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'Rockmaker', do Dandy Warhols: um álbum que peca no alternativo, mas acerta em cheio na espirituosidade

Atualizado: 23 de mar.

Tente ouvir ‘Teutonic Wine’ e não se imaginar em uma festa, ou ouça ‘The Summer of Hate’ e tente não lembrar do Iggy Pop.

The Dandy Warhols
Foto: Divulgação


Este ano parece ser um respiro para quem gosta de rock e de música alternativa. 2024 mal começou e muita gente boa lançou bons trabalhos, principalmente no mês de março.


Pra quem trabalha produzindo conteúdo sobre música, isso tem sido um verdadeiro mix de deleite em apreciar, com desespero para cumprir prazos de entrega. O que no fim das contas vale a pena.


Já faz quase 30 anos do álbum de estreia do Dandy Warhols, banda de Portland, que surgiu quando o grunge estava dando seus últimos suspiros, mas a cena alternativa ainda chamava atenção.


Muita coisa mudou de lá pra cá na indústria musical, nos estilos que dominam as rádios e a MTV, sem contar o fato de mal existirem rádios e não mais existir MTV. O rock parece ter virado nicho, jornalismo cultural quase não é mais profissão (é coisa de maluco, até). Mas uma coisa não podemos negar: no caso do Dandy Warhols, quem é rei nunca perde a majestade. Mesmo quando essa majestade foi rejeitada e escrachada lá nos idos dos anos 90.



'Rockmaker', O novo trabalho do quarteto, foi lançado há uma semana, na sexta-feira de 15 de março. E eles já começaram acertando a data: Não sei se pra vocês é assim, mas pra mim, cada dia da semana tem uma cara, um clima, e o disco tem a cara da sexta. O que surpreende é que não parece uma sexta-feira sombria e shoegaze. Parece mais uma sexta pop. Talvez nada contra...


Trata-se de um trabalho oposto ao que o Dandy defendia. É um disco de rock, tem vestígios do alternativo, mas traz muito mais riffs, melodias, um refrão ou outro que cola na mente, efeitos wah-wah e presenças ilustres, sendo pesado e melodioso ao mesmo tempo. Tem lá seus elementos alternativos, dos quais ouvimos e pensamos que disco será inteiro de guitarras e batidas sincronizadas, pois ‘Doomsday’, a faixa que abre o disco, é exatamente assim.



Mas as coisas mudam conforme o álbum continua. Ao ouvirmos a segunda faixa, o single ‘Danzig With Myself’ e ficarmos com o refrão dela colado na cabeça, a gente começa a desconfiar de um trabalho mais eclético, pensamos se o produtor da banda é outro ou se é o mesmo enfrentando uma divertida crise de meia-idade.


Vários elementos vão se misturando no álbum; ele não tem uma identidade definida e cada faixa traz uma boa sensação de liberdade, embora diferentes do habitual para uma banda como os Warhols. Tente ouvir ‘Teutonic Wine’ e não se imaginar em uma festa, ou ouça ‘The Summer of Hate’ e tente não lembrar do Iggy Pop.


Outra característica interessante de ‘Rockmacker’ é que ele tem espaço pro instrumental: ‘Root of All Evil’ mescla guitarras, com metais e uma batida animada, enquanto o tempo dos vocais evoca a sensualidade. E se você ouve ‘The Cross’, não entende como pode haver um acordo entre distorções que ensurdecem com vocais que apelam por um pouco de melodia.


E o que dizer de ‘Alcohol and Cocainemarijuananicotine’ (sim, se escreve dessa forma), que de um jeito bem debochado tira sarro da hipocrisia, querendo dizer que o “errado”, o “alternativo” e o que gera preconceito sempre existiu, antes mesmo de existirem os avós dos hipócritas de hoje.



Mas o ponto alto (e polêmico) do álbum são as participações especiais. Não é qualquer banda, mesmo as mais novas apostas da indústria que, por mais sucesso que estejam fazendo, conseguem reunir ícones como Frank Black, em ‘Danzig With Myself’, Slash, em ‘I’d Like To Help You With Your Problem’ e Debbie Harry, em ‘I Will Never Stop Loving You’.


Cada convidado trouxe seu pratinho de festa: Frank Black trouxe a influência cadenciada do alternativo e efeitos estranhos que ouvíamos no Pixies, Debbie trouxe a melodia e a sensualidade extraídas de seus vocais e Slash, claro, trouxe a guitarra. Ouvi e li algumas críticas meio cruéis sobre esta última. Contudo, a ouvi pela primeira vez no programa do Iggy Pop, onde ele mesmo elogiou a parceria do Dandy Wahrols com o Slash, usando o termo “incrível”. Com uma crítica dessas, quem sou eu pra discordar?



Quando uma banda que levava muito jeito para ser do maisntream e na "hora H" manda tudo às favas rompendo com gravadora e criando o próprio estúdio, passar décadas fazendo o que der na telha e de repente lançar um disco que flerta com o jovial e o rock de arena, o preço pode ser alto. Sobre o Dandy Warhols, a gente pode esperar tudo de quem nunca teve amarras com coisa alguma. Quer coisa mais Rock 'n' Roll que isso?

 

The Dandy Warhols

Rockmaker


Ano: 2024

Gênero: Alternativo, Rock

Ouça: 'Danzig With Myself', '‘I Will Never Stop Loving You’, ‘Alcohol and Cocainemarijuananicotine’

Humor: Irreverente, jovial

Pra quem curte: The Brian Jonestown Massacre, Pixies, grunge


 

Nota da crítica: 8,5

 



 

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