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Entre risos e catástrofes, a história de Caro Morrissey…

O livro é um mergulho entre o cômico e o trágico, uma tragicomédia adolescente

Livro Caro Morrissey de Willy Russell
Imagem: Reprodução

A leitura desta semana se entrega às páginas de Caro Morrissey…, do inglês Willy Russel, publicado pela Nossa Cultura. Um livro que, à primeira vista, parece falar só da vida errante de um adolescente, mas se desdobra em algo muito maior: a turbulência, o humor e a sinceridade de crescer em um mundo que não faz sentido.



Raymond Marks não é um garoto comum. Seu pai? Um colecionador de instrumentos musicais que nunca tocou nenhum, mas devorava a renda da família com eles, deixando apenas o abandono como herança. Desde cedo, Raymond se vê entre uma mãe batalhadora e uma avó que respira Sartre, tentando sobreviver à própria rotina, nada normal. Ele é “aparentemente” normal — fã de música pop, um adolescente inglês qualquer.


Mas a vida tem outros planos. Pequenos episódios se tornam catástrofes; um lago, amigos e um jogo perturbador envolvendo moscas e uma parte do corpo humano transformam tudo. É nesse ponto que Raymond pega a estrada, um caderno na mão, e escreve: “Caro Morrissey…”, tentando entender a própria história.


O livro é um mergulho entre o cômico e o trágico, uma tragicomédia adolescente. Willy Russel consegue transformar o ordinário em extraordinário: diálogos que pulsam inteligência, situações que irritam, divertem e, por vezes, emocionam. Cada detalhe parece pensado para “alegrar os olhos” de quem lê, para encher a página de vida, e de verdade. É impossível não se reconhecer em algum momento na inquietação de Marks, nas pequenas derrotas e nas risadas amargas que a adolescência impõe.



E o autor? Liverpool, 15 anos, escola abandonada, seis anos como cabeleireiro, empilhando meias na Bear Brand, limpando vigas na Ford… e então a escrita, primeiro música, depois teatro. Peças premiadas, musicais celebrados, filmes adaptados… e sempre aquele olhar sincero para as pessoas comuns, para a vida de quem cresce sem manual, sem glamour, tentando entender o mundo. Caro Morrissey… é, talvez, seu triunfo: criar um personagem inesquecível, impactante na memória, que permanece depois da última página, que nos lembra que crescer é mesmo uma mistura de risos, dores e pequenas epifanias.


Caro Morrissey… também dialoga com a nossa era hiperconectada, onde adolescentes já não escrevem cartas para ídolos, mas despejam fragmentos de si em timelines, stories e mensagens instantâneas. Raymond Marks poderia ser hoje aquele garoto que desabafa em um feed anônimo, que transforma sua vida em pequenos posts — e, no fundo, procura o mesmo que procurava no papel: ser ouvido, ser entendido, ser alguém além dos rótulos que o mundo insiste em colar. Talvez seja essa a força atemporal da história: lembrar que, mudem os meios, a urgência de contar quem somos continua a mesma.

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