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6 vozes femininas da música brasileira para comemorar a democracia e a força feminina

A democracia também se canta na voz das mulheres

Elza Soares
Imagem: Reprodução

A democracia brasileira nunca foi um caminho linear: é feita de rupturas, cicatrizes, reconquistas. Se muitas vezes a história oficial apagou vozes, a música cuidou de preservá-las. O Brasil se reconhece em suas cantoras — mulheres que transformaram dor em canto, censura em resistência, amor em manifesto. São elas que, mesmo diante da violência, do machismo e das tentativas de silenciamento, reafirmam a potência de existir livremente.



Quando pensamos na força feminina dentro da democracia, não falamos apenas de urnas e direitos constitucionais, mas da arte que insiste em existir como ato político. E poucas coisas são tão políticas quanto uma voz feminina se recusando a calar.


1. Elis Regina — a intérprete da resistência

Elis Regina
Imagem: Reprodução

Elis Regina foi mais que cantora: foi consciência. No auge da ditadura, sua interpretação de “O bêbado e a equilibrista” (Aldir Blanc e João Bosco) tornou-se um hino pela anistia. A letra falava de esperança e saudade dos exilados, e Elis a cantava como quem devolvia humanidade a um país marcado pelo medo. Sua postura crítica, sua recusa ao conformismo e sua coragem em palco fizeram dela um símbolo democrático. Elis representava a mulher que não pedia licença — cantava para transformar.


2. Gal Costa — a ousadia tropicalista

Gal Costa
Foto: Julia Rodrigues

Na Tropicália, Gal Costa foi voz e corpo da liberdade. Em músicas como “Divino Maravilhoso” e “Baby”, sua interpretação rasgava os limites do permitido. Sua sensualidade em cena, seus gritos e sua ousadia estética afrontavam um regime que tentava controlar até o modo de pensar. Gal não apenas cantava: ela performava democracia, mostrando que a arte não deve temer a repressão. Sua voz é memória viva de que ousadia também é forma de resistência.


3. Maria Bethânia — a sacerdotisa da palavra

Maria Bethânia
Foto: Divulgação/Jorge Bispo

Com sua voz grave e envolta em espiritualidade, Maria Bethânia tornou-se um dos pilares da música brasileira. Em canções como “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil) — que ela também ajudou a eternizar — e em sua trajetória marcada pelo sincretismo religioso, Bethânia invocou a ancestralidade como fonte de força. Sua presença em palco sempre foi ritualística: cada palavra carregava mística, resistência e identidade nacional.


Democracia, em Bethânia, é aquilo que conecta povo, fé e liberdade de expressão.



4. Cássia Eller — a rebeldia dos anos 90

Cássia Eller
Imagem: Divulgação

Na década de 1990, Cássia Eller trouxe o choque necessário para um Brasil em transição. Sua interpretação de “Malandragem” (Cazuza e Frejat) virou manifesto de uma juventude que não queria se enquadrar. Mulher lésbica, intensa e sem filtros, Cássia desafiou preconceitos com sua vida e sua música.


Era a tradução de uma democracia que não podia mais ignorar corpos dissidentes e vozes marginais. Sua energia no palco, sua entrega visceral, são lembranças de que democracia é também espaço para a diferença.


5. Elza Soares — a mulher do fim do mundo

Imagem: REPRODUÇÃO
Imagem: REPRODUÇÃO

Nascida no subúrbio carioca, negra e pobre, Elza Soares cantou sobre fome, racismo, machismo e violência antes que a sociedade estivesse pronta para ouvir. Nos últimos anos de vida, com o álbum “A mulher do fim do mundo”, ela escancarou as feridas abertas do Brasil. Sua voz rouca, cortante, não pedia permissão: denunciava.


Elza é prova de que democracia só existe quando a periferia, os oprimidos e as mulheres negras também podem falar — e ser ouvidos.


6. Alcione — a marrom da resistência popular

Alcione
Imagem: Divulgação

A voz de Alcione é uma das mais fortes representações da cultura popular brasileira. Cantora de samba, de MPB, de bolero e até de canções de protesto, ela se tornou símbolo de pertencimento e identidade. Em músicas como “Não deixe o samba morrer”, Alcione transformou o samba em ato de resistência, lembrando que a democracia cultural também depende da preservação das raízes afro-brasileiras.


Sua trajetória reafirma que a força da mulher negra está no timbre que não se dobra, no canto que ecoa gerações.


A democracia não é apenas urna e voto — é também voz, canto e memória. E as mulheres seguem sendo seu som mais profundo.

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