Marcello Almeida
- 19 de fev. de 2023
- 3 min de leitura

Young Fathers transborda alegria e te convida a celebrar a dança com o convidativo 'Heavy Heavy'

Um disco alto astral que te convida a levantar, sacudir a poeira, dançar e cantar.

Young Fathers surgiu em Edimburgo, na Escócia, em 2008. O trio formado por Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e Graham ‘G’ Hastings, ganhou notoriedade após lançarem o primeiro debut intitulado ‘Dead’ (2014), álbum que rendeu ao grupo o prêmio Mercury Prize no mesmo ano. Não demorou muito, em 2015, chegou o segundo disco, aclamado pela crítica, ‘White Men Are Black Men Too’ (2015), seu terceiro disco, ‘Cocoa Sugar’, lançado em 2018, alcançou a posição 28 na parada do Reino Unido. A Banda mistura em sua sonoridade elementos do Soul, R&B, Art Pop, Noise e Hip Hop.

Estilos bem presentes e marcantes no novo trabalho do trio, o quarto álbum ‘Heavy Heavy’ (2023), chegou transbordando o melhor da trajetória do Young Fathers, um disco mais convidativo e menos complexo e introspectivo que os trabalhos anteriores. A sintonia e química emanada do grupo explode em 10 faixas contagiantes, repletas de suingue, que tornam as músicas desse álbum em uma verdadeira festa alegre e estridente. São melodias que vibram através de batidas intensas e um certo entusiasmo que contagia logo nos primeiros instantes da ótima e alegre “Rice”, faixa que já estabelece o humor do disco e prepara o ouvinte para uma jornada imersiva de alta qualidade.

O Young Fathers sabe muito bem onde firmar seus pés, nos últimos tempos a banda calçou seu som na estrada do rock industrial fundido com um rap estridente, vocais gospel e uma bateria trovejante. Sua música pode até ser classificada como barulhenta e pesada, porém, é cristalizada por melodias e harmonias suaves, uma combinação no mínimo potente. “I Saw”, chega saltitante com seu baixo penetrante e batidas precisas, uma música que com certeza vai te tirar do chão e fazer balançar a cabeça. Lembra elementos do TV on the Radio.

Ao longo das 10 faixas somos transportados para uma atmosfera apaixonante, comovente e muitas vezes hipnotizante. As batidas sub-graves incendeia o cenário coberto de otimismo inspirador.

Camadas bem representadas na climática “Shoot Me Down”, que de alguma maneira lembra The Prodigy em seus instantes iniciais e logo depois deságua em camadas penetrantes do Soul. “Ululation”, explode em poder vocálico. Uma canção que vai ganhando cada vez mais força conforme vai avançando, algo no estilo Bruce Springsteen.

Tudo em ‘Heavy Heavy’ está conectado e equilibrado. Os vários gêneros que dão vida a sonoridade da banda se encaixam perfeitamente em uma onda frenética de Pop, Soul, Hip Hop, Rock e Noise. Vale notar o contraste que eles criam inesperadamente entre a estridente e ardente “Drum” e a melancólica “Tell Somebody”, tudo encaixando perfeitamente para fomentar ainda mais a paisagem sonora do álbum. Você sai de um pop-punk-rap e cai em uma faixa ao estilo U2 na fase 'Zooropa'.

Um disco alto astral que te convida a levantar, sacudir a poeira, dançar e cantar. Em meio a cacofonia existem mensagens líricas dosadas por puro sentimentos. As letras da banda podem parecer em certos momentos impenetráveis, mas estão munidas por uma força poética que transmite uma sensação de liberdade cativante. Tente ouvir "Geronimo", e não sentir o poder avassalador dessa canção atingir sua alma. Renato Russo disse uma vez que "uma canção pop é sua vida inteira em três minutos". Essa frase cai como luva para a sonoridade do Young Fathers.

'Heavy Heavy' pode não ter o impacto representativo apresentado em 'Cocoa Sugar', mas com certeza tem poder melódico o suficiente para entregar seu contexto e proposta por meio de canções que se ligam e formam uma ponte sonora, às vezes inquietante, outras mais barulhentas e silenciosas. O Young Fathers segue seu caminho jogando luzes em nosso presente e acenando para o futuro com um brilho emanado, contagiante e comovente. "Be Your Lady", faixa que encerra o trabalho, resume o disco em uma melodia emotiva que muda de tons sem nenhum problema. Eles evocam euforia e mudanças como ninguém. Assim como eles revelaram em entrevistas recentes: "Não somos estranhos — está é a música pop que queremos ouvir."