Morre Claudia Cardinale, lenda do cinema europeu, aos 87 anos
- Marcello Almeida
- há 1 dia
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Atriz marcou gerações com beleza feroz, voz rouca e atuações inesquecíveis em clássicos de Fellini, Visconti, Leone e Herzog

A atriz Claudia Cardinale, um dos grandes nomes do cinema europeu, faleceu nesta terça-feira (23), aos 87 anos, em Paris. A notícia foi confirmada à AFP por seu agente, Laurent Savry, que informou que ela partiu em casa, “na presença de seus filhos”.
“Ela nos deixa o legado de uma mulher livre e inspirada, tanto como mulher quanto como artista”, declarou o agente.
Nascida em Túnis, em 1938, filha de pais sicilianos, Cardinale construiu uma das trajetórias mais impressionantes do cinema. Trabalhou em obras-primas como Oito e Meio (1963), de Federico Fellini, O Leopardo (1963), de Luchino Visconti, A Pantera Cor-de-Rosa (1963), de Blake Edwards, Era uma Vez no Oeste (1968), de Sergio Leone, e Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog.
Durante os anos 1960, sua imagem estampou mais de 700 capas de revistas ao redor do mundo. Sua presença foi tão marcante que, em 1966, apareceu no mosaico de fotos do álbum Blonde on Blonde, de Bob Dylan — imagem que se tornaria item raro de colecionador após desaparecer da segunda edição do disco.
Cardinale também manteve laços com o Brasil. Gravou em favelas do Rio de Janeiro em 1967 (Uma Rosa para Todos, de Franco Rossi) e, nos anos 1980, esteve na Amazônia para filmar Fitzcarraldo. Em 2012, lançou O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira, durante a Mostra de Cinema de São Paulo.
Apesar da carreira de conto de fadas, sua vida pessoal foi marcada por dores profundas. Vítima de um estupro na adolescência por um produtor, engravidou e decidiu criar sozinha seu filho Patrick. “Fiz isso por ele, por Patrick, o filho que eu queria manter, apesar das circunstâncias e do enorme escândalo”, disse ao jornal Le Monde em 2017.
Em entrevistas mais recentes, Claudia também refletiu sobre envelhecimento e a pressão estética na indústria. Ao GLOBO, em 2012, afirmou:
“Estar atuando é fantástico porque, geralmente, quando a mulher envelhece na indústria do cinema, ela não recebe mais tantos papéis. (…) Eu não faço lifting porque de outra forma você olha para si mesma no espelho e não se reconhece mais.”
Com sua beleza feroz e voz rouca inconfundível, Claudia Cardinale não só cativou os maiores cineastas italianos, como também dividiu a tela com gigantes como Burt Lancaster, Alain Delon e Henry Fonda. Hoje, sua partida encerra um capítulo luminoso da história do cinema mundial — mas seu legado continua a ecoar nas telas e na memória afetiva de gerações.
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