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Quando a música grita: mulheres que denunciaram a violência em suas canções

 E enquanto houver injustiça, haverá mulheres cantando sobre ela

Rita Lee & Zélia Duncan
Rita Lee & Zélia Duncan - Reprodução

A música sempre foi uma ferramenta de resistência. Para as mulheres, especialmente, ela se tornou um espaço de denúncia, onde histórias de dor, opressão e violência ganham voz. No Brasil e no mundo, artistas usaram suas letras não apenas como arte, mas como um grito – um alerta para algo que a sociedade insiste em silenciar. Em um país onde uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas, essas músicas não são apenas canções; são manifestos.



Aqui, revisitamos algumas das vozes femininas que transformaram dor em denúncia e fizeram da música um instrumento de luta.


“Maria da Vila Matilde” – Elza Soares (2015)

Elza Soares
(Foto: Reprodução / Twitter)

“Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”


Elza Soares sempre foi sinônimo de resistência. Em Maria da Vila Matilde, ela canta sobre uma mulher que, após anos de abuso, finalmente se levanta contra seu agressor. A letra é direta, sem metáforas: “cadê meu celular? Eu vou ligar pro 180” A música é um recado a todas as mulheres que enfrentam a violência doméstica e um lembrete de que o silêncio não pode ser uma opção.




“Agora Só Falta Você” – Rita Lee (1975)

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

“Um belo dia resolvi mudar”


Lançada nos anos 70, quando o feminismo começava a ganhar força no Brasil, essa música de Rita Lee é um hino à independência feminina. Embora não fale explicitamente sobre violência, seu tom de libertação ressoa forte em uma época em que mulheres ainda eram vistas como submissas aos homens. Rita canta sobre dar a volta por cima após um relacionamento tóxico – algo que, décadas depois, segue sendo essencial.




“Pagu” – Rita Lee & Zélia Duncan (2000)

Imagem: YouTube
Imagem: YouTube

“Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda”


Inspirada em Patrícia Galvão, a Pagu, essa música de Rita Lee e Zélia Duncan é uma aula de feminismo. Ela desmonta estereótipos sobre mulheres e critica a sociedade que as reduz a corpos e rótulos. Quando mulheres são assassinadas simplesmente por desafiar padrões de comportamento impostos, uma música como essa segue atual e necessária.





“Dona de Mim” – Iza (2018)

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

"Porque Deus me fez assim, dona de mim"


Iza representa a nova geração de vozes femininas que usam a música para empoderar. Dona de Mim fala sobre uma mulher que não aceita ser controlada, que decide seu próprio caminho. Em tempos de luta contra a cultura do assédio e da submissão feminina, a mensagem da música é clara: ninguém pode determinar o destino de uma mulher além dela mesma.



“These Boots Are Made for Walkin’” – Nancy Sinatra (1966)

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

“One of these days these boots are gonna walk all over you” (Um dia desses, essas botas vão passar por cima de você.)


Muito antes do termo empoderamento feminino entrar no vocabulário popular, Nancy Sinatra já cantava sobre uma mulher que não aceitava ser feita de trouxa. Lançada nos anos 60, a música foi interpretada como um hino feminista por mulheres que, na época, começavam a questionar seus papéis na sociedade.




“You Oughta Know” – Alanis Morissette (1995)

Foto: Divulgação/ Entertainment Weekly
Foto: Divulgação/ Entertainment Weekly

“And every time you speak her name, does she know how you told me you’d hold me until you died? Till you died, but you’re still alive” ("E toda vez que você diz o nome dela, será que ela sabe que você me disse que me abraçaria até morrer? Até morrer... mas você ainda está vivo.")


Alanis Morissette canalizou raiva e dor nesta que se tornou uma das músicas mais emblemáticas dos anos 90. Embora You Oughta Know seja muitas vezes lembrada como uma canção sobre términos, sua intensidade emocional e a forma como expõe um relacionamento abusivo a tornam uma verdadeira denúncia sobre o impacto da manipulação emocional.


É uma música sobre uma mulher que se recusa a ser silenciada – e que encontra força na própria voz.



“Til It Happens to You” – Lady Gaga (2016)

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

“Till it happens to you, you don’t know how it feels” ("Até acontecer com você, você não sabe como é.")


Lady Gaga escreveu essa música para o documentário The Hunting Ground, que expôs casos de estupro dentro de universidades americanas. A letra fala sobre a dor das vítimas de violência sexual e o peso da descrença que muitas enfrentam ao denunciar. A canção se tornou um grito para mulheres que passaram por traumas similares e precisavam ser ouvidas.



A música como resistência


Essas músicas – e muitas outras – são mais do que entretenimento. Elas são reflexos de uma realidade brutal e de uma luta que ainda está longe de acabar. Em um mundo onde muitas mulheres ainda têm medo de falar, a música continua sendo uma das vozes mais potentes para denunciar, questionar e transformar.


A cultura pop não é só escapismo; ela também é um espelho. E enquanto houver injustiça, haverá mulheres cantando sobre ela.



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