Mellon Collie and the Infinite Sadness, 30 anos depois: o delírio sublime dos Smashing Pumpkins
- Marcello Almeida

- há 17 horas
- 3 min de leitura
O caos também pode ser belo

Ninguém ousava sonhar tão alto em 1995. O Smashing Pumpkins não queria repetir nada, nem o peso, nem a fórmula, nem o sucesso previsível de Siamese Dream. Billy Corgan queria romper. Queria um disco que respirasse o exagero e a melancolia, que soasse como uma colisão entre o sublime e o insuportável. Queria fazer um álbum que fosse um universo, não uma coleção de músicas.
A inspiração, ele confessou, veio de The Wall. A ambição era alcançar o mesmo grau de grandeza conceitual, o mesmo mergulho trágico e teatral do Pink Floyd, só que dentro da alma da geração X. O resultado foi Mellon Collie and the Infinite Sadness: duas horas de delírio, caos, ternura e raiva. Um duplo que não segue lógica alguma, e justamente por isso se tornou eterno.
Quando a banda entrou em estúdio em março de 1995, Corgan, James Iha, D’Arcy Wretzky e Jimmy Chamberlin tinham uma ideia fixa: seria um álbum duplo, com 28 faixas, uma viagem em espiral entre o nascimento e o fim da inocência. A Virgin tentou frear. Quis dividir o disco em dois volumes, no estilo Use Your Illusion. Corgan não cedeu. O Mellon Collie só faria sentido inteiro, como um mundo que se autodestrói e se reinventa dentro de si mesmo.
Mas havia outro detalhe que a gravadora não esperava: os Pumpkins não queriam repetir o som de Siamese Dream. Nada de refazer o peso técnico e controlado do disco anterior. A ideia era abrir o campo sonoro, explorar atmosferas, estilos, texturas. Ainda haveria distorção, claro, e faixas como “Bullet with Butterfly Wings”, “Zero” e “Tales of a Scorched Earth” provam isso. Mas entre elas surgiam planetas inteiros: o toque quase new wave de “1979”, o lirismo progressivo de “Porcelina of the Vast Oceans”, a delicadeza etérea de “Lily (My One and Only)”, o piano solitário da faixa-título. Um disco que parecia respirar em várias direções ao mesmo tempo.
E, no centro desse universo em colapso, havia uma luz chamada "Tonight, Tonight". A canção é um manifesto de esperança em meio à melancolia. Cordas grandiosas, arranjo cinematográfico e uma letra que fala sobre acreditar, ainda que o chão desabe. É uma das maiores canções da década, uma epifania em forma de melodia. Um lembrete de que, mesmo dentro da dor, ainda há beleza a ser criada.
Para materializar esse universo, Corgan chamou Flood e Alan Moulder, que vinham de trabalhos com U2, The Jesus and Mary Chain e Nine Inch Nails. Era a dupla ideal para dar corpo ao caos. Sob o comando deles, o Smashing Pumpkins virou uma orquestra pós-moderna: ruidosa, bela, confessional, exagerada. Diferente de Siamese Dream, em que Corgan controlava tudo, aqui ele abriu espaço. Os outros três integrantes participaram mais, contribuíram, desafiaram. Foi a primeira vez que a banda parecia respirar junta, e isso transparece em cada canção, como se o som estivesse vivo, mutante, cheio de ar.
O Mellon Collie é o auge dos Pumpkins. E, de certa forma, também o seu limite. Depois dele, nada poderia soar tão total, tão insano, tão verdadeiro. Billy Corgan chegou onde queria: fez o seu The Wall. Um disco que não é sobre perfeição, mas sobre intensidade. Sobre a necessidade humana de criar beleza dentro do caos.
Trinta anos depois, ele ainda soa como uma ferida aberta que brilha. E talvez seja esse o segredo, não fechar nunca.
















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