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Foto do escritorEduardo Salvalaio

Sea Of Stars realça no fã de RPG o prazer de jogar e também é um belo convite para conhecer o gênero

Sea Of Stars não se resume apenas a batalhas. Espere calabouços aptos a serem explorados.



Embora eu seja um aficionado por jogos, tive alguns momentos de fuga desse hobby durante minha vida. Um tempo que fiquei sem jogar foi após a morte de meu pai. Como precisava terminar estudos e ajudar minha mãe num comércio que ela possuía, praticamente foi uma época que fiquei desligado de tudo que rolava na indústria dos videogames, isso entre 1986 e 1993. Após esse período, com meu primeiro emprego e minha mãe estabilizada financeiramente, voltei a curtir jogos, porém com parcimônia.


Desde criança, meus gêneros favoritos eram os jogos de nave (ou os típicos shoot’em’ups), plataforma (2D e 3D) e simuladores de corrida. Isso até meados de 2001, quando, através de um amigo que trabalhava numa loja de videogames, fui apresentado ao universo do RPG por meio de Final Fantasy X.


Quando ele mostrou o jogo, achei estranho aquilo. Talvez fosse o andamento lento dos combates, a técnica de saber antecipar a ação do inimigo ou de estudar suas fraquezas, a ciência de saber fazer uso dos elementais como água e fogo. Com um pé meio atrás, levei o jogo. Entre 5 a 10 5 dias, estava bem empolgado ao ponto de fazer tudo que ele oferecia. Gostei tanto que outras compras vieram. Shadow Hearts, Dragon Quest VIII e Persona 3 fizeram parte da minha biblioteca.



O que mais me atrai em RPG de turno é reunir tudo num só lugar a matemática, a estratégia e as consequências de suas ações. Exemplo: se meu personagem estiver com apenas 5 de HP é melhor eu me curar, defender ou então arriscar um golpe fatal no inimigo? E é muito mais revigorante ganhar uma batalha quando pensávamos que ela já era causa perdida. Simplesmente virar a situação do jogo.

E até o final, a tendência é que o panorama fique mais complexo com novas habilidades surgindo e inimigos muito mais resistentes. Mas confesso que não é um gênero para muitos e até hoje há quem prefira o RPG Action onde a velocidade coordena as batalhas, a ação é vertiginosa e ágil com muitas características que foram herdadas dos tradicionais Beat’em’ups.



Novamente, após 2010, entrei numa fase em que jogava muito pouco. Optei por jogos curtos e abandonei RPG’s de uma forma geral, entretanto sempre respeitando o gênero. Porém, quando Sea Of Stars foi anunciado para chegar em 2020 (depois adiado para Agosto de 2023), algo me beliscou a consciência. Talvez o hype? Os comentários pela internet? Os vídeos graciosos que assisti? Porque adoro esses estúdios independentes, com pouco orçamento, que volta e meia nos nocauteiam com jogos fantásticos?


A canadense Sabotage Studio (de Quebec) é a responsável por essa obra. E para os jogadores assinantes da PS Plus Extra e Deluxe, o presente veio gratuito. A empresa criou o jogo The Messenger, que, inclusive, se conecta ao mesmo universo de Sea Of Stars (que se passa anos antes).


Pegando inspiração corretamente em grandes clássicos do passado como Breath Of Fire e Chrono Trigger, a arte pixelizada nunca esteve tão em sintonia com a atualidade. Passado e presente se entrelaçam em prol do jogador, seja o veterano no gênero ou aquele que deseja começar. Cores, detalhes, cenários e o mundo do jogo com suas variadas ilhas trazem uma vivacidade, um convite para se aventurar numa jornada que durará em torno de 40 a 50 horas, caso tudo seja explorado e todos os eventos sejam realizados.


Zale e Valerie, dois bravos guerreiros, precisam impedir que um cruel alquimista chamado The Fleshmancer continue realizando suas criações monstruosas. Claro que teremos outros personagens que se juntam à dupla, além de muitos percalços, surpresas e reviravoltas pelo caminho. O carisma dos personagens nos atrai desde os primeiros minutos, inclusive com Garl, um hábil cozinheiro que deseja ser um valente guerreiro e pretende provar isso.

O primeiro fator admirável no jogo é não ter nada perdível. Tudo pode ser revisitado, tudo se conecta. Apesar de dois finais distintos, o jogo nunca te impossibilita de ir para outros lugares, voltar a cumprir tarefas, ajudar NPC’s ou mesmo correr atrás daquele baú com um item valioso.




