'Doutor Estranho 2' não se desenvolve como filme, mas faz Sam Raimi e Olsen brilharem nas telas
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'Doutor Estranho 2' não se desenvolve como filme, mas faz Sam Raimi e Olsen brilharem nas telas

Confuso e repetitivo, 'Doutor Estranho no Multiverso da Loucura' erra o alvo



O que aprendemos com Doutor Estranho e a Marvel é que podemos começar a esquecer filmes com galáxia, a grande sacada agora é o multiverso, uma extensão de dimensões onde se torna possível encontrar várias versões de si mesmo levando uma vida alternativa.


Aproveitando o Hype de que ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura’ chegou na plataforma de streaming do Disney+, vamos divagar um pouco sobre o filme do Universo Cinematográfico Marvel. Uma das características que chama a atenção em 'Doutor Estranho 2', de fato, é a direção do aclamado diretor Sam Raimi, para quem é fã da filmografia do cineasta e já conferiu o filme, com certeza, sacou as inúmeras referências a sua particularidade. Raimi, garante momentos divertidos voltados mais para o suspense e terror, seus enquadramentos e tomadas de câmeras são inquestionáveis, as inúmeras referências ao clássico 'The Evil Dead' estão por todo o filme, até mesmo alguns elementos do ótimo 'Arraste-Me para o Inferno' de 2009.


Primeiramente o filme seria dirigido por Scott Derrickson, que dirigiu o primeiro Doutor Estranho solo no MCU, mas por divergências de processo criativo ele acabou sendo substituído por Sam Raimi.


Algo realmente formidável. A maneira como Sam introduz sua forma autoral, dando aquela impressão de que Doutor Estranho possa ser um filme de suspense/terror, misturado com aventuras e fantasias, aflora em muitas cenas. Porém, Raimi possui liberdade até certo ponto para explorar sua identidade no filme, depois é devidamente podado pelo conceito Marvel, e sua classificação indicativa. Isso não foi bom para o desenvolvimento do filme. Apesar de ter um grande diretor na direção, experiente e familiarizado com o gênero (responsável pela primeira trilogia do Homem-Aranha), já ouviu aquela expressão, “Uma andorinha só não faz verão’? Pois, bem! Isso atrela perfeitamente para 'Doutor Estranho no Multiverso da Loucura'.


Temos várias ressalvas que podemos elencar nessa analise já um tanto atrasada, mas antes tarde do que nunca, né? A começar pelo roteiro preguiçoso, que deixa aquela impressão de ter sido escrito por uma criança, com falas bobas e previsíveis que subestimam nossa capacidade mental, isso é até compreensível vindo do MCU, a senhora Marvel sabe muito bem o público que tem, e o potencial de suas obras mais relevantes, e com isso acabam que investindo mais em outros filmes e deixando outros a ver navios. Essa é a sensação do roteiro repleto de cortes de Doutor Estranho 2.


O desenvolvimento do filme sofre com as falhas do roteiro escrito por Michael Waldron (Rick and Morty, Loki e Heels) e Jade Bartlett (The Accountant). E de fato, deixa aquela questão no ar, o que aconteceu aqui? A infantilidade do roteiro torna algumas cenas cansativas, por mais que Raimi (o salvador) tente articular momentos excepcionais, explorando uma coisa ali outra aqui, dando suas características ao filme, sempre fica aquela sensação de que poderia ter sido mais, poderia ter sido melhor.



Outro fator que incomoda muito no filme é o padrão Marvel que deixa claro que eles fazem filmes para os verdadeiros fãs do Universo Cinematográfico do estúdio, aqueles que absorvem todas a produções e consomem tudo que a gigante lança. Isso pode incomodar aquelas pessoas que eventualmente assistem a um filme ali outro aqui, já que Doutor Estranho 2 deixa pontas soltas sobre os Multiversos: as dores que transformaram Wanda na Feiticeira Escarlate, as confusões aprontadas por Peter Parker e Doutor Estranho com o multiverso no filme 'Homem-Aranha: Sem Volta para Casa', partindo deste ponto, se você não viu Homem-Aranha, Wanda Vision e Loki, você não irá entender praticamente nada. Esse conceito e padrão da Marvel incomoda e Sam Raimi sentiu isso na própria pele.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura fica amplamente preso no extenso universo MCU, mas a direção diferenciada de Sam Raimi, abre um leque de diversão no filme.

