Com uma trajetória de bons discos no currículo, os americanos do Spoon se tornaram uma das bandas do Pós-Punk mais aclamadas e adoradas pela crítica e público. O grupo conquistou sua reputação justamente pelo seu som inovador e inventivo. Podemos dizer haver uma certa química entre o Pós-Punk impulsivo com aquela calmaria pós-Grunge dos anos 90, mas é fato que nos anos seguintes o Spoon se destacou mesmo no cenário Indie com os discos ‘Girls Can Tell’ de 2001 e 'Kill The Moonlight’ de 2002, eles trouxeram para o seu Rock elementos essenciais como: guitarras tensas e letras que soavam inovadoras e atemporais e isso rendeu algumas comparações com bandas como: Sonic Youth, Pixies, Elvis Costello e até mesmo com o saudoso Tom Petty.
Estamos falando praticamente de duas décadas de carreira, e o Spoon está de volta com um registro convincente de Rock que dosa seu volume entre o alto, baixo e boas camadas melodiosas sem grandes sacrifícios, suas nuances saborosas ainda estão muito presentes em ‘Lucifer On The Sofa’ o décimo álbum de estúdio da banda que chegou no início de fevereiro deste ano (2022). Sendo preciso dizer que mesmo depois desses anos todos o Spoon ainda consegue soar fresco, com aquele balanço e swing que afasta o tédio em dez faixas e pouco mais de trinta minutos. John Peel costumava dizer que uma banda precisava soar diferente, mas sempre igual. ‘Lucifer On The Sofa’ é o Spoon sendo Spoon: moderno, atemporal e totalmente no controle do seu trabalho.
O novo trabalho soa harmonioso, poderoso, mas, ao mesmo tempo, rugoso e cristalino- a voz envolvente de Britt Daniel parece mais um chamado vindo da alma- e sua guitarra pela primeira vez parece estar na vanguarda criando camadas esfumaçadas, corajosas e a banda consegue voltar ao básico com a emoção que conduziu sempre sua música. Em “Wild” a banda embarca em uma atmosfera aventureira e empolgante, aquele verdadeiro hino de estádio que pode muito bem ecoar no estilo Bruce Springsteen e os solos de guitarras podem viajar através do tempo e lembrar os primeiros discos do U2.
O Spoon pode ser um pouco de Funk, um pouco Pop, um pouco Rock, mas sempre eles no final. E essa pode ser a vantagem de soar como você mesmo, em vez de fazer parte de uma onda em massa de ideias iguais, com isso seu som tende a ser atual e sempre inovador.
“My Babe” começa suave e meiga com acordes de violões e notas de pianos, logo a bateria entra reforçada pelas guitarras nostálgicas que remetem muito aos anos oitenta, uma balada romântica que atinge seu ápice próximo do final. “On The Radio” já se impõe energizada e enraizada nas vertentes do Rock Clássico que combina a efervescência de bandas como The Who, The Kinks e ZZ Top, uma verdadeira celebração ao rádio. O Spoon caminha dentro de suas limitações sem aquela intenção de quebrar barreiras sonoras, ao contrário eles demonstram um dinamismo singular e autêntico.
Muito disso se deve a produção de Mark Rankin cujo seu trabalho no Queens Of The Stone Age atraiu atenção da banda. Rankin adiciona peso e força sem sobrecarregar as músicas passando aquela agridoce sensação de suavidade e leveza. Porém, o Spoon é tão completamente sua própria banda que qualquer produtor só adiciona sombreamento nas margens.
‘Lucifer On The Sofa’ com certeza é aquele tipo de lugar em que você vai querer passar o tempo absorvendo os detalhes e observando minunciosamente seus campos ancestrais. Mais uma vez o Spoon revela que ainda existem inúmeros mistérios no Rock Clássico, e eles ainda são especialistas em revela-lo.
Ficha Técnica: 'Lucifer On The Sofa'
Banda: Spoon
Gênero: Pós-Punk, Indie Rock
Data de Lançamento: 11 de fevereiro de 2022
Duração: 38 min 33s
Ouça: "Wild", "My Babe" e "On The Radio"
Para quem gosta de: TV On The Radio e The Walkmen
Nota: 8,0
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