Quando o Smashing Pumpkins reinventou o cinema mudo com o visionário clipe de Tonight, Tonight
- Marcello Almeida
- há 15 horas
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Há clipes que apenas ilustram uma canção. E há outros que constroem um universo inteiro

Lançado em 1996, o clipe de Tonight, Tonight, dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, é mais do que uma tradução visual da grandiosidade do Mellon Collie and the Infinite Sadness — é uma carta de amor ao cinema. Inspirado em Le Voyage dans la Lune (1902), de Georges Méliès, o clipe faz o tempo regressar para uma era em que o sonho era mecânico e o impossível parecia palpável.
Entre cenários pintados à mão, figurinos vitorianos e uma estética que beira o teatro, o Smashing Pumpkins transformou o clipe num portal para o início do século XX, evocando a pureza do encantamento cinematográfico. Billy Corgan surge como um visionário melancólico: canta sobre transcendência enquanto o clipe mergulha o espectador num delírio visual que mistura inocência e grandiosidade, uma metáfora do próprio disco, lançado em 95, um épico duplo que condensava toda a ambição e melancolia dos anos 90.
Em uma década marcada pelo niilismo e pela distorção, Tonight, Tonight ofereceu algo raro: esperança. Sua orquestração celestial, unida às imagens que celebram a imaginação humana, fez o clipe se tornar um marco — talvez o último suspiro de inocência antes do século virar digital.

Num tempo em que as imagens são descartáveis e o brilho das telas substituiu o encanto do olhar, o clipe de Tonight, Tonight soa como uma lembrança de um mundo mais ingênuo, onde o imaginário ainda era artesanal. Aquelas cenas em celuloide — planetas pintados à mão, cordas invisíveis sustentando o impossível, parecem hoje um grito de resistência contra a pressa do contemporâneo.
Enquanto os algoritmos tentam capturar o mistério, Billy Corgan e o Smashing Pumpkins nos lembram de que a arte nasce da imperfeição, do toque humano, da emoção que não se programa. Tonight, Tonight é o oposto do instantâneo: é o sonho que exige tempo, é o futuro que olha para o passado para continuar existindo.
O vídeo não é apenas um tributo ao passado. É um lembrete de que o rock, quando sonha, ainda pode tocar o sublime.











