Eduardo Salvalaio
- 26 de abr.
- 3 min de leitura

This Could Be Texas assegura o English Teacher num lugar de respeito entre os nomes do Pós-Punk Revival

English Teacher chega para provar que merece estar na lista de grupos estreantes com potencial.

O quarteto English Teacher é mais um que segue o exemplo de outras grupos/artistas ingleses da atual e enérgica safra do Pós-Punk Revival, a exemplo de Dry Cleaning, Yard Act, Black Country, New Road, entre outros.

Mostra sua força com uma sonoridade robusta sustentada pelos vocais de Lily Fontaine (que também toca guitarra rítmica e sintetizadores), o grupo se completa com Lewis Whiting (guitarra, sintetizadores), Nicholas Eden (baixo) e Douglas Frost (bateria, piano).

A banda começou a tomar forma em 2020, época em que os integrantes estudavam no conservatório de música na cidade de Leeds. Não demoraram muito para lançar dois singles: ‘Wallace’ e ‘R&B’ (essa sendo regravada para o début). Em 2022, um EP com cinco canções intitulado “Polyawkward” foi lançado colocando a banda nos holofotes da mídia.

“This Could Be Texas” (2024), o aguardado début lançado em 12 de Abril, foi produzido por Marta Salogni (Bjork, Black Midi). Em 13 faixas que somam quase 51 minutos, English Teacher chega para provar que merece estar na lista de grupos estreantes com potencial.

E como todo grupo que tem o Pós-Punk pulsando em suas veias, energia e peso instrumental não poderiam ficar de fora. ‘The World’s Biggest Paving Slab’ entrega cozinha maciça e riff de guitarra poderoso. Trazendo um mantra repetitivo dentro de uma sonoridade caótica com guitarras furiosas e alternância entre vocais masculinos e femininos, ‘I’m Not Crying, You’re Crying’ é outra canção bem nervosa.

Em ‘R&B’, a linha de baixo dominante é combustível principal para uma sonoridade explosiva e ágil. Outro destaque do grupo são as letras. Elas podem chegar num tom de crítica político/social ou mesmo de ironia e com metáforas. Nesta faixa, por exemplo, a cantora que tem descendência africana, cita que apesar das aparências, não tem voz para o R&B: ‘Despite appearances, I haven’t got the voice for R&B’..

Entretanto, errado dizer que os ingleses fazem do seu début um lugar apenas para canções pesadas com as regras do Pós-Punk ativas a todo instante. Explorar outras sonoridades e buscar momentos de leveza também é preciso para sair do lugar comum e ser um diferencial a mais no meio de muitas novidades que surgem no cenário musical.

Dessa forma, canções menos agitadas e com uma aura melancólica. ‘You Blister My Paint’ que é conduzida por um piano delicado e pela voz de Fontaine sufocada por efeitos. ‘Mastermind Specialism’ troca o peso por um cenário sonoro mais suave e acústico, destacando piano e violino, praticamente querendo se embrenhando num Folk.

Uma nostalgia 90’s toma conta de ‘Albatross’ que sabe conquistar o ouvinte com piano e guitarras dedilhadas trabalhando em sintonia. ‘Not Everybody Gets To Go The Space’ insere sons que remetem a máquinas de fliperama e segue por uma melodia que transita entre a calmaria e a agitação.

Pode até existir um exagero quando os vocais de Lily são tomados pelo auto-tune em ‘The Best Tears Of Your Life’, todavia, a melodia da faixa é tão cativante que até podemos perdoar o uso da tecnologia para mudar a voz da cantora deixando algo mais mecanizado (e o grupo nem precisa desse artifício).

English Teacher traz ousadia e determinação logo no seu début. Apesar de similaridades com outras bandas que seguem pelo mesmo caminho, a alternância entre peso, leveza, calmaria e agitação é uma das melhoras estratégias para sair da mesmice e se destacar logo no início da carreira. E isso o quarteto faz bem num disco que agrada a cada audição abrindo sempre espaço para mais detalhes preciosos.