repertório de Gal que havia cantando anteriormente “Pérola Negra” em seu trabalho anterior. O carioca só iria lançar sua versão da música em 1978 no disco "Mico de Circo", porém, pode se dizer que a baiana deu um tom dançante que mistura Forró e Coco graças a Dominguinhos que promove um belo som na sua sanfona a ponto de convidar o ouvinte para dançar enquanto deparamos com uma letra filosófica.


“Milho Verde” é uma versão folclórica da música portuguesa onde se há uma percussão bem explorada com variadas camadas e cristalinas de vozes da artista e Dominguinhos com a sanfona bem afinada. Em “Volta” temos um canção romântica onde se ouve uma voz emocionante, um piano bem jazzista e uma letra bela onde o lírico súplica pela volta da pessoa amada sem parecer clichê.


Já em “Pontos de Luz” temos mais uma interferência jazzista, entretanto, aqui ela se mistura com elementos do Rock que faz ser bem elétrica, empolgante e dançante que traz uma letra que exalta muito bem felicidade e amor-próprio. “Da Maior Importância” apresenta uma letra de Caetano Veloso que mostra o quanto que a Tropicália permanecerá viva com suas letras esplêndidas.


“Índia" é um trabalho eclético e romântico, apresentando diversas referências musicais, letras de qualidade, vozes tranquilas e uma artista que demonstra a amplitude de seu repertório sem perder as influências e o senso crítico ao mostrar sua força, talento e versatilidade que, com o decorrer do tempo, a transformaram numa representante feminina que merece ser conhecida, ouvida e difundida para sempre na música brasileira.

 

Índia

Gal Costa


Lançamento: 1973.

Gênero: MPB.

Ouça: "Índia", "Milho Verde", "Pontos de Luz".

Humor: Tropicalista, Provocativo



 

NOTA DO CRÍTICO: 10

 

Assista Gal Costa cantando a música "Índia":



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