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L7: O barulho incômodo que nunca se calou



8 de março

L7
Foto: Marina Chavez/Divulgação

No final dos anos 80, quando o rock ainda tentava digerir os últimos resquícios do hair metal e o grunge começava a ferver no underground, quatro mulheres de Los Angeles decidiram fazer barulho. Mas não qualquer barulho. O L7 não queria apenas distorção, sujeira e peso – isso qualquer banda de garagem podia ter. Elas queriam incomodar. E incomodaram.


O rock sempre gostou de se gabar de sua rebeldia, mas na prática, as mulheres que ousavam pegar uma guitarra eram tratadas como intrusas. O punk havia aberto algumas portas nos anos 70, mas a indústria ainda mantinha as mulheres em um espaço limitado, como musas ou exceções. Foi nesse contexto que surgiu o movimento Riot Grrrl, um grito feminista que explodiu nos anos 90 e colocou bandas como Bikini Kill e Bratmobile na linha de frente. Mas o L7, formado em 1985, já estava jogando esse jogo antes mesmo do termo “Riot Grrrl” ser cunhado.


Donita Sparks, Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas não pediam licença. Misturando punk, metal e grunge, o L7 fez da raiva uma forma de arte. Suas letras falavam de política, sexo, desigualdade e frustração, sem filtros ou pedidos de desculpa. E, acima de tudo, elas carregavam um espírito de provocação que ia além da música.


A fúria em forma de música


O disco Bricks Are Heavy (1992) foi o grande momento do L7. Produzido por Butch Vig (o mesmo de Nevermind, do Nirvana), o álbum trouxe Pretend We’re Dead, um hino sarcástico sobre alienação, que se tornou um hit inesperado da MTV. Mas o L7 nunca foi uma banda de um hit só. Shitlist virou trilha sonora de Assassinos por Natureza (1994) e Andres mostrou que a banda continuava afiada em Hungry for Stink (1994).


Mas o que diferenciava o L7 de tantas outras bandas da época era a atitude. Durante um show no Reading Festival de 1992, Donita Sparks, irritada com o comportamento do público, simplesmente tirou o absorvente interno e jogou na plateia. Não era um momento de choque gratuito – era um ato de guerra contra um ambiente que sempre fez questão de deslegitimar mulheres no rock.



O impacto e o legado

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Com o passar dos anos 90, o L7 sentiu o peso da indústria. O mercado que abraçou o grunge também começou a descartá-lo, e o machismo estrutural nunca deixou de ser uma barreira. Em 2001, a banda entrou em hiato. Mas o tempo fez justiça: nos anos 2010, uma nova onda de reconhecimento trouxe o L7 de volta. Em 2015, elas se reuniram e começaram a tocar novamente, lançando o disco Scatter the Rats (2019).


Hoje, o legado do L7 ressoa em bandas que carregam a tocha da fúria feminina no rock, como The Linda Lindas, Amyl and The Sniffers e mesmo no punk feminista de artistas como Pussy Riot. Mas mais do que isso, o L7 provou que o rock não precisa de validação masculina para existir. Elas não esperaram espaço. Elas tomaram.


E continuam tomando.

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