A Maldita vive: o grito eterno de Luiz Antônio Mello e a revolução da Fluminense FM
- Marcello Almeida
- 11 de mai.
- 2 min de leitura
Uma emissora não morre quando vira silêncio. Ela morre quando esquecem seu ruído. Mas a Maldita continua gritando

Ela surgiu como um acidente no dial, uma interferência que virou revolução. Em 1982, enquanto a ditadura desbotava e a cultura ainda tateava no escuro, um homem decidiu abrir os microfones para o que ainda não tinha nome: o rock brasileiro.
Luiz Antônio Mello não criou apenas uma rádio. Criou um estado de espírito. Fundou a Fluminense FM em Niterói com o peito aberto e o ouvido ligado no que ninguém queria tocar. Deu voz à rebeldia quando ninguém mais ousava. Por isso ficou conhecida como A Maldita — porque não respeitava o previsível, o domesticado, o que cheirava a mofo.
Foi ali, naquela frequência de 94,9 MHz, que os alto-falantes gritaram Blitz, Paralamas, Barão, Legião — antes de qualquer outro lugar. A Fluminense FM não apenas antecipava o futuro: ela o forjava ao vivo, entre vinhetas cortadas à navalha e locutores que falavam como quem vivia. Mello, com seu faro jornalístico, entendia que rádio não era apenas som — era contexto, urgência, pulsação social.

Enquanto as rádios comerciais obedeciam planilhas, a Maldita jogava fósforo nos palcos. E Luiz Antônio Mello era o incendiário.
Sua trajetória virou livro — A Onda Maldita, publicado em 1994 — onde ele conta, com precisão cirúrgica e paixão documental, como uma rádio pequena e ousada virou trincheira da cultura brasileira. E em 2024, a história ganhou as telas com Aumenta que é Rock’n’Roll, filme inspirado em sua vida. A produção retrata o jovem Mello em meio à efervescência criativa do país, ao lado de bandas ainda em formação, mas prestes a explodir. O que era bastidor virou cinema. O que era rádio virou lenda.
Aos 70 anos, Mello nos deixou no fim de abril de 2025. Mas não existe data de morte para quem transformou o rádio num instrumento de liberdade cultural. O som que ele provocou continua ressoando em playlists, em documentários, nas memórias de quem sintonizou e nunca mais foi o mesmo.
A história da Maldita é a prova de que uma boa rádio não passa: ela marca. Ela forma. Ela lateja.
Luiz Antônio Mello não foi apenas um garimpeiro de sons. Foi um garinteiro de ideias — descobrindo, lapidando, apostando em gente. E isso nenhum algoritmo vai substituir.
A Maldita vive. Porque seu criador fez do rádio um altar para quem nunca teve púlpito.
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