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As 6 músicas essenciais do The Cure: o amor, a melancolia e a reinvenção de um som que nunca envelhece

Atualizado: há 4 minutos

Há bandas que atravessam o tempo; o The Cure o reconstrói à sua própria imagem

Robert Smith, vocalista da banda The Cure
Robert Smith, vocalista da banda The Cure (Foto: Harmony Gerber/Getty Images)

Existem artistas que apenas acompanham seu tempo, e existem aqueles que o redesenham a partir de suas próprias fissuras. O The Cure sempre ocupou esse segundo território: o da reinvenção silenciosa, da melancolia que se transforma em linguagem universal, da vulnerabilidade convertida em arquitetura sonora.



A banda de Robert Smith nunca foi apenas um ícone do pós-punk; foi, e continua sendo, um ponto de inflexão emocional. Cada disco, cada faixa marcante, parece nascer de um lugar onde o íntimo e o histórico se encontram. Ouvir o Cure é aceitar uma espécie de pacto: o de revisitar a própria memória com mais cuidado, mais sensibilidade e mais verdade.


Essas seis músicas não encerram a banda, mas condensam aquilo que a torna eterna.




  1. A Forest (1980)


A transição entre o pós-punk cru e o universo espectral que o grupo passaria a explorar. O baixo conduz como se chamasse para dentro de um labirinto, as guitarras abrem clareiras e fecham portas, e Robert Smith narra um desaparecimento que parece emocional antes de físico.


“A Forest” é o momento em que o The Cure descobre que sua estética não está na escuridão, mas no modo como ilumina essa escuridão por dentro.


  1. Just Like Heaven (1987)


Poucas bandas dominam tão bem a alquimia entre leveza e dor. “Just Like Heaven” é a prova viva de que o The Cure sabe ser radiante sem perder profundidade.


A canção pulsa como um flash de memória, um instante perfeito que já nasceu condenado a desaparecer. Robert Smith canta não apenas o amor, mas o seu assombro. É o Cure oferecendo felicidade sem ingenuidade.


  1. Pictures of You (1989)


O epicentro emocional de Disintegration. Nada aqui é apressado: cada acorde se expande como se respirasse dentro da música. A letra não trata exatamente de perda, mas da tentativa impossível de preservar um sentimento intacto.


“Pictures of You” é um monumento à fragilidade humana, uma canção que reconhece a beleza contida no que falha, no que escapa, no que nunca conseguimos segurar por completo.


  1. Lovesong (1989)


A síntese. A declaração de amor mais direta, honesta e desarmada de Robert Smith. “Lovesong” dialoga com todas as outras faixas do The Cure que sonham com luz: é minimalista, é humana, é universal.


Sem metáforas excessivas, sem mistério, apenas a verdade repetida como quem sabe que o amor, quando é real, não precisa de floreios. É também a faixa que prova que, mesmo cercado de melancolia, a banda sempre teve uma vocação secreta para o consolo.


  1. Charlotte Sometimes (1981)


Uma das obras-primas subterrâneas do The Cure. Inspirada no romance de Penelope Farmer, a canção cria um clima de deslocamento temporal que ecoa a própria atmosfera daquela fase da banda. Tudo aqui vibra em suspensão: a voz de Robert Smith parece cantar de um corredor entre passado e futuro, enquanto as guitarras e teclados montam uma névoa emocional que nunca se dissipa totalmente.


“Charlotte Sometimes” é sobre identidade, mas também sobre o terror silencioso de não se reconhecer mais. Uma síntese sublime do início da fase gótica do grupo.



  1. Plainsong (1989)


A abertura de Disintegration não é apenas uma introdução: é um rito. O teclado monumental, as camadas de reverberação, a sensação de infinito que se impõe já nos primeiros segundos. “Plainsong” cria uma liturgia própria, preparando o ouvinte para o mergulho que virá.


É o Cure em sua forma mais cinematográfica, mais devastadora e, paradoxalmente, mais acolhedora. Quando Robert Smith admite que “às vezes não tenho nada a dizer”, o que se ouve é, justamente, tudo o que palavras comuns não conseguem sustentar. Um dos instantes mais belos da discografia.

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