Eduardo Salvalaio
- 12 de jan.
- 2 min de leitura

Sargaço Nightclub faz de Bioluminescente um lugar de reflexão pós-pandemia numa sonoridade sortida repleta de influências

As letras das 12 faixas buscam refletir sobre eventos e experiências vividos em tempos difíceis.

Para quem acompanha a trajetória de muitas bandas que surgiram nos últimos anos, sabe muito bem que a Região Nordeste é uma das responsáveis pela evolução de um cenário musical repleto de artistas e grupos novatos dispostos a um engajamento apaixonado com Música e outras artes.

Pernambuco é um estado que tem revelado uma geração criativa e renovada. Bandas como Bule e Kalouv mostraram essa força com álbuns interessantes e ganhando a atenção pelo país. De lá temos o Sargaço Nightclub.

Chegando agora ao segundo disco (que já se encontra nas plataformas digitais desde o dia 04 de janeiro), a banda também participou de festivais renomados como o #ZiriguidumEmCasa que homenageou os artistas Dóris Monteiro e Alceu Valença.

Segundo Marrê, vocalista e guitarrista da banda, o disco vem bastante absorvido pelos efeitos dos tempos pandêmicos. As letras das 12 faixas pretendem trazer uma reflexão ao ouvinte sobre os eventos e experiências que presenciamos durante aqueles tempos difíceis.

Claro que a banda faz isso de forma sábia e sem soar monótona e maçante. É capaz de se inspirar em George Orwell como ‘1984’ (‘O Grande Irmão’) e ‘A Revolução dos Bichos’ ('A Dança do Caos’), assim como debater com questões polêmicas e delicadas como o racismo (‘Yorubá Rei’ com todo seu suingue).

Sargaço Nightclub também se preocupa em variar na sua sonoridade. Psicodelia, Rock, Eletrônica, Folk. Não importa. O grupo é capaz de colocar peso nas guitarras que abrem ‘Monodrama’, em seguida engrenam uma batida eletrônica grudenta para dar mais tempero à faixa ‘Fôlego’. O acústico e o melancólico invadem ‘Baronesa’, por outro lado ‘Giralua’ vem com instrumental pesado em meio ao vocal enérgico de Marrê.

As letras também ganham papel de destaque. O grupo sabe tratar de temas corriqueiros com maestria, sobrando poesia, filosofia e até mesmo um sutil humor. ‘Por Enquanto, Eu’ que fala de relacionamentos rompidos, diz: ‘Corre na janela, vem agora!/Sou eu ali passando na memória/Sou eu ali sonhando/E eu aqui rasgando todos nossos planos’.

Na faixa ‘Em Busca de Conexão’, a questão do vício da internet/tecnologia é um tema recorrente: ‘Sei, não te avisei, mas tente relaxar/Nós vamos conseguir passar a noite sem wi-fi /Fomos comprando pacotes pesados demais /A conta chegou e do vício, se alguém escapou conte como faz.

Bioluminescente é um disco que vai entregando muitas influências e inspirações (como Chico Science e Ojeriza), mas, claro, sem omitir as características de uma banda que amadurece e apresenta ideias para um novo cenário musical que desponta. Não importa, Sargaço Nightclub merece um lugar muito além do Nordeste.