Philip Selway, baterista do Radiohead, com seu jeito introspectivo, 55 anos de idade, não parece aquele sujeito que arriscaria além das baquetas
Muitas vezes o fã sequer sabe o nome do baterista de sua banda preferida. Geralmente quem recebe mais destaque é o vocalista e/ou o guitarrista (caso de The Smiths). Talvez por ocuparem mais os holofotes quando são entrevistados ou então porque geralmente fundaram a banda. Até mesmo dentro de um grupo de peso, o baterista costuma ser aquele integrante que não recebe tanta atenção.
Philip Selway, baterista do Radiohead, com seu jeito introspectivo, 55 anos de idade, não parece aquele sujeito que arriscaria além das baquetas. Mas não. Sem largar a banda, o músico resolveu seguir por uma experiência solo que já lhe rendeu alguns álbuns: “Familial” (2010) e “Weatherhouse” (2015). Ele também é responsável pela trilha sonora do filme "Let Me Go" (2017), da diretora inglesa Polly Steele.
Chegando agora ao novo disco, "Strange Dance", Philip continua com sua musicalidade que não almeja imitar por completo sua banda. Claro que o prazer pela formação de texturas musicais, pela complexidade de alguns arranjos, a aproximação com o Jazz, o privilégio por um Pop-Rock mais intrincado e a música que pode não ser digerível na primeira audição são heranças da banda de Oxford (exemplo da contagiante ‘Picking Up Pieces’).
Entretanto, Philip é aquele cara que assimila aprendizados da música cada vez mais e é fácil perceber muitas influências de outros grupos/artistas. Badly Drawn Boy, Elbow e Ed Harcourt. Nem mesmo Blur fica de fora, tanto que a faixa ‘Strange Dance’, uma das melhores do álbum, parece ser algo que o quarteto liderado por Damon Albarn faria em sua época pós-1997.
Num disco que o importante é criar e experimentar dentro das possibilidades de estúdio, ‘Salt Air’ engloba uma eletrônica sutil e nos traz lembranças da época do Kraut-Rock.Com chiados, efeitos e uma canção que, a princípio, simula uma gravação antiga, ‘Little Things’ tem potencial sobretudo quando chega em seu instante explosivo e inesperado. A sua participação em trilhas sonoras fica visível na faixa ‘The Other Side’ cuja melodia nos remete a um momento cinematográfico.
‘What Keeps You Awake At Night’ começa tímida, com poucos instrumentos, mas em seus 7 minutos de duração muda gradativamente até chegar a um caos sonoro que funciona como uma orquestra em fúria, para novamente ficar quieta. Sim, o músico faz questão de fundir sua música ao Clássico/Orquestrado. E por vezes, esse resultado pode sair melancólico (‘There’ll Be Better Days’) ou mais efusivo e denso (‘Check For Signs Of Life’).
Philip Selway pode não ser aquele cantor poderoso, de acrobacias vocais, é até mesmo introvertido em seu jeito de cantar. Mas seu poder criativo e sua capacidade de interpretação musical, junto a arranjos lindos de se contemplar (embora não tão fáceis), o colocam como um músico que sai de seu lugar comum, a bateria, para alçar outros horizontes.
Strange Dance
Philip Selway
Lançamento: 24 de fevereiro de 2023
Gênero: Pop Rock, Jazz, Indie
Ouça: "Little Things", "The Other Side", "Check For Signs Of Life"
Humor: Denso, Hipnótico, Melancólico
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