Morre Dona Jacira, mãe de Emicida e Fióti, aos 60 anos
- Marcello Almeida
- há 5 dias
- 2 min de leitura
🕊️ Voz, agulha e raiz

Morreu nesta segunda-feira (28), aos 60 anos, em São Paulo, a contadora de histórias, escritora, bordadeira e enfermeira aposentada Jacira Roque de Oliveira, mãe dos músicos Emicida e Evandro Fióti. A causa da morte não foi divulgada oficialmente, mas ela enfrentava há anos complicações decorrentes do lúpus, doença autoimune que exigia sessões constantes de hemodiálise.
Conhecida pelo público como Dona Jacira, ela era uma mulher de muitas camadas — memória viva da resistência negra periférica, bordando com palavras e linhas a história de um Brasil que raramente chega aos livros.
Nascida na zona norte de São Paulo, teve uma infância marcada por dificuldades, passando por abrigos e situações de maus tratos antes de se casar aos 13 anos. Criou os quatro filhos sozinha, equilibrando jornadas de trabalho com os primeiros passos artísticos dos filhos, que mais tarde se tornariam vozes potentes da música brasileira contemporânea.
Em 2018, lançou sua autobiografia “Café”, onde misturava relatos de vida com reflexões sobre ancestralidade, saberes populares e a força das mulheres negras. Apaixonada por plantas, alimentação natural e cultura afro-brasileira, tornou-se símbolo de força, sensibilidade e oralidade ancestral.
Dona Jacira também viveu momentos de tensão pública nos últimos meses, ao tomar partido no embate judicial entre os filhos. Em abril deste ano, publicou um texto apoiando Fióti, que disputa com Emicida a gestão e os rumos da Lab Fantasma, empresa criada por ambos em 2009. O episódio dividiu os fãs e expôs feridas familiares, com acusações bilionárias de lado a lado.
Apesar disso, o legado de Dona Jacira transcende os conflitos. Ela se tornou uma referência de sabedoria e autenticidade, uma mulher que ensinou, com poesia e firmeza, que lugar de mãe é também lugar de voz, de escrita, de cuidado e de mundo.
Nos últimos tempos, sua figura foi constantemente celebrada pelos seguidores dos filhos, que a viam como um elo espiritual da família, uma mulher que traduzia em cada gesto o peso e a beleza de uma vida vivida com intensidade e dignidade.
Ela partiu, mas ficam suas palavras, sua história e sua luz bordada em nós.
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