South Park desafia Trump, expõe a Paramount e ainda cria um pênis com olhos para escapar da censura
- Marcello Almeida
- há 22 horas
- 2 min de leitura
Atualizado: há 2 minutos
Novo episódio da série satiriza o presidente americano mesmo após acordo milionário com a Paramount — e abre especulações sobre despedida da dupla Trey Parker e Matt Stone

A nova temporada de South Park estreou esta semana nos EUA e já causou um terremoto político, midiático e — por que não? — anatômico. No episódio que marca o retorno da série à TV, os criadores Trey Parker e Matt Stone voltaram suas armas contra ninguém menos que Donald Trump, presidente em seu segundo mandato e atualmente aliado (com cifrões) da própria emissora que exibe o programa.
A crítica não foi sutil: além de retratar Trump literalmente na cama com o diabo, o episódio termina com o presidente vagando pelo deserto, completamente nu, com um micropênis. A cena gerou reações histéricas dentro da Casa Branca e até pedidos de censura vindos da Paramount, dona da Comedy Central e responsável por South Park.
“Não, vocês não vão borrar o pênis dele”
Segundo reportagem da Vulture, executivos da Paramount teriam solicitado que os criadores borrassem o órgão genital animado de Trump, mas Trey Parker rejeitou na hora:
“Não, vocês não vão borrar o pênis dele.”
Para contornar possíveis censuras, Matt Stone explicou a estratégia: “Se colocarmos olhos [cartunescos] no pênis, não vamos precisar borrar. Foi uma conversa inteira com adultos por quatro dias!”
Sim, o pênis virou um personagem. Literalmente.
R$ 90 milhões e uma guerra fria animada
O mais curioso (ou escandaloso) é que tudo isso aconteceu mesmo com um acordo legal milionário em vigor. No ano passado, a Paramount fechou com Trump um contrato de cerca de R$ 90 milhões envolvendo pagamentos ao fundo de sua biblioteca presidencial, em troca da retirada de processos e possíveis colaborações futuras — incluindo PSAs e espaços publicitários. Um arranjo que, na prática, parecia blindar o presidente de críticas dentro do conglomerado.
Mas Trey Parker e Matt Stone sempre foram imprevisíveis — e incorruptíveis. Ao que tudo indica, optaram por comprar briga, mesmo com a faca da Paramount no pescoço.
Despedida?
Alguns fãs mais atentos enxergaram camadas adicionais na estreia da nova temporada. A cena final, em que Cartman diz “eu te amo, cara” para Butters, foi interpretada por parte do público como uma possível despedida dos criadores — ou, pelo menos, uma despedida simbólica diante da possibilidade de cancelamento.
Há quem diga também que o episódio foi alterado de última hora. O conteúdo reflete acontecimentos recentes demais para ter sido planejado com meses de antecedência, o que sugere que Parker e Stone podem ter reescrito o roteiro após o atraso na estreia.
Desenho, censura e resistência
Mais do que uma piada escatológica sobre o pênis do presidente, o episódio toca em pontos sensíveis: a aliança entre grandes corporações de mídia e figuras autoritárias, o uso da cultura como ferramenta política e a linha cada vez mais tênue entre liberdade criativa e autocensura estratégica.
South Park, com toda sua irreverência adolescente e genialidade corrosiva, segue sendo um dos poucos espaços da cultura pop que ainda conseguem morder a mão que paga — e rir disso.