'Round 6'; Aborda Capitalismo Selvagem Com Totalitarismo Igualitário

25 de out. de 20212 min de leitura

Atualizado: 1 de jan.

Round 6 é o novo fenômeno da Netflix. A série sul-coreana, escrita por Dong Hyuk, conquistou de vez os corações do público e se tornou uma das produções mais assistidas no mundo. Com todo o alvoroço em torno da produção, a curiosidade bateu, e fui conferir do que se tratava esse sucesso da dona Netflix. E realmente, a série surpreende. É de uma qualidade impressionante. As produções coreanas, de modo geral, têm se destacado no mercado cinematográfico, algo que ficou ainda mais evidente com Parasita, de 2019.

A premissa parte de uma construção narrativa instigante: um grupo de pessoas, atoladas em dívidas e levando uma vida miserável, recebe um convite inusitado e bastante estranho para participar de um jogo de sobrevivência. O vencedor leva para casa uma bolada em dinheiro — uma oferta tentadora para quem está no fundo do poço. Os jogos são inspirados em brincadeiras de infância, como batatinha 1, 2, 3; cabo de guerra; e bolinha de gude, entre outros. A diferença, no entanto, é cruel: quem não avança para a próxima fase é eliminado do jogo e, literalmente, da vida. Insano, perturbador e cruel.

Round 6 é o reflexo de um mundo doente, inserido em um quadro socioeconômico onde o dinheiro dita as regras da vida e da morte dentro da sociedade. É sobre o desespero que consome a alma e leva a situações extremas. “Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa.”

A narrativa é uma mistura de O Albergue e Jogos Mortais com Jogos Vorazes, inspirando-se também no filme japonês dos anos 2000, Battle Royale. À medida que a série avança, conhecemos mais sobre os personagens e entendemos os motivos que os levaram a participar dessa competição insana. Os personagens são cativantes, e logo você se vê apegado a alguns deles. Há também aqueles que deixam a ética de lado e estão dispostos a tudo para conquistar o prêmio.

A produção ainda insere histórias paralelas que, longe de atrapalharem a ideia principal, agregam valor sentimental e intensificam a carga emocional da trama. A fotografia é deslumbrante: ambientes coloridos e alegres, com cores vivas que remetem à infância e às brincadeiras de criança, contrastando de forma marcante com a atmosfera mórbida e sombria do contexto da obra.

A série ficou praticamente 12 anos engavetada. Isso porque, quando Hwang Dong escreveu o roteiro em 2009, ele foi rejeitado por diversos estúdios sob a alegação de que a trama era violenta e sádica demais. Hoje, Round 6 é o maior fenômeno mundial. Pode até parecer mais uma daquelas séries superestimadas, mas o sucesso se deve à forma como aborda o capitalismo selvagem e o totalitarismo igualitário. A série expõe o prazer da elite em se divertir com o sofrimento da classe operária, reforçando a velha história: “Eu te dou dinheiro, mas antes vou te humilhar, pisotear e te sangrar.”