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Berta Loran: morre aos 99 anos a atriz que fez do riso uma forma de resistência

Do drama da fuga do nazismo às gargalhadas da “Escolinha do Professor Raimundo”, uma vida inteira dedicada ao palco

Berta Loran
Márcio de Souza/TV Globo

A atriz Berta Loran morreu na noite deste domingo (28), aos 99 anos, no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, Zona Sul do Rio. A causa da morte não foi divulgada pela família. Polonesa de nascimento, brasileira de coração, Berta construiu uma trajetória marcada pelo humor, pela irreverência e pela capacidade rara de transformar dor em riso.



Nascida Basza Ajs, em Varsóvia, em 1924, chegou ao Brasil em 1937 com os pais e cinco irmãos, fugindo do nazismo que se espalhava pela Europa. Instalada com a família em um cortiço na Praça Tiradentes, no Rio, foi ali, entre dificuldades e improvisos, que descobriu no teatro um caminho. Influenciada pelo pai, ator e alfaiate, trocou o nome pelo artístico que a eternizaria: Berta Loran.


Sua estreia foi ainda adolescente, nos espetáculos de revista do Teatro Carlos Gomes. Entre tropeços e improvisos, encontrou a veia cômica que guiaria sua vida. “Sempre ri das dificuldades, até da fome que a gente passava”, recordou em uma de suas entrevistas.


Nos anos 1950, entrou para o cinema em plena era da chanchada, participando de títulos como Sinfonia Carioca (1955) e Garotas e Samba (1957). Na televisão, tornou-se presença constante: brilhou em novelas como Amor com Amor se Paga (1984), mas foi no humor que ganhou o carinho definitivo do público. Sua personagem Manuela D’Além-Mar, da Escolinha do Professor Raimundo, tornou-se inesquecível.



Berta viveu intensamente também fora da cena: entre casamentos, viagens e dificuldades financeiras, nunca perdeu o ímpeto de recomeçar. Atuou até os últimos anos, entre palcos e filmes, como em Jovens Polacas (2017) e Canta pra Subir (2018).


De refugiada a estrela da televisão brasileira, sua história mistura coragem, resistência e leveza. Berta Loran atravessou quase um século provando que o riso, mesmo nas horas mais duras, é uma forma de sobreviver.


Porque há artistas que não pertencem apenas ao palco, mas ao coração de quem aprendeu com eles que rir é também um ato de liberdade.

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