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O último ritual: Black Sabbath se despede em Birmingham e fecha o ciclo mais sagrado do heavy metal

O tempo não perdoa nem mesmo os deuses. Mas, quando eles caem, caem de pé — com guitarra na mão, cruz no peito e trovão nos pulmões

A formação original do Black Sabbath em 2011
A formação original do Black Sabbath em 2011 (Foto: Chelsea Lauren / WireImage)

No sábado, 5 de julho, no coração escuro de Birmingham, a cidade onde tudo começou, o Black Sabbath selou o próprio destino. Pela última vez, os quatro cavaleiros originais se reencontraram para celebrar — e encerrar — a maior história já contada dentro do heavy metal. Não foi apenas o fim de uma banda. Foi a descida da cortina de um templo. E como todo grande final, veio banhado em redenção, memória, dor e glória.



Já tinham se despedido antes, em 2017, com a turnê The End. Mas havia espinhos cravados nesse adeus: Bill Ward, baterista original, ficou de fora. Não houve fechamento de verdade — só um silêncio incômodo entre notas mal resolvidas. A banda se dissolvia em fraturas internas, feridas entre esposas, distâncias emocionais. O Sabbath terminava sem todos os seus ossos.


Mas em 2025, o destino fez o que só o tempo é capaz: cicatrizou.


No festival Back to the Beginning, todos os quatro — Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward — finalmente dividiram o mesmo palco outra vez. A formação original, como nos dias primeiros. Como no começo de tudo. E para os que entendem o valor de uma despedida justa, isso vale mais do que qualquer número ou ingresso vendido.



Ozzy, claro, não teve condições de cantar um set completo. Parkinson, quedas, o peso dos anos. Mas sua presença foi um milagre em si. Sua voz ecoou como um salmo profano. Ele esteve. E isso já era o bastante para fazer o mundo parar.


Porque o Sabbath não é uma banda qualquer. Eles inventaram o que hoje chamamos de heavy metal. Antes deles, havia barulho, havia peso, havia psicodelia. Mas não havia escuridão. Não havia aquele som que parece brotar do centro da Terra, arrastando correntes e gritos. Foi o Sabbath, com o riff de Tony Iommi, a poesia sombria de Geezer Butler, os rituais de Ozzy e as pancadas tribais de Ward, que transformou o blues em bruxaria.


Black Sabbath e convidados -
Black Sabbath e convidados - Foto: Ross Halfin

Foram 19 álbuns, dezenas de formações, milhões de cópias vendidas — mesmo quando a crítica virava a cara. E ainda assim, o mais importante não foi o que eles venderam, mas o que eles criaram. Sem Sabbath, não haveria Metallica. Nem Maiden. Nem Slayer, Pantera, Soundgarden, Ghost, Slipknot. O metal moderno inteiro rasteja do mesmo útero sombrio: Birmingham, 1969.


E Ozzy, por si só, virou uma lenda paralela. Em carreira solo, redefiniu sua persona, revelou talentos como Randy Rhoads, Zakk Wylde e Jake E. Lee, sobreviveu ao caos e à tragédia, vendeu mais discos que a própria banda original. Levou o Sabbath nas costas mesmo fora dele. E agora, encerra junto o próprio ciclo. O Madman também se despediu — e com ele, um dos maiores capítulos da história do rock.


Ozzy Osbourne e Randy Rhoads em 1982
Ozzy Osbourne e Randy Rhoads em 1982 - Foto: Paul Natkin / Getty Images

Mas o que ficou?


Ficou a discografia. O culto. Os riffs que atravessam gerações como feitiços ancestrais. Ficaram as camadas. Ronnie James Dio, Tony Martin, Ian Gillan, Cozy Powell, Vinny Appice — tantos outros nomes que se somaram à jornada e deixaram suas marcas. Ficou o aviso eterno: o Sabbath é maior que seus membros, mas foi feito do sangue de cada um deles.


O show final não foi sobre técnica. Foi sobre entrega. Sobre uma chama que se recusa a morrer. E sobre o valor simbólico de fechar um ciclo olhando nos olhos do passado. A morte do Sabbath não é fim. É fundação. É chão. É pedra angular. A última nota tocada no Back to the Beginning não soou como silêncio — soou como eternidade.





Porque ninguém enterra o Sabbath. Eles apenas retornam à escuridão de onde vieram. E continuam, para sempre, ressoando nas cavernas do som pesado.

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