Éden não é perfeito embora seja mais uma oportuna análise sobre os conflitos em sociedade
- Eduardo Salvalaio

- há 10 horas
- 3 min de leitura
Éden é um filme interessante, sobretudo quando se pretende analisar o homem diante da sociedade

No cinema, muito comum presenciar o homem exilado que tenta buscar a paz interior em lugares ermos ou distantes da civilização. Quase sempre essa paz, essa busca pela própria identidade, perde seu equilíbrio devido a natureza humana. Mesmo diante do clima desfavorável ou perante a vida selvagem, é o próprio homem contra ele mesmo que destrói essa harmonia. Como bem dizia Thomas Hobbes: ‘o homem é o lobo do homem’.
Essa ideia citada acima recai em Éden, filme dirigido por Ron Howard. Ele também foi responsável pelo roteiro junto a Noah Pink (Tetris, 2023). Howard é um calejado cineasta e sabemos bem que ele adora trabalhar com assuntos que trazem dramas biográficos como aconteceu com Uma Mente Brilhante (2001) e Rush (2013).
Na década de 30, com o mundo passando por momentos turbulentos na Economia e o Fascismo se alastrando, o casal Heinz (Daniel Brühl) e Marget (Sydney Sweeney) abandonam tudo e chegam a ilha de Floreana, no Galápagos. Ambos foram influenciados pelos relatos do médico alemão Friedrich Ritter (Jude Law) que fez do lugar sua morada ao lado da esposa Dore Strauch (Vanessa Kirby).
O médico e sua esposa vivem uma vida tranquila, sem conforto e regalias, plantando seus alimentos e optando pelo vegetarianismo. É a partir da chegada do casal, que o comportamento de Friedrich vai mudar, inclusive com sua forma rude de tratar os novos moradores. O novo casal é enviado para outra parte da ilha e, caso queiram permanecer ali, terão que aprender a conviver com o ambiente sem a ajuda do médico.
A tensão aumenta quando novas pessoas chegam à ilha, entre as quais, a esfuziante e hedonista Baronesa Eloise (Ana de Armas). A Baronesa é o tipo de pessoa que se vangloria dizendo: ‘Eu sou a personificação da perfeição’. Trazendo em sua bagagem o livro O Retrato de Dorian Gray, não tem limites para manipular quem está a sua volta.
O ambiente começa a se transformar, os atritos ficam mais constantes e até o comportamento de alguns dos habitantes passa a mudar. Friedrich, por exemplo, esquece até dos cuidados com sua alimentação vegetariana. E é justamente aonde Howard começa a lançar sua análise implacável da sociedade, mesmo quando ela está inserida em núcleos minúsculos.

Então, um lugar onde parecia ser um refúgio, passa a conviver com problemas recorrentes de uma grande sociedade como conflito de personalidades, falta de organização, instabilidades, desigualdades e violência. Com tudo isso, certamente o espectador pode esperar pela barbárie próxima de acontecer e sendo uma prática normal e aceitável mesmo nessa micro sociedade.
Com um elenco estelar, Howard também conta com a trilha sonora do premiado e experiente Hans Zimmer. Cenas que intercalam momentos típicos da fauna e flora da ilha acrescentam mais vivacidade à narrativa. Interessante ver também as estações mudando e os grupos de moradores se adequando as características de cada uma.
A narrativa se segura com momentos bem tensos que envolvem um parto complicado até roubo de comida. Com sua máquina de escrever, Ritter vai descrevendo sobre a ilha, os costumes que passou a adotar, os novos habitantes e até mesmo sobre Sociologia e Filosofia (Nietzsche é frequentemente citado pelo médico).
Éden é um filme interessante, sobretudo quando se pretende analisar o homem diante da sociedade (mesmo quando ela é pequena e afastada dos grandes centros urbanos). Pode ser arrastado, ter alguns momentos mais fracos, entretanto adiciona uma lição para entendermos que a harmonia é destruída não pelo ambiente ao redor, e sim, pela própria índole humana.
















Comentários