Berta Loran: morre aos 99 anos a atriz que fez do riso uma forma de resistência
- Marcello Almeida

- 29 de set.
- 2 min de leitura
Do drama da fuga do nazismo às gargalhadas da “Escolinha do Professor Raimundo”, uma vida inteira dedicada ao palco

A atriz Berta Loran morreu na noite deste domingo (28), aos 99 anos, no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, Zona Sul do Rio. A causa da morte não foi divulgada pela família. Polonesa de nascimento, brasileira de coração, Berta construiu uma trajetória marcada pelo humor, pela irreverência e pela capacidade rara de transformar dor em riso.
Nascida Basza Ajs, em Varsóvia, em 1924, chegou ao Brasil em 1937 com os pais e cinco irmãos, fugindo do nazismo que se espalhava pela Europa. Instalada com a família em um cortiço na Praça Tiradentes, no Rio, foi ali, entre dificuldades e improvisos, que descobriu no teatro um caminho. Influenciada pelo pai, ator e alfaiate, trocou o nome pelo artístico que a eternizaria: Berta Loran.
Sua estreia foi ainda adolescente, nos espetáculos de revista do Teatro Carlos Gomes. Entre tropeços e improvisos, encontrou a veia cômica que guiaria sua vida. “Sempre ri das dificuldades, até da fome que a gente passava”, recordou em uma de suas entrevistas.
Nos anos 1950, entrou para o cinema em plena era da chanchada, participando de títulos como Sinfonia Carioca (1955) e Garotas e Samba (1957). Na televisão, tornou-se presença constante: brilhou em novelas como Amor com Amor se Paga (1984), mas foi no humor que ganhou o carinho definitivo do público. Sua personagem Manuela D’Além-Mar, da Escolinha do Professor Raimundo, tornou-se inesquecível.
Berta viveu intensamente também fora da cena: entre casamentos, viagens e dificuldades financeiras, nunca perdeu o ímpeto de recomeçar. Atuou até os últimos anos, entre palcos e filmes, como em Jovens Polacas (2017) e Canta pra Subir (2018).
De refugiada a estrela da televisão brasileira, sua história mistura coragem, resistência e leveza. Berta Loran atravessou quase um século provando que o riso, mesmo nas horas mais duras, é uma forma de sobreviver.
Porque há artistas que não pertencem apenas ao palco, mas ao coração de quem aprendeu com eles que rir é também um ato de liberdade.















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