A narrativa de ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura’ parte da seguinte premissa, América Chavez (Xochitl Gomez) possui o poder de transitar pelos multiversos, e com isso uma entidade maligna quer apossar de seus poderes para benefício próprio. América, busca por ajuda no universo do Doutor Estranho interpretado pelo carismático Benedict Cumberbat, que se propõe ajudar a jovem. Os conflitos estão lançados, a partir disso, temos cenas de lutas que são muito boas, viagens pelos multiversos, que por sinal são muito bem feitas, as janelas de cores, enquadramentos e tomadas de câmeras são deslumbrantes, logo de cara, você reconhece a identidade do diretor por trás das câmeras.


O filme poderia ter explorado melhor esse conceito de multiverso, certos momentos a impressão que fica e de realidades alternativas e não multiversos. Você tem um filme onde a personagem chave da trama possui o poder de viajar pelas dimensões do multiverso, não explorar isso é minimizar sua participação na trama, América Chavez até se esforça para se desenvolver, mas é mais uma personagem que sofre pelas falhas do roteiro, a maior parte do filme ela é mal aproveitada.



Em relação às atuações, Benedict Cumberbat está muito bem, ele entrega realmente aquilo que você espera do Doutor Estranho, Elizabeth Olsen como Feiticeira Escarlate, se sobressai, ela é a responsável pelas melhores cenas do filme. Aproveitando o gancho da atuação, se me permitem a divagação, o filme apresenta uma versão de Wanda que vai cada vez mais se tornando uma entidade assombrosa, mais uma vez Sam Raimi fazendo sua magia acontecer, essa versão de Wanda é característica pura do diretor. Já Xochitl Gomez deixa aquela impressão de que precisa ser mais explorada, ter mais participação ativa, em Doutor Estranho 2, ela é severamente penalizada pelo vilão roteiro, somente no último ato a vemos realmente entrar em ação. O mesmo vale para o personagem Wong (Benedict Wong) que ficou totalmente deslocado no filme.


O grande problema do longa da Marvel é pautável nas lacunas mal resolvidas do roteiro, em não explorar a fundo o multiverso, em não dar mais ênfase aos poderes de Chavez e na liberdade limitada do diretor. Raimi até consegue atribuir um pouco mais de densidade ao filme, com mortes um pouco mais brutais e versões de personagens voltadas para o gênero terror, a produção não chega a ser o primeiro filme de super-heróis da Marvel voltada para o gênero, mas o cineasta consegue brincar muito bem com os elementos do terror, isso agrada e diverte durante a experiência.


O filme tem seus momentos de surpresas, algumas cenas que podem gerar alguns sustos, a presença de novos personagens que abrem questões para serem exploradas em uma próxima sequência, a cena final que é mais uma pincelada do dedo de Sam Raimi fazendo aquilo que ele sabe de melhor. Portanto, nem tudo está perdido em Doutor Estranho 2, mas que poderia ser um filme melhor, isso poderia. A Marvel deixou a desejar em muitos critérios. Os pontos altos do filme ficam por conta da direção e da atuação de Olsen que pode ser considerada uma das melhores performances dela, no MCU.


'Doutor Estranho 2' acaba se tornando um passeio divertido do diretor Sam Raimi e o resultado disso, traz algumas satisfações: cidades em ruínas, corpos carbonizados, esqueletos e uma versão sombria de um Doutor Estranho onde o diretor revisita seu clássico 'Darkman' de 1990, tudo isso deixa a prova de que ele honra suas credenciais no gênero terror. Uma pena o resultado final ter sido pouco envolvente e trancado por padrões e conceitos de um grande estúdio. Brincadeiras a parte, o filme poderia muito bem se chamar 'Feiticeira Escarlate no Multiverso da Loucura'.

 

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Doctor Strange in the Multiverse of Madness


Lançamento: 2022

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 126 min

Direção: Sam Raimi

Roteiro: Michael Waldron

Elenco: Rachel McAdams, Xochitl Gomez, Benedict Wong, Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen

Onde ver: Disney +


 

NOTA DO CRÍTICO: 6,5

 

Confira o trailer do filme abaixo:


 

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