top of page

O grito final do Nirvana: 32 anos de In Utero

Um soco no estômago antes do silêncio

Nirvana
Imagem: Reprodução

Em 21 de setembro de 1993, o Nirvana lançava In Utero, terceiro e último álbum da banda, um disco que chegava carregado pelo peso esmagador do fenômeno Nevermind. Mas, em vez de repetir a fórmula que o transformara em ícone, Kurt Cobain preferiu abrir feridas. O resultado foi uma obra crua, densa, angustiante, um refúgio onde ele despejou dores, contradições e ironias de forma tão honesta que até hoje parece mais confissão do que produto musical.



Cobain vivia acuado: fama repentina, olhares vigilantes, a mídia transformando cada gesto em espetáculo. In Utero nasce desse incômodo. Cada faixa carrega um pouco desse desespero íntimo — entre gritos, dissonâncias e melodias frágeis. É o Nirvana dizendo ao mundo que não estava interessado em ser a banda que o mainstream esperava.


Logo na abertura, “Serve the Servants” já deixa claro: não haveria Nevermind 2. O acorde inicial, barulhento e desconfortável, joga o ouvinte dentro de um terreno instável, quase hostil. A produção de Steve Albini deu ao disco uma textura agressiva, direta, como se a sala de ensaio tivesse sido prensada em vinil. Dave Grohl soa mais pesado e urgente do que nunca, a bateria martela como um coração acelerado à beira do colapso.


“Scentless Apprentice” é puro ataque: distorções sujas, bateria explosiva, Cobain gritando “Hey, go away!” — um grito de defesa contra a invasão que o sufocava. Já “Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle” expõe o humano por trás da celebridade: até um erro de acorde, mantido na gravação, vira parte da confissão. In Utero não buscava perfeição, mas verdade.


Essa verdade também aparece em “Dumb”, doce e amarga na mesma medida, e explode de forma caótica em “Tourette’s”. Mas talvez seja em “All Apologies” que o disco encontre sua síntese mais devastadora: uma melodia linda, quase resignada, sobre arrependimentos e relações conflituosas. É um epitáfio não intencional — e, por isso mesmo, ainda mais doloroso.



In Utero é o Nirvana mais humano. Mais contraditório. Mais real. Um disco que não queria agradar, mas revelar. Passados 32 anos, ainda soa como uma carta íntima escrita às pressas antes da queda.



Um adeus em forma de música.

ree

bottom of page