'This Stupid World' prova que o Yo La Tengo está mais cintilante e âmago do que antes
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'This Stupid World' prova que o Yo La Tengo está mais cintilante e âmago do que antes

Esse novo trabalho concentra-se na melhor parte da longa jornada e história do YLT. Aproveite a viagem.

Fotografia: Cheryl Dunn


É incrível ver uma banda com quase quatro décadas de existência ainda conseguir entregar algo surpreendente sem fugir do seu contexto indie rock e noise pop. Pois é, essa banda existe e se chama Yo La Tengo. O trio norte-americano formado em 1984, por Ira Kaplan (vocal e guitarra), Georgia Hubley (vocal e bateria), James McNew (baixo) seguem demonstrando um processo criativo esplendoroso, fazendo escola para muitas bandas novas no cenário alternativo. A maneira como eles conseguem criar novas sonoridades sem medo de arriscar, ou explorar elementos e seus limites inventivos é o que fazem do Yo La Tengo uma banda para sempre se ficar de olho em tudo que eles lançam. O trio é inquieto, silencioso e imersivo e, sua sonoridade pode puxar nuances para o memorável Velvet Underground, com camadas de Sonic Youth que transformam o som da banda em algo tentador e equilibrado.


Passado e presente se encontram agridocemente no novo disco de estúdio, ‘This Stupid World’, um título que vem a calhar muito bem com os últimos anos e acontecimentos que cercaram o mundo. Munidos por guitarras ruidosas, nostálgicas e melodias profundas, eles gritam em silêncio para vida em 2023. É interessante frisar que esse foi um álbum onde a banda mixou suas próprias músicas sem nenhuma conexão externa e covers. Porém, todos os sinais e elementos que tornaram a banda queridinha dos fãs de indie rock, dream pop e shoegaze estão conectados no recente trabalho. Isso só prova que eles estão seguros e confiantes naquilo que fizeram e estão fazendo ao longo desses 37 anos de carreira.



Eles estão de volta e fazem um convite ao ouvinte para adentrar em uma atmosfera hipnótica, enérgica e estridente, sensações e emoções que se deixam aflorar pelas guitarras barulhentas e silenciosas de Ira Kaplan que se fundem introspectivamente com os vocais murmurados de Georgia Hubley, eles estão todos aqui, através de um feito apregoado. Isso fica bem evidente, já logo nos primeiros instantes do álbum, com a abertura realizada por “Sinatra Drive Breakdown”, um misto de elementos climáticos e introspectivos que correm ao lado de guitarras agudas que sobem e descem em uma onda frenética. Tem distorção, tem melodia e tem psicodelia. Sim, isso é um disco do YLT. E por um certo momento essa canção remete ao clássico hit do Television, “Marquee Moon”.


'This Stupid World' é o primeiro trabalho deles após o enigmático 'There's A Riot Going On' de 2018, nesse período eles lançaram uma reedição comemorativa de 25 anos do álbum 'I Can Hear The Heart Beating As One' (2022) e um disco ao vivo de sua apresentação em Nova Jersey em 1990, lançado em 2021.


Em toda sua trajetória o YLT transitou por diversos gêneros e ritmos como bossa nova, samba, soul, country e sons mais barulhentos e ruidosos. Esse novo trabalho concentra-se na melhor parte de sua longa jornada e história. "Brain Capers" é um bom exemplo disso. E prova que a salada sonora do Yo La Tengo pode ter sabores distintos e surreais.

O que chama atenção é o contraste que eles conseguem criar em cada música desse disco. A conexão e química entre eles que se espalha pelas 9 faixas do álbum desenha a imagem do processo criativo dentro do estúdio. Eles estão se divertindo com seus instrumentos fazendo aquilo que gostam de fazer. A ótima “Fallout”, chega repleta de magnetismo e encanto. Uma certa doçura com momentos mais explosivos que mantêm o prisma da canção abordo. Um dos momentos mais fofos, calorosos e emocionantes de ‘This Stupid World’ fica por conta da linda, calorosa e sentimental “Aselestine”, que esbanja arranjos agridoces e melódicos.


Apesar de todo o peso e preocupação abordado no contexto do álbum e suas letras pontuais, o YLT consegue imprimir pegadas na lua com a suavidade e leveza para impregnar aconchego e conforto durante a audição do disco. São pouco mais de quarenta e oito minutos que passam em um piscar de olhos enquanto você se entrega a uma viagem colossal e nostálgica movida pelo balanço agridoce da serena e introspectiva “Apology Letter”.



A coisa pode ganhar um rumo inesperado e experimental na faixa-título ("This Stupid World") que brinca com seus instrumentos por mais de sete minutos entre guitarras distorcidas, microfonias e efeitos inquietantes que criam uma paisagem densa e ansiosa. Ambientação perfeita para chegarmos ao fim com a deslumbrante e imersiva "Miles Away", que segue seu caminho gélido e airoso que lembra as pegadas do My Bloody Valentaine, ou até mesmo Cocteau Twins, seja por elementos eletrônicos que se misturam sutilmente com os vocais de Georgia, ou pelas nuances emprestadas do shoegaze.

'This Stupid World’ pode não ser o melhor disco do YLT, não beira a perfeição, tem seus momentos baixos e perdidos, mas é uma pequena maravilha como todo álbum da banda costuma ser. E nessa altura do campeonato se preocupar com esses pontos é realmente viver em um mundo estúpido.

 

This Stupid World

Yo La Tengo


Lançamento: 10 de fevereiro de 2023

Gênero: Dream Pop, Shoegaze, Indie Rock

Ouça: "Sinatra Drive Breakdown", "Aselestine" e "Miles Away"

Humor: Etéreo, Agridoce, Hipnótico


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

Veja o clipe de "Fallout" abaixo:




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