Mesmo que o jogo não ofereça mapa dos cenários internos das ilhas, isso não afeta a jornada por conta da facilidade em encontrar os caminhos que permitem o acesso a novas áreas. O jogo também não tem Quest Log, aquela ferramenta que nos ajuda a identificar missões feitas ou disponíveis. Entretanto, isso não fará falta até porque o mapa do mundo lhe mostra uma estrela do próximo objetivo e também não enche o jogador de missões secundárias hediondas e/ou monótonas.


Outro aspecto estranho que jogadores acostumados ao gênero observarão é a falta de defesa. Deixa explicar. Ela não está incluída na tabela de comandos. Durante os combates, a barra de ações está resumida a ataque, habilidades, itens, combos e troca de personagem. A defesa entra de forma estratégica. É o jogador que precisa apertar o botão no momento certo para bloquear o ataque do inimigo.


Da mesma forma, o ataque pode se conectar consecutivamente a outro ataque caso o jogador atinja o timing perfeito da ação. Um diferencial dentro do gênero que certamente garante muita dinâmica nos combates deixando tudo menos repetitivo e mecânico.


Além disso, inimigos contam com uma espécie de travamento. Para acabar com isso, o jogador precisará desferir um golpe específico para quebrar essas travas e, dessa forma, conseguir causar danos durante as batalhas. Por exemplo, muitas vezes pode ser o poder lunar de Valerie ou o poder solar de Zale. E não acaba aí. Conforme vamos desferindo ações, barras são preenchidas oferecendo oportunidades de combos com golpes muito mais poderosos.

O jogo também conta com relíquias. Quando ativadas, podem tornar tudo mais complicado ou fácil. Logo, esse recurso deve agradar tanto o jogador mais hardcore como o jogador de primeira viagem. Algumas serão dadas ao longo da história, outras precisam ser encontradas ou compradas.



Como é praxe acontecer em RPG’s, é certo que alguém da equipe morra durante a batalha. Aqui o personagem abatido fica caído e volta depois de determinados turnos. Porém, cada vez que é abatido, o tempo de retorno demora mais. Dependendo do jogador, esse processo pode render uma estratégia ou mesmo um momento de aflição. É preciso manter os outros personagens vivos até que o abatido retorne à batalha (caso ele não tenha nenhum item de ressuscitação). Ao iniciar a batalha, também não há como escapar dela, ao contrário de outros RPG’s que permitem isso.


Sea Of Stars não se resume apenas a batalhas. Espere calabouços aptos a serem explorados. Com passagens escondidas, alcovas, escadas, plataformas e itens valiosos para encontrar, essa parte assume até um jeito de Metroidvania e nos coloca diante de um jogo que não foca 100% no RPG. Puzzles variados estão presentes. Sem apelar para enigmas intrincados, eles são criativos apesar de manterem certo padrão já visto em outros jogos como ajustar espelhos de lasers e empurrar blocos.


Também podemos pescar. E é uma atividade muito prazerosa, sem complexidade e importante para a obtenção de ingredientes que fazem parte de receitas (encontradas nos cenários ou compradas). Essas receitas criam pratos e iguarias úteis durante as batalhas e podem ser preparas por meio de fogueiras espalhadas pelos cenários.


Igualmente bonita e sintonizando com o trabalho artístico caprichado, a trilha sonora marcante ficou por conta do compositor Eric W. Brown. Algumas faixas adicionais receberam a contribuição de um profissional experiente nesse assunto, Yasunori Mitsuda. O compositor e designer de som japonês tem no currículo trabalhos impressionantes como Chrono Trigger, Xenogears e Mario Party.

Com algumas diferenças dentro da jogabilidade RPG clássica de ser em meio a outras mecânicas que foram emprestadas de forma correta de clássicos do passado, Sea Of Stars é aquele jogo que me fez voltar a forma com RPG’s de turno (mesmo que jogado de forma reduzida, dia por dia). Não tenha pressa em terminar, curta todo o mapa e cada momento dessa jornada.



Esse texto equilibrado entre a crônica e a resenha, estimulado por 50 horas depois de muitas explorações, batalhas e emoções, foi escrito pensando no prazer de reviver um jogo dentro de um gênero que ainda nos surpreende. Pode te fazer pensar o mesmo, caso não encontre mais ânimo para jogar. Ou então, leitor, pode iniciá-lo no gênero. Sea Of Stars é o jogo que lhe indico para qualquer que seja a sua situação.

 

Sea Of Stars


Ano: 2023

Gênero: Aventura,

Desenvolvedor: Sabotage Studio

Série: The Messenger

Plataformas: Ps4, Ps5, Xbox One, Xbox Series x/s, Nintendo Switch



 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Trailer do jogo:




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